Sonhos é um filme muito único na carreira de Akira Kurosawa e também muito único na história do cinema em geral.

Dirigido em 1990,  é o primeiro filme de Kurosawa em 45 anos em que ele foi o único roteirista; isso se deve a uma característica muito própia desta obra: ela é baseada em sonhos reais que Akira Kurosawa afirmou ter tido repetidamente ao longo da sua vida.

Como sabemos, os sonhos estão intimamente ligados a vida inconsciente de uma pessoa. Eles expressam aquilo que, muitas vezes, nem o próprio sonhador consegue de imediato decifrar.

Com isso, podemos dizer que esse filme inaugura uma nova subcategoria de cinema autobiográfico: a autobiografia onírica, ou a autobiografia inconsciente.

É bom ter isso em mente pois tudo o que for falado aqui (ou em qualquer outro lugar) em termos de interpretação pode ser colocado em suspeição, já que os sonhos, como sabemos, são imersões muito subjetivas e particulares.

No entanto, nada nos impede de tentar especular sobre o que está por trás das imagens, dos textos apresentados e dos temas centrais de cada sonho.

Sonhos de Akira Kurosawa aborda temas como infância, espiritualidade, arte, morte e até mesmo meio-ambiente.

O filme não tem uma narrativa única, mas episódica, seguindo as aventuras de um sonhador (que podemos interpretar sendo o próprio Kurosawa) através de oito histórias diferentes, ou “sonhos”.

Os sonhos da infância

Cuidadosamente Akira Kurosawa colocou nos dois primeiros episódios deste filme (Um raio de sol através da chuva e O jardim das pessegueiras) uma criança como protagonista.

Estes dois sonhos iniciais podem representar fases distintas da infância de Akira Kurosawa.

O primeiro sonho pode representar o seu primeiro contato com a maturidade e o segundo o seu primeiro contato com a morte.

Estes temas não estão explícitos nas narrativas, aliás, os sonhos não costumam ser explícitos. A bem da verdade, é provável que estes temas nem estejam explícitos para o próprio Akira Kurosawa.

No entanto, coletando algumas informações biográficas, depoimentos do próprio direitor, informações de estudos de interpretação dos sonhos e uma avaliação do contexto cultural e religioso em que Akira Kurosawa cresceu, podemos fazer um saudável exercício de especulação de significados.

Sonho 1: Um raio de sol através da chuva

No primeiro sonho temos um garoto que observa a chuva do portão da sua casa.

Sua mãe pede para ele entrar pois, em dias como aquele, onde chuva e sol se combinam, as raposas (kitsunes) fazem sua procissão matrimonial e não querem ser testemunhadas.

Desobediente e curioso, o garoto corre para a bosque e se esconde atrás de uma árvore para ver essa procissão.

Nesse bosque, o garoto vê surgir uma misteriosa bruma e assiste a procissão das raposas – que ele não deveria ver.

Elas andam a passos lentos, sempre olhando para ver se flagram algum curioso.

Em certo momento, o garoto é descoberto pelas raposas e foge.

Cabe aqui pontuar uma curiosidade: os bosques e florestas nos mitos, fábulas e contos de fadas, são sempre associados a perigo. São lugares escuros, cheio de animais selvagens e longe do conforto do lar. Geralmente eles apresentam um tema subliminar que tem a ver com a exploração do desconhecido.

Podemos já notar que o garoto não se encontra onde deveria estar.

 

Momento em que o garoto é descoberto pelas raposas
Momento em que o garoto é descoberto pelas raposas

Quando ele tenta voltar para casa, sua mãe diz que uma raposa raivosa tinha vindo antes e deixado para ele uma adaga. Ela diz ao filho que ele deveria suicidar-se pois as raposas estão bravas com ele.

O garoto então pergunta para mãe o que ele deveria fazer e ela sugere que ele vá até o fim do arco-íris, ache as raposas e peça desculpas; no entanto, ela alerta que elas não costumam perdoar.

Então, o garoto sai a caminho do arco-íris para cumprir sua missão.

O interessante é que a história termina e não sabemos o desfecho dela. No entanto, isso não importa muito. O que importa aqui é como o conjunto dos cenários e das situações comunicam o seu sentido.

Vou dar algumas impressões muito particulares sobre esse primeiro episódio.

Este foi o meu primeiro contato com Akira Kurosawa na vida, antes mesmo de saber quem era o Akira Kurosawa.

Eu era bem jovem e este filme estava passando na televisão de madrugada.

O silêncio, combinado as imagens e as distorções de uma TV má sintonizada, acentuaram pra mim o clima onírico e causaram em mim uma estranha sensação de terror e maravilhamento.

Cena final de “Um raio de sol através da chuva”, quando o garoto sai em busca das raposas no final do arco-íris para buscar o seu perdão.

O maravilhamento que eu senti se deve aos cenários de sugestão celestial: colinas, florestas, arco-iris, bosques floridos e uma belíssima procissão de pessoas fantasiadas de raposas.

O terror se deve a história e as suas sugestões que envolviam morte e suicídio (de uma criança!).

É nessa ambiguidade que percebi que “Um raio de sol através da chuva” estava instintivamente me comunicando as instâncias do sagrado.

Mais tarde eu fui entender que a curiosidade do garoto é uma curiosidade profanadora pois, em um só tempo, atropela e desrespeita as regras dogmáticas (a procissão das raposas deve ser um segredo dogmático) e a autoridade natural da mãe.

Esse desrespeito escandaliza a ordem  e exige a morte como pagamento, ou uma expiação dos pecados.

De modo não intencional (acredito eu), essa pequena história condensou uma percepção religiosa quase universal: nosso impulso em conhecer aquilo que não deveríamos nunca nos levou para bons caminhos.

Testemunhar a procissão das raposas encontra uma certa equivalência em comer o fruto do conhecimento no Éden.

Além do aspecto da representação do sagrado, podemos tirar desse sonho outras interpretações relacionadas ao contexto do “proibido”, levando em conta os aspectos culturais específicos do Japão, com o suporte de teorias de interpretações de símbolos e sonhos da psicologia jungiana e freudiana.

Vamos começar analisando o contexto folclórico: as raposas (kitsunes) possuem uma dimensão simbólica sexual: elas estão relacionadas a fertilidade, a sedução e a libido.

Vemos aqui que a libidinosidade da kitsune se relaciona com o garoto num aspecto hostil. Percebam a relação entre acasalamento e morte que o sonho faz.

Mais universal que a relação de pulsão de vida (eros)pulsão de morte (tanatos), é a imagem universal do garoto que se esgueira para espiar algo que sua mãe proibiu.

A ideia do segredo que é ao mesmo tempo proibido e magnético revela muita coisa no contexto da pré-maturidade sexual masculina.

A descoberta da sexualidade possui elementos análogos ao que o garoto está presenciando na floresta, algo que combina curiosidade, terror e maravilhamento.

Ao voltar para casa, o garoto já não era inocente e sua mãe o impede de entrar. Ele não poderia mais voltar para o conforto do lar, que podemos interpretar como a pureza da infância.

A adaga que ela entrega ao filho, o infame presente da raposa, podemos interpretar como o fardo da maturidade.

Ele deveria, então, vagar para longe da sua casa, com a adaga em punho, em direção ao arco-iris e tentar resolver seus problemas sozinho.

Aqui temos simbolizado o fim da proteção materna e o início da atividade aventuresca do jovem maduro.

O sonho se encerra e não sabemos se ele conseguiu ou não encontrar as raposas – no entanto, essa indeterminação complementa o significado da maturidade. O garoto já não é mais uma criança – ele não pode se refugiar no conforto materno. Ele já é maduro e deve buscar sozinho a resolução dos seus conflitos.

Em suma, “Um raio de sol através da chuva” também pode ser visto como um sonho sobre o fim da inocência.

Apesar de ter um elemento terrível, não há aqui uma nostalgia pueril da infância por parte do diretor.

A última imagem do sonho, do campo florido, pode representar que, apesar dos perigos e incertezas dessa nova aventura, existe um jardim de inenarrável beleza se abrindo para o garoto.

Sonho 2: O jardim das pessegueiras

O segundo sonho é tão maravilhoso quanto o primeiro.

Aqui novamente temos um garoto como protagonista do sonho.

Estamos no Hinamatsuri, ou o Festival de Bonecas (também conhecido como Festival das Meninas), que ocorre tradicionalmente na primavera (que no Japão é em meados de Março) quando as flores dos pessegueiros estão totalmente abertas.

Nesta época, é comum que cada família monte seu altar de bonecas, consideradas o símbolo da celebração.

A prática iniciou-se no período Edo como forma de atrair saúde e boa fortuna às famílias.

Com a aproximação do mês de março, é comum ver nas casas japonesas uma plataforma que pode ter de um até sete andares, forrada com um pano vermelho.

Esse altar abriga bonecas que representam a corte imperial japonesa no período Heian (794 – 1185).

As peças essenciais são as duas bonecas no topo, que representam o casal imperial, com o imperador à esquerda da imperatriz, ambos vestidos com kimonos.

Dizem que as bonecas que são exibidas nessa época simbolizam os espíritos dos pessegueiros e suas flores rosas.

No sonho, o garoto entra na sala onde as bonecas estão expostas e vê sua irmã brincando com suas amigas.

Uma presença estranha entra na casa e o garoto percebe. Trata-se de uma garota que ele não conhece e que também não faz parte do grupo de amigas da sua irmã.

Essa garota sai pela porta da frente e ele vai atrás dela.

Ele a segue até o jardim de sua casa, onde as bonecas da coleção de sua irmã ganharam vida e estão paradas em frente a ele nos declives do jardim – um morro terraceado.

O garoto, tenta subir no morro, mas é barrado por um dos kamis – uma espécie de guarda palaciano.

Este guarda faz uma reprimenda coletiva severa contra o garoto, dizendo que sua família cortou todos os pessegueiros do pomar e que os espíritos das árvores desaparecidas choram de sofrimento.

O garoto então desata a chorar, mas o Imperador o reprime dizendo que não adiantava nada.

Ele é interrompido pela Imperatriz, que pede para ele parar de culpá-lo, pois o menino também chorou quando a sua família cortou as árvores, inclusive tentando impedi-los.

O chefe do grupo zomba dele – dizendo que ele só amava os pessegueiros por causa dos seus frutos.

Então o garoto grita, indignado:

Não!

Pêssegos podem ser comprados, mas onde comprar todo um pomar em flor?

Eu amava este pomar e os pessegueiros que aqui floresciam.

Mas eles não estão mais aqui.

Por isso eu choro.

Diante deste discurso, os kamis se calam e se voltam ao líder.

Ele, comovido, dá seu veredito:

Muito bem. Nós entendemos. Ele é um bom menino. Devemos permitir que ele veja mais uma vez florido nosso pomar de pessegueiros?

Os kamis então fazem o bugaku, um conjunto de danças tradicionais da corte imperial.

O jovem sonhador vedo as danças das bonecas
O jovem sonhador vedo as danças das bonecas

Ao final do bugaku vê-se uma chuva de pétalas rosas e o pomar de pessegueiros é restaurado miraculosamente.

A menina misteriosa que ele estava perseguindo reaparece, correndo entre as pequenas árvores.

No entanto, a felicidade do garoto dura pouco. A garota some e os pessegueiros voltam a aparecer todos podados, com a exceção de um.

O jovem sonhador olhando o jardim desolado, sem as pessegueiras
O jovem sonhador olhando o jardim desolado, sem as pessegueiras

O ultimo frame deste sonho é congelado na feição triste do garoto, o que torna esse episódio ao mesmo tempo belo e melancólico.

Esse filme foi uma pista deixada pelo próprio Akira Kurosawa para sinalizar uma tragédia familiar pessoal – o falecimento de sua irmã, Chi-ne-chan.

Na sua autobiografia, Akira Kurosawa revelou que brincava muito com sua irmã no Hinamatsuri.

Infelizmente, sua irmã subitamente adoeceu e morreu aos seis anos de idade.

Ao falecer, ela adquiriu o seguinte nome budista: To Rin Tei Ko Shin Nyo, que significa “Mulher da Sinceridade do Raio de Sol que brilha sobre o Pomar de Pessegueiros”.

A junção destes elementos, tal como um ideograma, expressam a totalidade do significado deste episódio: vida e morte.

O Hinamatsuri e as bonecas simbolizam a vida da sua irmã, os Pêssegos a morte. Ambas coisas se misturam no inconsciente do diretor, tal como acontece na dinâmica de qualquer sonho.

Assim como no primeiro sonho, o Jardim dos Pessegueiras revela as memórias solidificadas do diretor desde a infância. Os temas da inocência e da morte perseguindo o diretor até os dias de sua velhice.

Sonho 3: A tempestade

Aqui somos apresentados a um grupo de alpinistas que estão tentando chegar no seu acampamento. Eles estão enfrentando uma nevasca horrível e já não tem mais certeza do caminho que estão percorrendo. Cansados e desesperançosos, eles começam a desistir da jornada e cair no sono.

Seus corpos, aos poucos, são cobertos pela neve.

De repente, uma estranha mulher aparece e aborda o líder da expedição.

Com palavras doces e tom de conforto, ela tenta atraí-lo para a morte, dizendo que a neve e o gelo são quentes e confortáveis e que ele deveria permitir que ela o cubrisse com eles.

No entanto, o sonhador resiste a beleza e o conforto sugerido pela estranha mulher e começa a lutar para se levantar e seguir seu caminho.

Conforme ele vai lutando contra as sugestões melífluas da entidade, ela vai se tornando cada vez mais agressiva e demoniaca (ou seja, revelando sua verdadeira identidade).

A entidade feminina revelando sua feição mais diabólica
A entidade feminina revelando sua feição mais diabólica

Desistindo, ela desaparece em meio aos fortes ventos e, no mesmo instante, a nevasca cessa.

Então o homem, vendo que tudo passou, consegue se levantar e resgatar todos os outros alpinistas que quase morreram na neve junto com ele.

Ao olhar mais à frente de onde estão, eles avistam uma pequena bandeira vermelha que indica que conseguiram chegar no seu destino.

As cores e o seu significado

Podemos especular os significados deste sonho seguindo as pistas que as cores nos dão.

É interessante notar neste sonho uma predominância do matiz branco-azulado, uma referência evidente ao frio, à neve e a tonalidade cinanótica adquirida por um corpo em estado de hipotermia.

No entanto, o significado é ainda mais abrangente.

Na cultura japonesa o branco está relacionado a morte.

A bandeira vermelha no final é a única tonalidade quente que aparece em todo o curta.

Na cultura japonesa, o vermelho é a cor que se opõe ao branco – ou seja, é a cor que assinala a vida.

A bandeira vermelha no final sinaliza a vida que cintila no meio da morte. O sinal de esperança que, mesmo tímido, aparece visível como recompensa dos esforços do protagonista em não se deixar levar pela sedução da morte.  Recompensa essa que deve ser perseguida.

Yuki-Onna: entidade do folclore japonês
Yuki-Onna: entidade do folclore japonês

Yuki-Onna

O significado deste terceiro sonho parece ser mais explícito do que os dois anteriores. No entanto, isso não significa que sua chave de interpretação se encerra numa conclusão simplória de esperança. Existem muitas camadas simbólicas que podem ser analisadas em conjunto, como, por exemplo, a misteriosa mulher que aparece no sonho.

Pela aparênca, a mulher estranha que aborda o líder da expedição seria um yokai (um demônio) chamado Yuki-Onna.

Segundo o folclore japonês em algumas regiões,  a Yuki-Onna canta para seduzir os homens, fazendo-os se perder nas nevascas e morrerem congelados.

Frequentemente elas aparecem na forma de mulheres belas e jovens. Elas normalmente possuem cabelos longos e vestes brancas que simbolizam a morte (a cor funerária na cultura japonesa).

Existem várias correspondências mitológicas ao redor do mundo que associa belas mulheres a sedução e morte. Curiosamente todas elas possuem o elemento da água como parte constitutiva do seu mito (no caso da Yuki-Onna, a neve, a água em estado sólido).

A água é uma constante nos mitos que falam do mal cenobítico da mulher, a idéia de algo úmido que atrai os homens e que os envolve até a morte. Temos, por exemplo, as sereias da mitologia grega, a Lorelei da mitologia alemã e a Iara do folclore brasileiro.

Para entender essa relação intrínseca do feminino, da água e da morte devemos ter em mente que, em praticamente todas as culturas, foram os homens os grandes contadores de histórias.

Bem como disse Camile Paglia, para o homem, o corpo feminino é uma máquina ctônica misteriosa, indiferente ao espírito que habita. Ela é uma metáfora da natureza em si, do fato biológico que humilha a percepção do indivíduo.

A mulher grávida, uma das imagens mais bonitas da natureza, é um lugar onde duas (ou mais) vidas disputam o mesmo espaço.

No entanto, a natureza deu aos seres a vontade de autonomia, de existência própria, de invidualidade e de espaço.

Todo nascimento opera numa dinâmica ambígua. Ele parte da mãe e é, de certa forma, uma fuga da mãe – uma fuga do feminino (isso serve para homens e mulheres).

Fugimos do reservatório aquoso e confortável do útero em direção a luz do mundo externo, onde a individualidade começará a se desenvolver e onde podemos afirmar nossa autonomia diante da existência. Onde a vida, em si, se plenifica.

Desta noção bio-simbólica da fuga do feminino (e do aquoso) que nasceu os mitos das sereias e também da Yuki-Onna. Não é aletório que as figuras que representam a morte sejam sempre atraentes, brandas e melódicas, como Yuki-Onna. Só uma mulher bela pode nos cobrir com gelo e nos convencer de que o gelo é quente.

Yuki-Onna tentando convencer o líder da expedição que o "gelo é quente"
Yuki-Onna tentando convencer o líder da expedição que o “gelo é quente”

Numa análise mircea-eliadeana mais abrangente. Resistir ao encantos da Yuki-Onna, tal como faz o protagonista deste sonho, é também resistir ao demônio da morte que se esconde na figura feminina.

Sonho 4: O túnel

Neste sonho, um oficial do exército japonês viaja a pé, sozinho, e se depara com um túnel a sua frente.

Prestes a entrar nesse túnel, um cão antitanque raivoso o recepciona com latidos ameaçadores. Temendo ser mordido,  ele segue seu caminho para dentro do túnel.

Cão que obriga o sonhador a entrar no túnel
Cão que obriga o sonhador a entrar no túnel

Ao chegar do outro lado, ele ouve alguém seguindo-o pelo mesmo caminho. Trata-se de um yueri (um fantasma) de um dos soldados que ele tinha comandado na guerra. O soldado parece não acreditar que está morto, mas o oficial o convence da sua situação e o manda para a escuridão do túnel.

Fantasma do soldado morto que persegue o sonhador
Fantasma do soldado morto que persegue o sonhador

Quando o comandante pensa ter visto o pior, o terceiro pelotão que esteve sob seu comando marcha para fora do túnel, em sua direção. Da mesma forma, ele tenta contar-lhes que estão mortos e expressa seu profundo sentimento de culpa por deixá-los morrer na guerra.

Poderíamos ver com bons olhos esse mea culpa catártico do comandante, mas do ponto de vista japonês essa demonstração explícita de emoções é considerada um comportamento vulgar e grosseiro. É só quando o comandante assume seu lugar na hierarquia e, com voz de comando, ordena o pelotão fantasma volver para o túnel de onde saíram, é que eles obedecem.

Pelotão fantasma
Pelotão fantasma

Momentos depois, há uma segunda aparição do cachorro raivoso que o recepcionou na entrada do túnel, obrigando o homem continuar seu caminho.

Para decifrar esse sonho podemos fazer alguns paralelos mitológicos.

O cão antitanque pode ser relacionado ao Cérbero, o monstruoso cão que fica do outro lado das margens do rio que leva ao Hades, o mundo dos mortos da mitologia grega. A função do Cérbero era impedir que os mortos fugissem e os vivos entrassem no Hades.

Cérbero, de William Blake
Cérbero, de William Blake

Essa ligação entre cães e morte não é apenas grega, mas também presente em outras tradições religiosas. Vemos essa mesma associação nas mitologias egípicias, indianas e siberianas.

O papel dos cães, além da guarda, é a de psicopompo. Ele protege, persegue e também indica o caminho dos mortos.

Desde que foram domesticados, os cães são usados tanto para proteger uma propriedade quanto para guiar os outros animais no pastoreiro. Essa função dota eles de um simbólico papel no controle do limite fronteiriço entre dois mundos, o dentro e o fora, o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Isso significa que eles possuem a incombência cósmica de regular o fluxos de entradas e saídas entre dois universos.

No sonho de Kurosawa, é um cão que  força o sonhador a entrar no túnel que, supostamente, seria o limiar ente o mundo dos vivos e dos mortos. Ele também aparece no final do sonho, impedindo que o mesmo volte.

Podemos interpretar que o general é o único sobrevivente. No começo do filme ele está do lado dos mortos e caminhando para o lado dos vivos. Seus soldados, no entanto, querem seguir o mesmo caminho, mas são obrigados a voltar pois estão, de fato, mortos.

O quarto sonho pode ser entendido como um de pesadelo sobre culpa, sobrevivência solitária e aceitação da morte.

Sonho  5: Corvos

Este sonho se diferencia um pouco dos demais por não parecer um sonho em si, mas uma homenagem devaneada de um artista para outro. No caso, estamos falando de Akira Kurosawa com o pintor Vincent van Gogh.

Aliás, podemos ir além disso. Podemos entender neste sonho como um artista usa o outro para se entender.

Aqui temos um sonhador no papel de um estudante de artes que, ao se deparar com uma obra de van Gogh numa exposição, descobre-se dentro do vibrante e caótico mundo dos trabalhos do artista.

Ele é absorvido para dentro de seus quadros e, imerso nesse universo de cores e pinceladas vultosas e agressivas, tenta buscar o artista nas obras – perseguindo-o em seus diversos trabalhos, até se deparar com a pintura Campo de Trigos com Corvos (1890) .

Esta obra é uma das mais emblemáticas do artista.

Campo de Trigos com Corvos de Vincent van Gogh sendo representado no filme Sonhos, de Akira Kurosawa
Campo de Trigos com Corvos de Vincent van Gogh sendo representado no filme Sonhos, de Akira Kurosawa

 

Campo de Trigos com Corvos de Vincent van Gog
Campo de Trigos com Corvos de Vincent van Gog

Van Gogh escreveu sobre a obra em uma carta para o seu irmão Theo e sua cunhada Johanna, dizendo que, com essa obra, ele tinha “o objetivo de tentar expressar tristeza e solidão extrema”.

Existe uma interpretação sobre os elementos da obra se referirem ao fim da vida se aproximando e até fazerem sugestões suicídas.

Os corvos, pelos seus hábitos necrofágicos, são culturalmente associados a morte.

Os campos de trigos, segundo a estudiosa de van Gogh Kathleen Powers Erickson em seu livro At Eternitys Gate The Spiritual Vision Of Vincen, eram um símbolo de esperança.

Considerando estas duas informações e juntando num ideograma, vemos que corvos sobrevoando-os campos de trigos sintetizam a ideia de suicídio. A esperança que o fim da tristeza e do sofrimento se encontra na morte.

O suicídio é um tema de considerável impacto para Akira Kurosawa.

O mesmo já tentou se matar em 22 de dezembro de 197, quando viu que seu filme “Dodes’ka-den” se tornar um dos seus maiores fracassos.

Este não é o primeiro contato que Kurosawa tem com o tema.

Em 10 de julho de 1933, quando Akira Kurosawa tinha 23 anos, seu irmão Heigo Kurosawa se suicida.

As causas são multiplas, a começar pelo seu fracasso como “líder grevista” e as dificuldades financeiras que enfrentava.

Akira Kurosawa com seu irmão, Heigo Kurosawa
Akira Kurosawa com seu irmão, Heigo Kurosawa

Heigo Kurosawa tornou-se um homem bem-sucedido por causa de um movimento distintamente japonês: o dos dubladores de filmes mudos, os katsuben.

A presença dos katsuben nas sessões de cinema no Japão era essencial, porque eram eles que faziam a ponte entre os filmes e as plateias mais tradicionais, acostumadas com o kabuki e o teatro com bonecos bunraku. Os dubladores populares eram tratados como estrelas de cinema e faziam turnês pelo país, a sua performance muitas vezes eclipsava o próprio filme.

Heigo era narrador-chefe de um cinema importante em Tóquio até que surgiram os filmes falados, que destruíram sua carreira.

Martin Scorsese no papel de Vicent van Gogh
Martin Scorsese no papel de Vicent van Gogh

Existe outro ponto significativo neste episódio do filme. O ator que faz Vincent van Gogh é o diretor Martin Scorcese.

Scorsese, assim como Akira Kurosawa, teve seus momentos trágicos por volta do ano de 1977 por conta do lançamento do filme New York, New York, que teve uma péssima recepção do público.

O diretor, que um ano atrás foi considerado gênio pelo lançamento de Taxi Driver, estava de volta a um patamar queconsiderava medíocre (apesar de New York, New York estar longe de ser um filme ruim). Scorcese mergulhou na depressão, nas ideações suicídas e no vício da cocaína.  No entanto, toda essa energia auto-destrutiva foi sendo artisticamente canalizada no filme Raging Bull, sucesso de público e crítica que o salvou da morte.

Em suma, Vicent van Gogh, Akira Kurosawa, Heigo Kurosawa e Martin Scorsese conhecem bem a convergência entre falência econômica, tristeza, suicídio e arte – entendem como corvos conseguem sobrevoar um campo de trigos e até invadi-los no horizonte.

Corvos é sobre a angústia do artista, que tenta ver no outro um espelho de si mesmo. A busca do sonhador por Vincent van Gogh é, na verdade, a busca por si mesmo.

O Monte Fuji em Chamas de Akira Kurosawa
O Monte Fuji em Chamas de Akira Kurosawa

Sonho 6: Monte Fuji em Chamas

Uma grande usina de energia nuclear próxima ao Monte Fuji começa a explodir, pintando o céu com um vermelho horrível e compelindo milhões de cidadãos japoneses a escapar desesperadamente pelo oceano.

Três adultos e duas crianças são deixados para trás no local, mas logo percebem que a radiação os matará de qualquer forma. Um deles revela ser em parte responsável pelo ocorrido, e diz que “coloriu” as fumaças radioativas para distingui-las uma das outras. Logo depois, joga-se do penhasco por se sentir responsável pelas vidas perdidas.

Desastes e pânico social

Como os sonhos normalmente se relacionam a vida desperta, devemos mais uma vez buscar na biografia de Akira Kurosawa uma experiência semelhante para tentar decifrá-lo.

Akira Kurosawa vivenciou uma experiência aterrorizante semelhante em 1 de setembro de 1923: o Grande Terremoto Kantô, que destruiu a cidade portuária de Yokohoma e as prefeituras vizinhas de Chiba, Kanagawa, Shizuoka e Toquio, vitimizado mais de 100 mil pessoas e deixando outras 30 mil desaparecidas.

Além do fato em si, o cineasta descobriu que estes desastres naturais poderiam despertar o pior nas pessoas.

Destruição em Yokohama
Destruição em Yokohama

O caos e pânico criado pelo terremoto levantou rumores de que coreanos residentes no Japão estavam cometendo saques e incêndios premeditados, se aproveitando da situação e se ancorando num ressentimento histórico.

Akira Kurosawa, então com 13 anos, afirmou que o massacre de residentes coreanos em Tóquio após o terremoto foi “provocado por demagogos que habilmente exploraram o medo das pessoas”.

A Grande Onda de Kanagawa. Ao fundo, o Monte Fuji.
A Grande Onda de Kanagawa. Ao fundo, o Monte Fuji.

O simbolismo sagrado do Monte Fuji

O Monte Fuji, é preciso esclarecer, é de suma importância na vida dos japoneses. Muito mais do que um cartão postal elegante, ele tem um significado sagrado para os xintoístas.

Ele é mencionado no Kojiki (texto sagrado do xintoísmo) e está relacionado a bela Konohanasakuya-hime, a princesa da floração, filha do deus da montanha Oyamatsumi-no-kami.

Os xintoístas acreditam que o espírito desta princesa mora no Fuji, e escalar a montanha é considerado uma perenigrnação. Existem diversos santuários dedicados a ela no sopé do vulcão.

A sua beleza natural também foi desde sempre temas de poesias, quadros, estampas e fotografias.

O poder atômico e a dessacralização do Japão

A questão das usinas atômicas é um tópico delicado para o Japão.

Existem dois eventos traumáticos no Japão que estão relacionados ao poder nuclear. O primeiro, é o ataque americano durante a Segunda Guerra Mundial em Hiroshima e Nagazaki. O segundo, o acidente nuclear de Fukushima de 2011.

Akira Kurosawa, enquanto estava fazendo o filme Sonhos (1990), ainda não tinha vivenciado o segundo evento, mas já tinha noção do poder destrutivo desta energia.

Aliás, todo japonês internalizou o poder nuclear e sintetizou todo seus maus presságios em obras de ficção-científica: de Godzilla até Akira.

No entanto, o país vive uma situação ambígua com essa força.

O país é pequeno e está numa área de poucos recursos naturais disponíveis. As matérias-primas que alimentam sua poderosa indústria tecnológica (veículos, telecomunicações, biotecnologia e eletrônica) são todas importadas. As suas necessidades de energia elétrica são supridas por hidroelétricas, petróleo (importado, pois o carvão japonês é de má qualidade) e outras fontes. O resultado é que boa parte da energia do país depende de usinas nucleares.

A adoção da enrgia atômica e nuclear é um mal necessário para o Japão ser minimamente competitivo e próspero no jogo geopolítico e econômico internacional.

Essa é exatamente a crítica que Akira Kurosawa faz aqui, o que vai ficar mais evidente no sonho “O Vilarejo dos Moinhos”.

O Japão, para Kurosawa, deveria voltar a viver em harmonia com a natureza, ser mais simples, rural e renunciar a modernidade se necessário. A harmonia com a natureza, no pensamento japonês, se reafirma em um pensamento místico e religioso.

O sexto sonho é mais do que um pesadelo que reflete o medo de Akira Kurosawa com a tecnologia nuclear e a loucura do pânico social, mas um manifesto crítico contra um Japão dessacralizado pelo materialismo (simbolizado pelo Monte Fuji em chamas).

Sonho 7: O demônio que chora

Este episódio parece ser uma continuação temática do anterior.

No começo deste sonho, vemos um homem (o sonhador) passeando por um terreno montanhoso e brumal até que encontra em seu caminho uma criatura curvada e com um chifre no topo da cabeça.

A primeira vista ele pensa ser um oni (demônio), mas descobre que, na verdade, é um ser humano.

O demônio que chora - Akira Kurosawa
O demônio que chora – Akira Kurosawa

O “demônio” explica que sua aparência é um resultado de mutações decorrentes de holocaustos nucleares provocados pelo homem. Ele também explica que não apenas sua aparência foi modificada, mas a de plantas e animais também.

A “criatura” então resolve mostrar ao viajante um terreno com enormes dentes-de-leão e um vale com outros “demônios”, que estão em estado de agonia e uivando de dor.

O vale de dor em "O Demônio que Chora"
O vale de dor em “O Demônio que Chora”

Os uivos de dor são decorrentes de um efeito colateral da radiação que faz com que os chifres comecem a doer depois de um determinado horário.

Este é a parte do filme mais aterrorizante.

Segundo Justin Heinzekehr, autor conhecido por fazer uma intersecção entre filosofia política, religião e ética ambiental, considera que este filme de Kurosawa faz uma “remitologização do secular”, unindo o ancestral-folclórico com o moderno-científico.

Akira Kurosawa trabalha uma ficção-científica pós-apocalíptica fazendo ecos a tradições religiosas japonesas, na representação de demônios e até mesmo uma visão do inferno.

Neste sonho, o inferno não é criado por deuses, mas por nós mesmos.

Inferno, numa concepção budista
Inferno, numa concepção budista

O trauma nuclear revisitado

Este sonho é também um evidente reexame inconsciente do trauma do ataque de Hiroshima e Nagazaki.

Numa segunda-feira, dia 06 de agosto de 1945, por ordem do presidente americano Harry S. Truman, um B-29 batizado de Enola Gay sobrevoou as cidades de Hiroshima e Nagazaki, despejando em cada cidade uma bomba atômica.

Foram estimados 100 mil o número de mortos e mais 100 mil feridos.

Vítimas do bombardeio em Hiroshima em meio a mosquitos, no prédio de um banco que foi improvisado como hospital
Vítimas do bombardeio em Hiroshima em meio a mosquitos, no prédio de um banco que foi improvisado como hospital

Os que não morreram foram afetados pela radiação e desenvolveram o que ficou conhecido como “síndrome da Bomba A”.

Poucos dias após o bombardeio, as pessoas apresentaram náusea, diarreia, queda de cabelo, febre e diminuição do glóblos brancos no sangue.

Nos homens gerou esterilidade e abortos espontâneos nas mulheres.

Além do cansaço e da dor de cabeça habituais que duraram o resto da vida, as vítimas da bomba apresentaram outros sintomas problemáticos: a catarata e as temidas petéquias, manchas hemorrágicas na pele e na membrana mucosa.

Este trauma nuclear, que criou de fato um inferno, é um tema que já foi revisitado na filmografia de Akira Kurosawa duas outras vezes: em Anatomia do Medo (1955) e Rapsódia em Agosto (1991).

Hierarquização pos-apocalítpica

Em certo momento do filme, o “demônio” revela uma característica muito interessante de sua comunidade:

“Não há comida! Comemos uns aos outros. Os fracos são comidos primeiro. Está chegando a minha vez. Até mesmo aqui existe uma hierarquia. Ogros com um só chifre, como eu, são sempre comidos por aqueles que têm dois ou três chifres. Antigamente, eles eram poderosos e pretensiosos, e agora ainda se impõem como ogros!”

Além da redução do ser-humano a uma figura pós-humana bestializada e atormentada pela miséria e pela dor, o sistema de hierarquias e dominação do mais forte pelo mais fraco se mantém intacto, como se essa fosse a constante irremediável de nossa espécie.

No entanto, além disso, é interessante notar o resumo simbólico do chifre neste sonho e o comentário que ele carrega em si. O chifre, ou seja, a nossa sinalização de poder e dominação é, ao mesmo tempo, a nossa fonte da dor.

Sonhador entrando no Vilarejo dos Moinhos
Sonhador entrando no Vilarejo dos Moinhos

Sonho 8: O vilarejo dos moinhos

Um jovem viajante chega a um pacato vilarejo cercado por correntezas.

Enquanto ele atravessava a ponte que dá acesso ao lugar, sete crianças passam por ele e o saúdam alegremente com um “bom dia”.

Toda elas carregam consigo um ramo de flores, que deixam em cima de uma pedra no final da ponte.

Ao passear pela aldeia, o sonhador encontra um velho ancião que está consertando a roda quebrada de um moinho.

Eles começam a conversar e, durante a conversa, o ancião explica ao jovem o modo de vida das pessoas daquele vilarejo.

Há muito tempo, as pessoas dali resolveram abrir mão da tecnologia e decidiram retornar a um estilo de vida mais simples, sustentável e natural.

No vilarejo, as luzes elétricas foram substituídas por velas, pois, segundo o ancião, há de se respeitar que a noite seja naturalmente escura e o dia seja naturalmente claro.

Além disso, os tratores foram substituídos por bois e cavalos no cultivo dos arrozais. O esterco e a lenha se tornaram combustíveis, mas ali não se cortam as árvores para conseguir mais lenha; lá é costume esperar as árvores caírem sozinhas.

Segundo o ancião, eles escolheram a felicidade a despeito da conveniência.

Tentamos viver de modo como o homem vivia antigamente. É o modo natural de viver. Hoje em dia, as pessoas esquecem de que elas são só uma parte da natureza. Destroem a natureza da qual nossa vida depende. Acham que sempre podem criar algo melhor. Sobretudo os estudiosos. Eles podem ser inteligentes, mas a maioria não entende o coração da natureza. Eles só criam coisas que acabam tornando as pessoas infelizes. Mesmo assim, orgulham-se tanto de suas invenções. E, o que é o pior, a maioria das pessoas também se orgulha. Elas as veem como milagres. Idolatram-nas;

O jovem viajante fica surpreso e intrigado com esta noção.

No final da seqüência, que é também o final do filme, acontece a procissão de um funeral de uma mulher.

Esse funeral é celebrado com festividade e danças em vez do usual luto tristonho. Isso deixa o jovem curioso.

O funeral festivo
O funeral festivo

O velho explica que o funeral é celebrado desta forma pois trata-se do funeral de uma pessoa que teve uma boa e longa vida.

O ancião, que até então conversava com o jovem viajante, resolve acompanhar a procissão, não sem antes contar-lhe sobre algo que o jovem presenciou ao entrar na vila – crianças colhendo flores e colocando-as sobre uma pedra ao lado da trilha.

O ancião diz que, há muito tempo, um homem havia morrido ali depois de muito sofrer. Desde então, o ato de colocar flores sobre esta pedra virou uma tradição do vilarejo.

O viajante então se despede do lugar repetindo o gesto das crianças.

De todos os filmes, este é o mais fraco. É o único que não parece um sonho, mas um manifesto ecológico lúcido com alguns problemas típicos do perfil de Akira Kurosawa.

Apesar de ter momentos maravilhos, esse filme parece repetir os mesmos erros de Dodes’ka-den: um exagero plástico, um sentimentalismo exacerbado, uma moralismo banal (bem intencionado) e um didatismo infantil.

Acredito que Akira Kurosawa é melhor quando não está tentando ser Akira Kurosawa.

A genialidade do diretor se manifesta quando ele está sendo shakespeariano (como em Kagemusha, Trono Manchado de Sangue e Ran) ou terrívelmente cínico (como em Sete Samurais, Yojimbo, Céu e Inferno e Cão Danado).

No entanto, mesmo estando abaixo da média, ainda sim é um bom filme.

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