Madadayo é o trigésimo e último filme dirigido por Akira Kurosawa, lançado em 1993.
O filme é baseado na história real do professor Uchida Hyakken (interpretado por Tatsuo Matsumura), que se aposentou depois de 30 anos lecionando literatura alemã para se tornar escritor.
Uchida é uma pessoa muito carismática e bem-humorada. Ele conquistou o respeito e admiração de duas gerações de alunos.
Seu aniversário é festejado por uma comemoração especial; os alunos e o professor se reunem num galpão de festas e celebram o “Madakai”, um evento festivo que consiste em comes, bebes, brincadeiras e discursos.
Em certo momento da comemoração os alunos perguntam “Mada kai?” (Pronto?) e ele, depois de uma imensa taça de cerveja, respondia “Mada dayo!” (Ainda não!) significando que seus alunos teriam que “aguentá-lo” por mais um ano.
Pode-se especular que o Kurosawa estava querendo refletir sobre o momento crepuscular de sua vida e carreira.
No entanto, esse filme se afeiçoa a muitos outros que o diretor já fez. Não é incomum ver que o diretor sempre teve admiração por figuras professorais e anciãs. Vemos isso em “O Barba-Ruiva” (com o Dr. Niide), “Dersu Uzala” (com o próprio Dersu Uzala), “Os Sete Samurais” (com Kambei) e “Anjo Embriagado” (com Dr. Sanada).
O filme tem diversas cenas muito delicadas e emotivas.
Muitas tragédias aconteceram com este professor ao longo de duas gerações. Ele lecionava durante a Segunda Guerra Mundial e teve que ver seu país mergulhar no seu período histórico mais traumático. Ele perdeu sua casa num ataque aéreo e viu seu país ser ocupado por forças estrangeiras.
No entanto, o ápice dramático da sua vida no filme é quando ele perde seu gato, Nora.
É interessante notar que as tragédias do filme assumem uma dimensão própria no filtro da individualidade do personagem principal.
O professor consegue sustentar uma força estóica ao ver sua casa destruida, mas não consegue fazer o mesmo quando seu gatinho some. Vemos a triste figura do amável professor se arrastando, se lamentando e chorando pela casa. Talvez, um dos quadros mais tristes da história do cinema de Kurosawa.
No entanto, o filme é remansoso e a terrível tragédia de Nora é superada quando outro gatinho entra em seu jardim.
Ao fim de tudo, Madadayo é tanto um filme sobre gratidão e amor quanto um filme sobre envelhecimento.
Em uma entrevista na época do lançamento do filme, Kurosawa disse que Madadayo é sobre “algo muito precioso, que foi praticamente esquecido: o mundo invejável dos corações calorosos”.
Ele acrescentou: “Espero que todas as pessoas que viram este filme saiam revigoradas, com sorrisos largos em seus rostos”.