O culto védico não conhecia santuários; os ritos eram domésticos (grhya), ou seja, realizados na casa do sacrificante, ou realizados em um terreno limítrofe atapetado de relva (srauta), onde se faziam oferendas de leite, manteiga, cereais e bolos.
Também se realizavam nesses ritos sacrifícios de sangue, utilizando cabras, vacas, touros, carneiros e cavalos.
Todos esses sacrifícios incluíam também o sacrifício do “soma”, uma antiga bebida estimulante que, segundo o Rigveda (livro sagrado), estava associada à imortalidade.
Esses ritos cumpriam um papel sacramental ou consagratório, sendo que sua encenação estava relacionada à concepção, ao nascimento das crianças, à iniciação dos jovens junto ao seu preceptor brâmane (upanayama), além dos casamentos e funerais.
Dentre todos os sacramentos, o upanayama era considerado o mais importante. Sua realização, tal como o batismo cristão, simbolizava um novo nascimento, ou o nascimento verdadeiro, garantindo a entrada no mundo eterno e, sem o qual, o destino espiritual se tornava incerto. Exatamente como o batismo cristão.
No processo do upanayama, o preceptor transformava o rapaz novamente em um embrião e o preparava para o dia em que ele renasceria na condição de brâmane, ou seja, o nascimento para a imortalidade através da fórmula sâvitri, que era a sua confirmação e se assemelha ao processo de crisma (para os católicos).
O preceptor ensinava ao neófito a palavra do Veda, tornando-se para ele um novo pai e uma nova mãe, ou seja, o instrutor e o gerador do Brahman.
O mais interessante é como se dava esse processo. Além do estudo, que por si só era um teste de disciplina, inteligência e foco, o neófito era testado também em sua pureza, obediência e orgulho. Ele deveria andar pelas ruas e se humilhar, mendigando alimento para seu senhor, que julgaria se poderia ou não comer as sobras. Além disso, deveria observar a castidade, evitando, em todas as ocasiões, todo tipo de concupiscência carnal.
Isso ocorria em plena adolescência, quando o sentimento de orgulho e revolta contra a autoridade era bem conhecido dos sábios, assim como o quase incontrolável impulso sexual. Era exatamente a ocasião perfeita para repreender essa energia fulminante e internalizá-la em oblação, tal como as dádivas de alimentos, cereais e animais eram sacrificados.
Após a conclusão do upanayama, o jovem estava preparado para assumir suas responsabilidades como brâmane, agora considerado apto a executar rituais, ensinar os Vedas e servir como um guia espiritual para a comunidade. Este processo de iniciação não apenas marcava um novo começo na vida do neófito, mas também reforçava a continuidade e a preservação das tradições védicas através das gerações.