O artista {{{iii}}} é um nome novo e independente, que claramente se encontra fora dos holofotes da indústria musical convencional — e, possivelmente, permanecerá anônimo para sempre.

Sua passagem será provavelmente rápida, desconhecida e tão indistinguível quanto um sussurro no vento ou lágrimas na chuva.

Ele é um dos inúmeros artistas que surgiram na era digital pós 2020 e, inevitavelmente, será engolido e esquecido pela avalanche de informações e estimulos que estamos sujeitos diariamente. Como ele passou pela minha vida, eu, na minha posição de  alternancia entre conservador antiquado e pós-moderno experimental, desejo institucionalizar minha experiência com este texto de blog, semelhante ao que os primatas da era digital faziam.

Talvez {{{iii}}} nem exista realmente; talvez seja uma inteligência artificial, o que o tornaria ainda mais fascinante como um prenúncio da distopia de Huxley e uma ponte para o futuro da música pós-humana e sintética do Admirável Mundo Novo. Melhor ainda, talvez seja um humano se passando por uma máquina (o oposto do que normalmente acontece nas histórias de ficção científica), o que tornaria as previsões de Roger Penrose sobre “os perigos da inteligência artificial” um alarmismo baseado em uma forma de pânico moral ludista.

Seu álbum homônimo, {{{iii}}}, lançado em 2023, é seu primeiro trabalho e é tão obscuro quanto intrigante. À medida que eu o ouvia, mergulhava cada vez mais em uma verdadeira paisagem sonora fantasmagórica e desorientadora. A abordagem experimental de {{{iii}}} mistura diversos estilos de forma peculiar: o ambient e o pós-minimalismo criam uma base etérea e expansiva, além de economizar acordes em progressões simples e repetitivas.

O disco também apresenta uma fragmentação disruptiva e elementos de glitch na música, simulando falhas digitais e distorções típicas de equipamentos eletrônicos.

O resultado é um álbum que se assemelha mais a um quadro pós-moderno traduzido em som do que a um álbum de música de fato.

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