Keigo Oyamada é um artista e produtor amplamente reconhecido por seu nome artístico, Cornelius.
Trata-se de um dos artistas mais importantes da cena musical independente japonesa, sendo listado na Rolling Stones em 2007 duas vezes na lista dos “100 Maiores Álbuns de Rock Japoneses de Todos os Tempos”, com “Fantasma” (primeiro disco de sua carreira solo) em 10º lugar e “Camera Talk” do Flipper’s Guitar (sua primeira banda) em 35º lugar.
Cornelius foi um pioneiro do estilo musical Shibuya-kei no Japão e também um dos seus principais desenvolvedores. Shibuya-kei é um subgênero da música pop Japonesa que mistura synthpop e Jazz e que foi originado em Shibuya, uma região de Tóquio.
Entre as influências musicais de Cornelius podemos listar The Beatles, The Beach Boys, The Jesus and Mary Chain, Primal Scream e uma banda brasileira chamada X+2.
Sua música pode ser descrita como experimental, numa aventura dialética de harmonia e desarmonia, incorporando música eletrônica e rock de garagem com sons do quotidiano em um amalgama anárquico, vulcânico mas incrivelmente melódico.
Keigo não é apenas um artísta caótico, mas também tem uma personalidade caótica e também bastante controversa.
No passado, ele foi um agressor extremamente problemático, admitindo em entrevistas de 1994 e 1995 que intimidou e agrediu diversos alunos na escola, entre eles, alguns deficientes.
Ele chegou a trancar um aluno deficiente em uma caixa de salto de ginástica, envolveu outro aluno em colchões de ginástica e o chutou, forçou um aluno a comer seus excrementos, colocou uma caixa de papelão na cabeça de um aluno e derramou giz dentro, zombou de um estudante deficiente durante uma corrida de longa distância e forçou um estudante a se masturbar na frente de outros alunos.
Uma tentativa de diálogo entre Oyamada e as vítimas foi planejada pela revista Rockin’On Japan, mas todas se recusaram a encontrá-lo, e uma mãe relatou que seu filho havia considerado o suicídio.
Em 14 de julho de 2021, o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio (TOCOG) anunciou que Oyamada seria o compositor da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 2020, com o conceito sendo “a capacidade de celebrar as diferenças, ter empatia e viver lado a lado com compaixão uns pelos outros”.
Esse anúncio gerou reações nas redes sociais devido à história pessoal de Oyamada.
Dois dias depois, Oyamada emitiu um pedido de desculpas, mas também afirmou que os artigos continham exageros ou erros que ele não havia corrigido.
No mesmo dia, o TOCOG emitiu um comunicado afirmando que não estava ciente das entrevistas e que, embora as ações de Oyamada fossem “muito inapropriadas”, ele não havia sido dispensado da cerimônia.
Oshirō Mutō, executivo-chefe do Comitê Organizador e ex-presidente da Academia Kaisei, manifestou seu desejo de que Oyamada permanecesse.
No entanto, em 19 de julho, quatro dias antes da cerimônia, Oyamada decidiu deixar a equipe criativa das Olimpíadas de Tóquio em seus próprios termos.
Em suma, Keigo Oyamada, mesmo sendo um artista reconhecido como único, seu passado como “bully” (embora toda essa história tenha provavelmente sido temperada com muito sensacionalismo midiático e pela moda impeto inquisitório da “cultura de cancelamento”) ilustra a complexa relação entre o artista, a pessoa e a persona pública.
No entanto, cabe-nos responder a incômoda pergunta: sua persona artística anárquica e babélica seria possível sem o cultivo dessa personalidade controversa e problemática.