Autobahn é o quarto álbum de estúdio do Kraftwerk, lançado em 1974.
O álbum marca a transição do grupo do estilo krautrock experimental de seus trabalhos anteriores (que são muito influenciados pelo punk) para um som eletrônico mais synthpop e folk, misturando sintetizadores, baterias eletrônicas e, ocasionalmente, flauta e violão.
Para mim, o Kraftwerk, nesse disco, foi melhor definido pelo próprio Ralf Hütter como “Industrielle Volksmusik” (música folk industrial), pois sua abordagem é, ao mesmo tempo, moderna, futurista, industrial e completamente vinculada às tradições musicais alemãs.
A maior parte do álbum é ocupada pela faixa “Autobahn”, com 22 minutos de duração.
A música foi inspirada na sensação de Hütter, o compositor, ao dirigir nas “autobahns” (autoestradas federais) da Alemanha.
O conceito da música seria uma viagem de Düsseldorf a Hamburgo.
A música emula as experiências sensoriais dessa viagem.
Aqui temos os sons industriais do vale do Ruhr, as esteiras rolantes das cidades mineiras de Bottrop a Castrop-Rauxel e também os sons da zona rural de Munster, que na música é marcada pela flauta.
Outros sons são incluídos na música, como o som próprio das viagens rodoviárias e dos veículos: buzinas, motores, suspensão, pressão dos pneus no asfalto e aquele som deslizante de veículos em alta velocidade.
Existem duas tradições alemãs muito fortes nesse disco e que pouca gente associa ao tipo de som que o Kraftwerk faz.
A primeira é a música wagneriana. Para quem já estudou obras como “O Anel do Nibelungo”, sabe que Richard Wagner tinha uma certa obsessão pelo conceito e pelo didatismo do efeito sonoro, colocando, por exemplo, o som de martelos e bigornas no meio da peça “O Ouro do Reno”, para criar uma imagem visual das minas de ouro do anão Alberich e o trabalho duro dos seus escravos.
Outra tradição alemã resgatada pelo Kraftwerk é a da música folclórica tradicional do país, que tem como um dos seus principais temas as paisagens e as atividades simples e prazerosas.
São comuns na música folk alemã temas que falam sobre a paisagem (as montanhas, os rios, as florestas e os campos) e também temas que falam de sensações, como por exemplo, a boa sensação do sol aquecendo o rosto em uma manhã para caçar (como a famosa “O caçador de Kurpfalz”).
Percebem como este disco está com os pés completamente fincados no passado?
O Kraftwerk assume esse espírito retro-futurista germânico, incorporando tanto a paisagem atual da Alemanha (das autoestradas e das fábricas entre as paisagens rurais) quanto os instrumentos mais modernos disponíveis: teclados e sintetizadores, frutos da inteligência industriosa do país.
Acho esse tipo de abordagem muito mais “tradicionalista” do que, sei lá, a abordagem da maioria das bandas de black metal e folk que se levam a sério e fingem que estão resgatando épocas que eles não viveram e provavelmente não gostariam de viver. Embora eu ache interessante e autêntica algumas das tentativas de resgate do universo estético pagão, levar isso a sério na maioria das vezes apenas transforma o passado em um refúgio caricato do presente.
Outras faixas incluem “Kometenmelodie” (“Melodia do Cometa”), que foi inspirada no Cometa Kohoutek, que passou pela Terra em 1973, e “Morgenspaziergang” (“Caminhada Matinal”), influenciada pela caminhada matinal do grupo ao deixar seu estúdio após as sessões noturnas, quando observaram o silêncio ao seu redor.
O lançamento do álbum na Alemanha Ocidental recebeu pouca atenção da imprensa, mas quando chegou às estações de rádio de Chicago, começou a fazer sucesso, o que levou a banda a fazer uma turnê nos Estados Unidos.
Antes de Autobahn, a música eletrônica não era popular nos Estados Unidos, com algumas exceções, como “Tubular Bells” de Michael Oldfield e as obras de outra banda alemã: Tangerine Dream.
A recepção inicial de Autobahn foi mista, embora as críticas retrospectivas sejam muito melhores do que as contemporâneas. Músicos das décadas de 1970 e 1980, incluindo David Bowie, citaram o álbum como uma grande influência.
Authobhan uma mistura de passado, presente e futuro. Revolucionário na aparência e conservador no coração. Do jeitinho que eu gosto.