Cult (カルト) é um filme de terror japonês found footage de 2013, escrito e dirigido por Kōji Shiraishi.

O enredo gira em torno de Tomoe Kaneda, uma dona de casa, e sua filha de 15 anos, Miho, que enfrentam atividades paranormais em sua nova casa.

Um programa de TV especializado em fenômenos sobrenaturais decide investigar a situação, enviando para o local as atrizes Yu Abiru, Mayuko Iwasa e Mari Iriki, junto com um sacerdote budista chamado Unsui. A proposta do programa é filmar os eventos sobrenaturais e produzir um documentário.

Ao chegar, Unsui percebe uma energia impura ao redor da casa e inicia uma série de ritos de purificação.

Inicialmente, ele obtém sucesso, mas, com o tempo, as manifestações tornam-se cada vez mais poderosas.

Incapaz de lidar sozinho com a situação, ele busca ajuda do sacerdote superior, Ryugen.

Na semana seguinte, as atrizes e Unsui retornam acompanhados por Ryugen.

Durante um exorcismo, Unsui é atacado pelo espírito antes que Ryugen possa bani-lo, morrendo logo depois no hospital. Ryugen também é atacado e morto pelo espírito em seguida.

Um novo exorcista, conhecido como Neo, se junta ao grupo e descobre que os vizinhos, participantes de um “culto”, amaldiçoaram a casa intencionalmente.

Embora o filme não desenvolva muito sobre o que seria esse “culto”, ele aborda, mesmo que superficialmente, um tema relevante no Japão: o Shinshūkyō.

Shinshūkyō refere-se a movimentos religiosos ou seitas não tradicionais no Japão. Esses grupos surgem no século XIX a partir de interpretações heterodoxas de religiões tradicionais, como o xintoísmo e o budismo. Nos anos 70, muito por conta das influências norte-americanas, essas seitas se multiplicaram e ganharam notoriedade por práticas controversas ou violentas. A mais famosa delas é a Aum Shinrikyo, que combinava elementos do budismo, hinduísmo e cristianismo e que ficou conhecida por suas crenças apocalípticas e a ideia de que um grande cataclismo estava por vir.

Em 20 de março de 1995, a Aum Shinrikyo realizou um ataque terrorista no Metrô de Tóquio, liberando gás sarin, uma substância neurotóxica, resultando na morte de 13 pessoas e mais de 5.000 feridos.

Essa tragédia chocou o Japão e levantou questões sobre a segurança e a influência de seitas religiosas, levando a uma repressão significativa contra a Aum Shinrikyo e a um exame mais rigoroso das práticas religiosas no país.

O “culto” mencionado no filme possui os mesmos aspectos messânicos e escatológicos da Aum Shinrikyo, que, por sua vez, emula alguns elementos do cristianismo.

Segundo uma das personagens, os membros do culto não apenas acreditam no fim do mundo, mas que ele virá acompanhado de um tipo de redentor.

Apesar do contexto intrigante que a história sugere, o filme não se desenvolve nesse caminho e apresenta, pra mim, algumas incômodas falhas de execução.

A principal delas é a ineficácia do uso do recurso de found footage, que me pareceu um capricho estético sem sentido ou um subterfúgio para encobrir falhas nos efeitos especiais.

Parte do charme do found footage é a sensação de realismo. Se mal utilizado, pode evocar precariedade e amadorismo. Além disso, o filme mistura found footage com edições invasivas e desnecessariamente didáticas, como zooms e pausas estratégicas destinadas a revelar as ameaças de maneira explícita. Isso subestima a percepção da audiência e compromete o senso de realidade que o filme poderia ter.

As ameaças deveriam ser percebidas de forma sutil, como uma descoberta furtiva, tal como em filmes como “Atividade Paranormal”.

Outro ponto fraco é o personagem Neo. Meu Deus, como eu detestei esse personagem! Seu estilo moderninho, sua postura arrogante e suas frases de efeito extremamente constrangedoras, como “eu não acredito em deuses, eu acredito em mim mesmo”, tornaram-se para mim progressivamente irritantes, diminuindo significativamente o meu interesse pelo filme ate certo ponto.

No entanto, você até acaba se acostumando.

Os efeitos especiais variam: ora são visivelmente precários, ora interessantes.

Quando eram visivelmente precários, não chegava a me incomodar. As imagens criadas pelos efeitos visuais são artificiais, mas podem parecer críveis no contexto espiritual e semi-onírico da história. Afinal, os espíritos não precisam atender às exigências de texturas e profundidade do mundo físico.

De pontos positivos do filme, podemos dizer que há nele cenas genuinamente assustadoras e um interessante plot twist próximo ao final – e é tudo o que você precisa saber para se convencer a assitir.

No fim das contas, um filme de terror deve provocar apreensão e medo, e Cult, apesar das falhas e do execrável personagem Neo, consegue cumprir esse objetivo em vários momentos.

Segue abaixo uma das melhores e mais perturbadoras cenas do filme:

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