O psicopompo é uma das figuras mais interessantes do imaginário quimérico do homem, uma entidade que ecoa na bruma das eras e sussurra oculta entre os mundos.
Nas histórias da mitologia e das religiões, ele se apresenta em diversas formas, metamorfoseando-se como os ciclos da natureza, guiando as almas pelas sendas da eternidade.
Sob o firmamento nórdico, são as Valquírias que cavalgam com seus corcéis alados. Na sombra sagrada dos astecas, se apresenta como Xolotl, um esqueleto humano com cabeça de cachorro. Em terras eslavas é Morana, a senhora da vida e da morte, que baila ao som do vento e do frio. No crepúsculo e a aurora zoroastriana é chamado de Daena, a juíza do destino. No Islã, é Azrael, um anjo com asas negras de falcão, que corta os céus em violência, mas carrega almas em mãos compassivas para Deus.
As eras o abraçam em suas páginas, como notas soltas em partituras antigas.
Na alvorada do tempo, em esculturas funerárias, os traços de sua existência são esculpidos com reverência. Uma procissão de símbolos, como um cortejo de memórias, onde a tristeza se mescla à esperança, e o luto encontra consolo no abraço do mistério.
O psicopompo também marca presença na obra de Lovecraft, como podemos ver em Dunwich. No entanto, ao contrário de seus monstros, eles são delicados notibós-cantores.
Isso indica que, para Lovecraft, o horror estava em estar vivo, enquanto a morte era suave e até esperada. Ela viria como um pequeno pássaro em sua janela de manhã e, com seu trinado, poderia dar-lhe consolo para se despedir da choupana dos vivos e despertar nas mansões da morte ou, se ele se manteve fiel ao seu ateísmo, não despertar jamais.