Os povos semitas datam da Idade do Bronze, seguindo uma sequência cíclica e constante de nomadismo, estabelecimento sedentário, invasões, exílio e novamente nomadismo.
A repetição desses ciclos gerava um acúmulo de experiências ao mesmo tempo familiares e diferentes. Dado que a primeira fase do nomadismo nunca era igual à segunda, que, por sua vez, não era igual à terceira. Especialmente devido à velocidade dos acontecimentos.
Mal uma civilização se estabelecia em uma geração, a próxima já teria que conviver em meio às ruínas deixadas por invasores e reconstruir o mundo do zero.
Por diversas vezes, os semitas não apenas reconstruíam o seu mundo, mas reconquistavam o mundo que perderam, dando a eles uma noção muito única de excepcionalidade (que tentou ser copiada pelos alemães, pelos ingleses, pelos franceses e até pelos americanos). Por isso, a figura do “profeta” e do “salvador” foi tão importante para esses povos.
No desejo humano de estabilidade, o “profeta” indicava a direção e o “salvador” ancorava a esperança.
Os hebreus foram o ápice do espírito semítico por unirem, como nenhum outro, os pacíficos cultos da fertilidade agrária, a ideologia religiosa dos pastores nômades, o catastrofismo dos povos exilados e a impulsividade guerreira (e quase selvagem) dos guerreiros hurritas.
Numa interpretação histórica, o Deus do Antigo Testamento parece refletir esse conglomerado de ideias, sendo misericordioso, vingativo, pacífico e agressivo na medida em que era a projeção celeste do seu povo nas diversas fases em que ele se encontrava. Numa interpretação mística, foi Deus que ensinou aos hebreus a serem pacíficos, diplomáticos, violentos e agressivos conforme as circunstâncias exigiam. Como a trajetória do povo hebreu é ao mesmo tempo histórica e mística, fica muito difícil decantar essas fronteiras. Uma averiguação histórica precisa ser complementada por uma análise bíblica, independentemente de você acreditar ou não.