Entropia: entre ciência e a estética

Arte:  Juan Gris, 1915, Natureza morta diante de uma janela aberta, Place Ravignan, óleo sobre tela, 115,9 × 88,9 cm, Museu de Arte da Filadélfia

A entropia é um conceito interessante e nos diz muito sobre a realidade das coisas, especialmente no que tange à irreversibilidade, que é um conceito que necessariamente foge ao controle da dinâmica teórica de uma equação (no seu sentido mais vulgar).

Esse é um dos problemas que Roger Penrose descreveu ao verificar que alguns cientistas não tentavam mais entender a realidade através de suas teorias, mas encaixar a realidade nelas.

A física, que é a sua área de estudo principal, basicamente cria (ou sempre criou) um mundo à parte para que ela possa corresponder com uma parte da realidade estudada.

A aparente dissonância da entropia com o mundo das equações físicas é uma dissonância de natureza.

A natureza das “equações” diz que os fatores de sua estrutura podem ser manipulados ou invertidos – mas a realidade, diz outra coisa.

Por exemplo, não podemos “desquebrar” um ovo na realidade, mesmo que isso seja permitido pelas leis da mecânica.

Para lidar com essa realidade, já foi considerado que na física, nosso conceito de ordem não seja uma percepção científica, mas estética, e poderíamos até mesmo nos permitir imaginar a ideia (absurda) de que uma coleção de cacos de vidro espatifados no chão estaria mais ordenada do que aquele horrendo copo que uma vez esteve sobre a borda da mesa.

Como o julgamento subjetivo do esteta e do cientista em relação ao fato do copo estar inteiro ou quebrado ser um arranjo mais ordenado ou mais desordenado não pode ter nenhuma consequência com relação à medição de sua entropia, então deveríamos buscar uma outra abordagem que abrace este conceito e o qualifique numa definição objetiva que seja igual para todos. Sim, basicamente o consenso científico, quando não é uma deliberação política, é um denominador comum (e na maioria das vezes insuficiente) da realidade.

A ciência pode ser acusada de reduzir a realidade, mas não pode ser acusada de ser desonesta (os cientistas, sim). O consenso pode ser redutor, mas também é um antítdoto contra toda sorte de subjetivismo (a briga entre identitaristas e cientistas hoje, talvez, seja mais acalorada do que entre identitaristas e conservadores religiosos).

O conceito de entropia, no caso, foi definido na ideia de espaços de fase, um “mapa” que mostra todas as maneiras possíveis de um sistema estar, levando em conta a posição e a velocidade de todas as suas partes (como partículas ou moléculas). Quanto mais maneiras diferentes de organizar o sistema existirem, maior será a entropia.

Na percepção do copo quebrado, com os inúmeros cacos se espalhando pelo chão, podemos notar que cada uma de suas partes se organiza de forma diferente. A entropia é uma quantidade de razão logarítmica e aditiva para sistemas independentes, ela é a soma das entropias de cada sistema separado.

Quando alguma coisa se quebra (como, por exemplo, um copo), cada parte desse sistema tem sua própria relação de entropia.

Mesmo o esteta mais desconstruído não poderá afirmar, cientificamente, que o copo quebrado não está em um estado de entropia maior que o copo inteiro.

Comente aqui

Newsletter Semanal

Categorias

Asssuntos

Posts

Último Episódio

Quem faz

O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

Hefesto e a figura simbólica do laço
Hefesto é filho de Zeus e Hera, rei e rainha dos deuses, ou, de...
A demonização de Baal
Entre os semitas, houve muitas concepções sobre deuses que surgiam...
Inteligência Artificial, Literatura e Humanidade
A inteligência artificial é hoje um tema que se ramifica...
A farsa do revival do paganismo
Estava lendo a matéria da Economist sobre o "revival do...
Rolar para cima

NEWSLETTER SEMANAL