A palavra “Mecha” é intrigante, pois se transformou em um conceito que vai muito além de sua própria definição literal.
O termo “Mecha” deriva de “mechanical” em inglês e geralmente refere-se a animações que envolvem lutas entre máquinas de guerra gigantes antropomórficas, os famosos robôs gigantes que povoam obsessivamente o imaginário da cultura pop japonesa.
Os Mechas seguem basicamente a mesma fórmula: uma criança controlando um robô gigante e lutas com monstros fazem quase parte integrante de um checklist obrigatório do subgênero.
Em “Attack on Titans,” temos basicamente todas as características de roteiro e estilo de um Mecha.
Existem aqui alguns Titãs que são simplesmente monstros gigantes descontrolados (e desengonçados) e outros que podem ser controlados. Isso borra um pouco a linha entre os conceitos de Mecha e kaiju, o que é interessante.
Quando se diz que o termo Mecha transcendeu sua própria literalidade, quer dizer que para algo ser considerado Mecha, não é mais imprescindível o elemento “mecânico“.
Um exemplo icônico é “Neon Genesis Evangelion,” onde os “robôs” possuem apenas uma armadura mecânica externa, mas são essencialmente seres orgânicos – sangram, rugem e têm sistemas circulatório e digestivo.
Todos os gigantes de “Attack on Titans” são orgânicos, assim como os de “Neon Genesis Evangelion.”
No entanto, “Attack on Titan” dá um passo além na subversão do gênero.
Outra característica dos animes Mecha é seu estilo futurista, geralmente ambientados em um cenário pós-hecatombe nuclear (outra obsessão da cultura pop japonesa) ou após uma grande guerra purgatória.
“Attack on Titans” não parece ser temporalmente identificável. Não parece acontecer no futuro, mas sim em um passado hipotético – numa espécie de medievo germânico – repleto de castelos, fortes, muralhas, cavalarias, insígnias e bandeiras.
Não é possível afirmar se trata de um estilo steampunk, pois nem mesmo remete a um retrofuturismo na perspectiva da revolução industrial.
Podemos dizer que “Attack on Titans” é um retro-futurismo pré-iluminista, algo que possivelmente nem tem nome.
O estilo germânico medieval é especialmente interessante de se analisar também, pois, além de tudo, ele tenta se desligar até mesmo de qualquer referência japonesa – bebendo diretamente na mitologia nórdica na composição do seu universo cosmogônico.
Até os nomes dos personagens deixam isso claro, como Ymir – referência ao gigante primordial de mesmo nome na mitologia nórdica, e os nomes das muralhas que protegem as cidadelas que compõem o cenário (Maria, Rosa, Sina).
O aspecto e temperamento dos gigantes em “Attack on Titans” são basicamente os mesmos da mitologia nórdica.
Tanto em “Attack on Titans” quanto na mitologia nórdica, a aparência dos gigantes (Jotun) é frequentemente descrita como hedionda, com garras, dentes e características deformadas, além de seu tamanho repugnante. A animosidade entre gigantes e humanos é também um clássico tema da mitologia nórdica. Os gigantes representam as forças indomadas do caos primeval, a natureza destrutiva que ronda o ser humano desde épocas imemoriais.
Além disso, é uma obra de entretenimento competente, com cenas de ação e perseguição acrobáticas que imprimem muito bem uma sensação vertiginosa de velocidade e que são muito bem compostas nos ambientes abertos, onde temos uma noção muito pungente da proporção dos gigantes em relação aos heróis.
Também é uma obra com características comuns a qualquer shōnen – obras voltadas para um público adolescente masculino onde são impressos alguns valores como coragem, determinação e empenho.
Em resumo, “Attack on Titan” vale a pena tanto pela diversão quanto pelo conceito estético.