Love Exposure (2008), dirigido por Sion Sono, é um filme japonês que mistura drama, comédia, romance e elementos de exploração religiosa e psicológica.
A trama gira em torno de um jovem católico chamado Yu Honda. Yu é filho de Tetsu Honda, um homem católico devoto que, após a morte de sua esposa (mãe de Yu), resolve se ordenar padre, ao mesmo tempo em que mergulha em uma crise espiritual e emocional.
Tetsu, apesar de ser mostrado no começo como um sacerdote amável, vai se tornando cada vez mais rígido e distante.
Ele pressiona Yu a confessar seus pecados regularmente, pois acredita que isso o tornará uma pessoa melhor.
No entanto, como Yu não comete pecados “reais”, ele começa a inventar transgressões para “agradar ao pai”.
Essa dinâmica cria uma relação conturbada entre os dois, pois é uma relação baseada em mentiras.
Yu, na busca por se tornar um “pecador de verdade”, acaba desenvolvendo uma obsessão por tirar fotos de calcinhas de mulheres (upskirts) como uma forma de rebelião inconsciente, que, na verdade, era um disfarce para tentar se conectar novamente com seu pai — já que só fazia isso no contexto da confissão.
Paralelamente, Yu se envolve com uma seita religiosa manipuladora, onde conhece Yoko, uma jovem por quem se apaixona profundamente. Yoko, no entanto, está envolvida em um jogo complexo de identidades e manipulações, o que complica ainda mais a trama.
Com uma narrativa complexa e repleta de reviravoltas, Love Exposure é conhecido por sua duração extensa (quatro horas) e por sua abordagem provocativa e surreal.
O filme critica e explora a natureza humana de maneira caótica e poética. A obra é considerada uma das mais ousadas e impactantes do cinema japonês contemporâneo, destacando-se por sua originalidade e intensidade emocional.
Eu tive vários sentimentos conflitantes ao longo dessa obra e Sion Sono foi muito habilidoso em me manipular.
O grande trunfo de Love Exposure é estético.
Quando falo “estético”, apelo para o significado mais acadêmico do termo: a percepção sensorial da relação entre forma, conteúdo e sensibilidade.
Love Exposure explora estéticas conflitantes e temas diversos ao longo da sua execução. Ele é um filme de comédia besteirol, no melhor estilo American Pie, ao mesmo tempo que é um filme “coming-of-age” bastante profundo e dramático. Ele explora temas como a fé, a tensão entre uma religião verdadeira e uma seita (sim, ele explora isso de uma maneira incrivelmente boa), o drama da adolescência, desde a rebeldia até a descoberta sexual, traumas sexuais, perversão e a perda de conexão entre pais e filhos.
É impressionante a quantidade de temas diferentes que ele aborda, mas, além de tudo, é impressionante como Sion Sono conecta esses temas de forma coesa. Não apenas isso, os temas se conectam com uma diversidade impressionante de estilos.
Numa hora, estamos vendo um personagem declamar o amor divino; na outra, uma cena de pancadaria na rua; na outra, um filho tentando se conectar ao pai; na outra, uma ereção pública constrangedora; na outra, uma cena sangrenta com espada.
Confesso que fiquei meio receoso devido ao uso indiscriminado da simbologia católica, que é, para mim, muito preciosa (na verdade, sagrada). No entanto, apesar de quase beirar a blasfêmia, o filme usou subterfúgios inteligentes para desviar minha atenção — desviando o símbolo para uma clara tangente de ressignificação, ao mesmo tempo que permitia colocar a fé verdadeira em um santuário intocado, porém visível, de ortodoxia. Há uma cena em que isso, para mim, ficou bem claro — infelizmente, sou incapaz de descrever a cena, não porque ela seja complicada, mas pelos próprios caminhos labirínticos que o filme percorre — não conseguiria me fazer entender.
Acho que noventa por cento das pessoas no Ocidente que viram esse filme viram “uma crítica à religião”. Eu não vi absolutamente nada disso, e olha que eu procurei — até mesmo entrevistas de Sion Sono.
Love Exposure é um bildungsroman eclético, bizarro e quase surrealista que utiliza uma mistura de gêneros de comédia e drama para falar de redenção, fanatismo, sexualidade, adolescência, identidade, religião, manipulação, sadismo e amor.
Apesar de não ser um filme crítico a religião, eu não recomendo se você for “simbolicamente sensível”.