Noites Brancas é uma obra escrita por Fiódor Dostoiévski, publicada pela primeira vez em 1848. Escrita quando o autor tinha 27 anos, a novela parece ter sido concebida para cativar um público mais jovem, abordando um tema atemporal: o amor romântico não correspondido.
Embora não explore os temas complexos, existenciais, psicológicos e espirituais que marcam obras posteriores de Dostoiévski, como Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov, Noites Brancas oferece um interessante exame melancólico do destino.
A história se passa em São Petersburgo, durante as chamadas “noites brancas”, um fenômeno natural do verão russo em que o sol se põe apenas parcialmente, deixando o céu claro durante a noite. O protagonista é um jovem solitário e sonhador, que vagueia pela cidade refletindo sobre sua vida isolada e sua dificuldade de se conectar com os outros.
Em uma de suas caminhadas noturnas, ele conhece Nástienka, uma jovem que também parece solitária. Os dois começam a conversar e desenvolvem uma conexão emocional intensa, embora breve. O protagonista se apaixona por ela, mas descobre que Nástienka está esperando o retorno de um antigo amor, um homem que prometeu voltar para ela. Esse terceiro personagem, embora quase nunca apareça fisicamente, está presente de forma constante na narrativa, funcionando como uma espécie de barreira translúcida e intransponível entre os dois.
Translúcida porque sua ausência permite que o protagonista e Nástienka se aproximem e construam uma relação afetiva intensa. Intransponível porque, apesar do vínculo que se forma entre eles, Nástienka permanece obcecada pela espera daquele que nunca chega.
É fascinante como Dostoiévski constrói o protagonista, atribuindo-lhe a característica de “sonhador”. Ele é um personagem que pouco participa da vida concreta; sua experiência é quase inteiramente interna e introspectiva. Seu mundo interior é vasto, enquanto o mundo externo parece reduzido a um cenário de suas próprias narrativas. Ele caminha pelas ruas de São Petersburgo observando propriedades, jardins e pessoas como se fossem meros personagens de sua imaginação. Às vezes, ele parece se contentar com essa existência solitária; outras, deseja ardentemente que as coisas fossem diferentes.
Tudo muda quando ele conhece Nástienka. Surpreendentemente, ela demonstra interesse por ele, algo que ele jamais imaginou ser possível. Esse encontro traz o “sonhador” para uma dimensão mais real e palpável, onde o mundo exterior se torna, pela primeira vez para ele, uma fonte de contentamento. Ele começa a pensar em Nástienka, a se compadecer dela e, em determinado momento, até a fazer planos para o futuro ao seu lado.
No entanto, o amor de Nástienka pelo protagonista acaba se revelando uma tradução dolorosa de um sonho que se desfaz ao amanhecer. O final do conto é marcado por um anticlímax traumático, no qual o protagonista se vê confrontado com a realidade de que seu amor não será correspondido da forma que ele esperava.
Noites Brancas faz uma exposição crua de temas como amor romântico, amizade, afeto e paixão, explorando a tragédia de como essas emoções nem sempre convergem para o mesmo ponto, mas muitas vezes se dispersam de forma caótica. O protagonista ama Nástienka com paixão, afeto e amizade, mas ela só lhe corresponde com afeto e amizade. Seu amor e paixão estão direcionados à figura ausente que ela espera desde antes de conhecer o protagonista.
Apesar de o “sonhador” dar todos os motivos para que Nástienka volte seu amor para ele, ela permanece inflexível em sua espera. Essa dinâmica gera uma frustração profunda que permeia toda a narrativa, intensificada pelo fato de que não podemos culpar nenhum dos personagens.
Resta ao leitor apenas uma débil revolta contra o destino, que parece brincar com as esperanças e os sentimentos.
Cena: Noites Brancas (Ivan Pyryev, 1960)