Still Life, do Van der Graaf Generator, é o meu disco favorito da banda.

Entendo perfeitamente quem prefira obras como Pawn Hearts, The Least We Can Do Is Wave to Each Other e H to He, Who Am the Only One — álbuns que eu também adoro —, mas nenhum deles me cativa tanto quanto este.

Certa vez, conversando com um velho amigo que me apresentou a banda há muitos anos, ele me disse que, talvez, eu goste mais do Peter Hammill do que do Van der Graaf Generator. E, pensando bem, pode ser que ele tenha razão.

Peter Hammill, o vocalista e principal compositor da banda, conduz o disco com maestria — ele é, sem dúvida, o grande regente aqui. Sempre admirei Hammill como vocalista, e sua performance neste álbum está entre as melhores que já ouvi.

Ao longo das faixas, somos presenteados com vocais líricos e evocativos, que se alternam entre lamentos fantasmagóricos e sombrios, explodindo em gritos intensos e exasperados. Muitas vezes, todas essas nuances estão concentradas em uma única música. É brilhante, verdadeiramente brilhante.

O grande trunfo do álbum é a forma como os vocais se entrelaçam com as letras, que são o cerne da obra. Todas escritas por Hammill, as letras ditam o tom dos vocais, que, por sua vez, orientam a instrumentação. E, para mim, isso é extremamente — mas extremamente — satisfatório.

As letras são profundamente introspectivas, aparentemente fruto de reflexões muito pessoais de Hammill. Elas exploram temas existenciais, ponderam sobre a melancolia da impermanência da vida e até abordam questões sobre a eternidade, refletindo na dualidade vida-morte e na fragilidade da condição humana.

Desde o álbum anterior, Godbluff, Peter Hammill assumiu a liderança nas composições da banda. Antes disso, embora já tivesse uma presença marcante, sua influência não era tão hegemônica. Com essa mudança, a sonoridade da banda tornou-se mais sóbria, menos experimental e mais orientada harmonicamente.

Há, claro, perdas e ganhos nesse processo. No entanto, em vez de lamentar, sou grato por poder apreciar propostas tão diversas e, por vezes, conflitantes.

A instrumentação, que antes tinha uma voz mais ativa, passa a ser mais submissa, servindo às letras e aos vocais de Hammill, que se tornam o centro indiscutível do grupo. Canções como A Plague of Lighthouse Keepers (minha favorita da banda), com suas longas seções instrumentais e narrativas complexas — como a simulação de um navio batendo na costa, feita com saxofones e bateria —, não seriam mais possíveis nessa nova proposta. Em seu lugar, temos composições mais declamadas, com letras extensas e versos longos.

Still Life é uma síntese única de goth rock, rock progressivo e jazz — sem se prender rigidamente a nenhum desses gêneros. É um disco singular, que sublima categorizações óbvias e continua a ressoar em mim, mesmo após inúmeras escutas.

Acho que consigo ouvir esse álbum repetidas vezes ao longo de um mesmo dia sem enjoar.

 

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