The Least We Can Do Is Wave to Each Other” é o segundo álbum do Van der Graaf Generator, lançado em 1970 pela Charisma Records, e marca oficialmente a estreia da banda.

Sim, o segundo disco do Van Der Graaf Generator é oficialmente o disco de estreia da banda.

Seu antecessor, “The Aerosol Gray Machine” (lançado em 1969), foi inicialmente concebido e gravado como um projeto solo pelo vocalista e principal compositor, Peter Hammill, para a Mercury Record. Sob um acordo intermediado pelo empresário Tony Stratton Smith, o álbum foi lançado sob o nome Van der Graaf Generator em troca da rescisão do contrato do grupo.

Apesar de não ser um álbum ruim, em minha opinião, ele difere bastante do estilo pelo qual a banda se tornaria conhecida.

Algo semelhante a isso ocorreu com Alice Cooper. Todos sabem que seu verdadeiro álbum de estreia é o “Love It to Death” de 1971, sendo os dois anteriores, “Easy Action” e “Pretties for You”, apenas um delírio coletivo.

O Van der Graaf Generator estava em busca de sua identidade por meio da criatividade, dramaticidade e talento lírico de Peter Hammill, o indiscutível líder da banda, dos arranjos intensos do organista Hugh Banton, que também era um apreciador de música clássica francesa moderna (e organista de igreja), e da base rítmica sólida proporcionada por Nic Potter e Guy Evans. No entanto, foi com a entrada do saxofonista David Jackson que essa identidade se consolidou, sendo ele crucial para criar a base da sonoridade característica da banda: os arranjos de saxofone que combinavam elementos de Roland Kirk, conhecido por tocar saxofone alto e tenor simultaneamente, e Coltrane.

“The Least We Can Do Is Wave to Each Other” é um álbum de estreia tão marcante quanto “In the Court of the Crimson King” do King Crimson.

O álbum já se destaca desde o início com três de suas melhores músicas: “Darkness (11/11)”, “Refugees” e “White Hammer”, as quais resumem muito bem o universo lírico da banda e seu estilo característico.

“Darkness (11/11)” é uma canção densa e sombria que aborda a experiência devastadora de um fracasso pessoal de Peter Hammill. Ele tentou escrever uma saga épica sobre um nobre anglo-saxão que se tornaria líder da resistência à conquista normanda da Inglaterra no século XI. A escuridão mencionada na música representa o obscurecimento de sua mente durante o processo criativo. A música se transforma em um relato sufocante de desistência. O misterioso “11/11” refere-se à data exata em que ele decidiu, definitivamente, abandonar a empreitada, no dia 11 de novembro de 1986.

A segunda faixa, “Refugees”, é uma das baladas mais belas do Rock Progressivo, destacando-se tanto pelo belíssimo canto lírico de Peter Hammil quanto pelos maravilhosos arranjos faunicos de flautas.

No entanto, o que me cativou profundamente nesta música foi a sua letra.

Peter Hammil presta aqui uma homenagem aos seus ex-colegas de apartamento, Mike McLean e Susan Penhaligon, retratando-se como um viajante e seus amigos como o Ocidente.

“West is Mike and Susie, West is where I love.”

Meu Deus! Essa é a beleza do Van Der Graaf Generator! Tanto “Darkness (11/11)” quanto “Refugees” são expressões poéticas literalizadas de experiências pessoais simples.

Dando um passo além das experiências pessoais literalizadas, “White Hammer”, a terceira faixa, é uma canção sombria que aborda o “Malleus Maleficarum” e a bruxaria na Idade Média. O termo “White Hammer” faz referência ao “Martelo das Bruxas”. Na letra, há uma contraposição cromática em que o “martelo branco” anula a “magia negra”. Aqui, temos uma abordagem mais clássica do Rock Progressivo, com uma projeção mais “cinematográfica”. Nos momentos finais, a música assume uma linha mais Doom e próxima do Black Sabbath, o que, dada a temática, se encaixa perfeitamente.

As duas próximas músicas, “Whatever Would Robert Have Said?” e “Out of My Book”, embora não sejam ruins, são as menos interessantes do disco na minha opinião. Não tenho muito a comentar sobre elas.

A faixa seguinte, “After the Flood”, eleva o disco novamente, talvez sendo a melhor música do álbum. Ainda estou indeciso sobre qual gosto mais, se esta, “Darkness (11/11)” ou “Refugees”.

Esta é uma peça de ficção científica que retrata as consequências de uma inundação apocalíptica, citando parcialmente Albert Einstein e sua preocupação com a corrida armamentista entre os EUA e a União Soviética durante a Guerra Fria.

Além da letra interessante, a música por vezes lembra Rush e outras vezes Jethro Tull, mas de alguma forma, transborda ainda identidade única do Van der Graaf Generator.

“Boat of Millions of Years”, uma gravação das sessões lançada como lado B e não incluída no álbum, é música bem interessante e baseada na mitologia egípcia. Suas letras falam de um conflito entre os deuses Hórus, Osíris e Set.

O álbum “The Least We Can Do Is Wave to Each Other” não apenas representa a estreia oficial do Van der Graaf Generator, mas também marca um ponto crucial na jornada musical da banda, onde suas influências, criatividade e talento se fundem para criar uma obra que transcende gêneros e se destaca como uma expressão única do Rock Progressivo da época. Desde as faixas iniciais até as músicas bônus, o álbum cativa os ouvintes com narrativas envolventes, complexidade musical e uma identidade sonora distinta que continua a ressoar com os fãs da música até os dias de hoje.

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