Na doutrina zaratustriana, antes de o mundo existir, reinavam dois espíritos ou princípios antagônicos: os espíritos do Bem (Aúra-Masda, Espenta Mainiu ou Ormuz) e do Mal (Arimã ou Angra Mainiu). Divindades menores, gênios e espíritos auxiliavam Ormuz a governar o mundo e a combater Arimã e sua legião do mal. Entre essas divindades auxiliares, conforme o Avestá, a mais importante era Mitra, um deus benéfico que exercia a função de juiz das almas. No final do século III, a religião de Mitra fundiu-se com cultos solares de origem oriental, configurando-se no culto do Sol.
Arimã é representado como uma serpente, criador de tudo o que há de ruim (crime, mentira, dor, secas, trevas, doenças, pecados, entre outros). Ele é o espírito hostil e destruidor, que vive no deserto, entre sombras eternas. Aúra-Masda, por sua vez, é o Criador original, organizador do mundo de modo perfeito.
Aúra-Masda é também representado como o divino Lavrador, o que reflete o enraizamento do culto na civilização agrícola, na qual o cultivo da terra era considerado um dever sagrado. No plano cosmológico, ele é o criador do universo e da raça humana, com poderes para sustentar e prover todos os seres, na luz e na glória supremas.
Bem e Mal não são apenas valores morais que regulam a vida cotidiana dos humanos, mas são transfigurados em princípios cósmicos em perpétua discórdia. A luta entre o Bem e o Mal origina todas as alternativas da vida no universo e na humanidade. A vitória definitiva de Aúra-Masda sobre Arimã só poderia ocorrer se Zaratustra conseguisse formar uma legião de seguidores e servidores, forte o suficiente para vencer o Espírito Hostil e expurgar o Mal do universo. Nesse sentido, Bem e Mal são princípios criadores e estruturadores do universo, que podem ser observados na natureza e estão presentes na alma humana. A vida humana é uma luta incessante para atingir a bondade e a pureza, para vencer Angra Mainiu e toda a sua legião de demônios, cuja vontade é destruir o mundo criado por Aúra-Masda.
A doutrina de Zaratustra é escatológica. De acordo com seus preceitos, o mundo duraria doze mil anos. No fim de nove mil anos, ocorreria a segunda vinda de Zaratustra, como um sinal e uma promessa de redenção final dos bons. Isso seria seguido pelo nascimento miraculoso do Saoshyant, semelhante ao Messias hebreu, cuja missão seria aperfeiçoar os bons para o fim do mundo e da história humana, conduzindo à vitória do Bem sobre as forças do Mal. A cada mil anos, surgiria um profeta/messias (Saoshyant).
Assim, nos últimos três milênios, três Saoshyant preparariam a completude do grande ano cósmico. É nesse sentido que Nietzsche menciona Zaratustra como aquele que compreendeu a História em toda a sua completude. Cada ciclo de desenvolvimento da História seria presidido por um profeta, que teria seu hazar, seu reino de mil anos. O Zaratustra histórico, no entanto, anuncia a chegada do tempo em que surgirá da raça persa o Xá Barã, o Senhor Prometido, o Salvador do Mundo, o Grande Mensageiro da Paz.
No final dos tempos, haveria o julgamento derradeiro de todas as almas e a ressurreição dos mortos. Não fica claro se o inferno tem duração eterna, ou se os maus se agitarão eternamente “nas trevas”. Nos Gatas, os cantos de Zaratustra, consta também que o mal poderia ser banido para sempre do universo com o nascimento de um novo mundo, física e espiritualmente perfeito, aqui na Terra. Assim, não seria possível a coexistência de um mundo físico degradado e um mundo hiperfísico perfeito.
Os gregos enfatizaram, no profeta persa, mais a astrologia e a cosmologia do que o dualismo moral. Para eles, Zoroastro é um ser mítico, um astrólogo, o lendário fundador da seita dos magos. Os aspectos cosmológicos, soteriológicos (relativos à salvação do homem), teológicos e morais do Masdeísmo estavam contidos nos pálavis (principalmente no Dencarda), livros baseados no Avestá. No entanto, esses textos estão perdidos.
O dualismo cósmico e teogônico do Masdeísmo está intimamente relacionado ao dualismo moral. Zaratustra, com a sua mensagem divina, provocou uma verdadeira transformação no modo de pensar de sua civilização, contrariando o pensamento tradicional dos sábios de sua época. Sua mensagem baseava-se nos Gatas, hinos cantados com o objetivo de servir de guia para a humanidade, contendo o triplo princípio de boa mente, boas palavras e boas ações. O Bem e o Mal, para Zaratustra, manifestam-se também na alma humana, e a única forma de organizar o mundo e a sociedade é colocando o Bem acima do Mal. O Mal não contribui para a construção de uma vida boa, pois impossibilita uma relação equilibrada entre o ser humano, a sociedade, a natureza e o ser.
Zaratustra propõe que o homem encontre seu lugar no planeta de forma harmoniosa, buscando equilíbrio com o meio (natural e social), respeitando e protegendo a terra, a água, o ar, o fogo e a comunidade. O cultivo da mente, das palavras e das ações boas é uma escolha livre: o indivíduo deve decidir perante as circunstâncias que se apresentam em determinado momento. A boa deliberação, ou seja, uma reflexão cuidadosa sobre cada ação, gera uma responsabilidade social para colaborar com o projeto que Deus propôs ao mundo. Os seres humanos, portanto, possuem livre-arbítrio e são livres para pecar ou praticar boas ações, sendo recompensados ou punidos na vida futura conforme sua conduta.
Os principais mandamentos são: falar a verdade, cumprir o prometido e não contrair dívidas. O homem deve tratar os outros da mesma forma que deseja ser tratado. Assim, a regra de ouro do Masdeísmo é: “Age como gostarias que agissem contigo”.
Entre as condutas proibidas destacam-se a gula, o orgulho, a indolência, a cobiça, a ira, a luxúria, o adultério, o aborto, a calúnia e a dissipação. Cobrar juros de um membro da religião era considerado o pior dos pecados. O acúmulo de riquezas também era reprovado.
As virtudes como justiça, retidão, cooperação, verdade e bondade surgem com o princípio organizador de Deus, Ascha, que só pode se manifestar com o esforço individual de cultivar a Tríplice Bondade. Essa prática do Bem leva ao bem-estar individual e, consequentemente, coletivo. A comunidade só pode surgir quando o indivíduo se vê como autônomo, permitindo-lhe descobrir o outro como pessoa. O ego é valorizado como fonte para o reconhecimento do próximo. Quando cultivado de forma sadia, o ego torna-se forte e poderoso, permitindo que o homem se observe como membro da comunidade e contribua para o bom relacionamento com os outros seres.
Por isso, eram incentivadas as virtudes econômicas e políticas, como a diligência, o respeito aos contratos, a obediência aos governantes, a procriação de uma prole numerosa e o cultivo da terra, como expresso na frase: “Aquele que semeia o grão, semeia santidade”. Havia também outras virtudes ou recomendações de Aúra-Masda: os homens devem ser fiéis, amar e auxiliar uns aos outros, amparar os pobres e ser hospitaleiros.
A doutrina original de Zaratustra opunha-se ao ascetismo. Era proibido infligir sofrimento a si mesmo, jejuar ou suportar dores excessivas, visto que essas práticas prejudicam a alma e o corpo, impedindo os seres humanos de exercerem seus deveres de cultivar a terra e procriar. Essas prescrições fomentavam a temperança, e não a abstinência. Assim, as exortações e interdições destinavam-se a proporcionar uma boa conduta, além de reprimir os maus impulsos.
As revelações e profecias de Zaratustra estão contidas nos Gatas, cinco hinos que formam a parte mais antiga do livro do Masdeísmo, o Avestá. Os Gatas datam do final do II milênio a.C. e foram escritos em uma língua do nordeste do Irã, relacionada ao sânscrito, o avéstico gático. Originalmente, esses hinos eram transmitidos oralmente. Grande parte do Avestá original foi destruída com a invasão de Alexandre Magno e o domínio posterior do Islã. As escrituras sagradas do Masdeísmo, o Avestá ou Zendavestá, como se tornaram conhecidas no Ocidente, significam “comentário sobre o conhecimento”.
O Zoroastrismo é uma das religiões mais antigas e de mais longa duração da humanidade. Após o domínio islâmico do Irã, o Masdeísmo passou a ser religião de uma minoria, que passou a ser perseguida pela nova religião hegemônica. Por isso, parte dos seguidores remanescentes migrou para o noroeste da Índia, onde foi estabelecida a comunidade Parsi. No Irã, permanece ainda a comunidade Zardusti. Atualmente, o número total de seguidores do Masdeísmo (Zoroastrismo) não chega a 120 mil, distribuídos em pequenas comunidades rurais. Por ser uma religião étnica, o Masdeísmo geralmente não permite a adesão de convertidos, mas atualmente há maior flexibilidade, devido à migração, à secularização e aos casamentos entre etnias distintas.
Como já mencionado, a base da doutrina de Zaratustra é o dualismo Bem-Mal. O cerne da religião consiste em evitar o mal por meio de uma distinção rigorosa entre Bem e Mal. Além disso, é necessário cultivar a sabedoria e a virtude por meio de sete ideais, personificados em sete espíritos, os Imortais Sagrados: o próprio Aúra-Masda, concebido como criador e espírito santo; Vohu Mano, o Espírito do Bem; Asa-Vaista, que simboliza a Retidão Suprema; Khsathra Varya, o Espírito do Governo Ideal; Espenta Armaiti, a Piedade Sagrada; Haurvatãt, a Perfeição; e Ameretãt, a Imortalidade. Esses deuses enfrentam constantemente as forças do Mal, como maus pensamentos, mentira, rebelião, doença e morte. O príncipe dessas forças é Angra Mainiu, o Espírito Hostil, também conhecido como Arimã.
A adoração a Aúra-Masda ou Ormuz pode também ser chamada Mazdayasna (Adoração ao Sábio). O culto não requeria templos, pois Deus era representado pelo fogo, considerado sagrado e símbolo de pureza. A chama era mantida constantemente em altares, geralmente situados em lugares elevados das montanhas, onde eram feitas oferendas. Os magos, detentores de segredos e de verdades reveladas, dirigiam os ritos e os cultos – são referidos na Bíblia, no Novo Testamento. O rei da Pérsia teria enviado sacerdotes do Zoroastrismo a Israel, que seguiram uma estrela até Belém, no intuito de encontrar o Salvador, ou Messias.
Zaratustra transmitiu aos magos e adeptos os segredos e a verdade suprema que lhe foram revelados por Aúra-Masda, por meio de um anjo chamado Vohu Manõ. Assim como o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo, o Zoroastrismo também considera a revelação divina como elemento essencial.
A religião Masdeísta diferencia-se das existentes até então não só pelo dualismo Bem-Mal, mas também pelo caráter escatológico. Entre seus dogmas estão a vinda do Messias, a ressurreição dos mortos, o julgamento final e a translação dos bons para o paraíso eterno. Inclui também a doutrina da imortalidade da alma e seu julgamento.
Conforme seus méritos ou pecados, as almas iriam para o mundo dos justos (paraíso), para a mansão dos pesos iguais (purgatório) ou para a escuridão eterna (inferno). Não sepultavam, incineravam ou jogavam os mortos em rios, mas os expunham em altas torres a céu aberto. Os corpos dos justos, salvos da destruição, secariam; já os dos injustos seriam devorados pelas aves de rapina. Assim, Zaratustra pode ser visto como um dos primeiros teólogos da história, por ter erigido um sistema de fé religiosa desenvolvido e estruturado.
Enquanto religião ética, o Masdeísmo possuía a missão de purificar os costumes tradicionais de seu povo, erradicando o politeísmo, o sacrifício de animais e a magia. Com isso, o culto poderia atingir uma dimensão ético-espiritual elevada. Zaratustra pregava que o esforço e o trabalho eram atos santos. Eis algumas frases atribuídas a ele:
- “O que vale mais num trabalho é a dedicação do trabalhador.”
- “Quem lavra a terra com dedicação tem mais mérito religioso do que poderia obter com mil orações sem nada fazer.”
- “Quem diz uma palavra injusta pode enganar o seu semelhante, mas não enganará a Deus.”
- “Deus está sempre à tua porta, na pessoa dos teus irmãos de todo o mundo.”
- “Quem semeia milho, semeia a religião. Não trabalhar é um pecado.”