Artemis como arquétipo da amazona

Artemis é a deusa grega da caça, senhora das feras e dama das montanhas. Ao mesmo tempo em que é caçadora, ela também é protetora dos animais selvagens, formando um paradoxo interessante, típico do gênio grego.

Esse paradoxo se estende à sua relação com os temas do sexo e do amor. Como bem disse Mircea Eliade em seu livro História das crenças e das ideias religiosas, Artemis é, acima de tudo, uma deusa virgem, mas também carrega elementos de uma deusa-mãe.

O paradoxo entre virgindade e maternidade é bastante conhecido no mundo cristão, na figura da Santíssima Virgem Maria.

Entretanto, os gregos viam Artemis de forma diferente da santidade cristã, e talvez devêssemos relativizar a ideia de virgindade tal como a entendemos hoje.

Artemis, de certa forma, mantém uma relação de indiferença em relação ao amor, ao sexo a todo o arrebatamento erótico que ele necessariamente envolve.

Ela seria, portanto, a antítese de Afrodite. No Hipólito, de Eurípides, essa aversão à deusa do amor é claramente expressa.

Artemis governa a vida selvagem, que conhece apenas a fertilidade e a maternidade, não o amor ou o casamento.

Em suma, há um elemento sexual, mas não erógeno — algo que talvez fosse entendido como virginal.

Para Camille Paglia, Artemis é o arquétipo da amazona grega, personificando o impulso intimidador, independente, distante e, curiosamente, frígido. O poeta Ovídio, inclusive, a descreve como uma mulher de recusa sexual fanática.

A amazona arquetipada em Artemis seria a mulher que rejeita a clausura freudiana da inveja do falo. Em vez de internalizar a inveja do homem e cultivar o ressentimento, Artemis toma para si o arco e a flecha como substituto do falo masculino, uma lança penetrante e projetiva.

Ela é afirmação e agressão, representando a ferocidade masculina. Se há algum elemento orgiástico nela, está relacionado à guerra, ao conflito e à provocação.

Para Camille Paglia, ela é o arquétipo feminista ideal (embora rejeitado por outras feministas), sendo uma figura que inspira sua visão. Artemis representa o feminino que presta tributo ao masculino — a entronização simbólica da “lésbica caminhoneira”, que recusa o papel de vítima, de caça.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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