O Anel do Nibelungo é um ciclo de quatro óperas épicas de Richard Wagner.
Esse tipo de obra pode ser analisada tanto do ponto de vista musical, quanto do ponto de vista literário, político e filosófico.
De um ponto de literário, O Anel do Nibelungo de Wagner é um exemplo perfeito de algo que é muito comum na literatura clássica que é a ficcionalização dos mitos. Muitas vezes a literatura se transforma num repositório de mitologias fossilizadas e muitas vezes a literatura acaba até mesmo se tornando um complemento do próprio entendimento da religião. A Divina Comédia de Dante Alighieri, que é uma mistura de cristianismo e épico pagão, é entendida na Enciclopédia Católica como uma obra de arte sacra.
No entanto, devemos ter em mente que o estudo dos mitos é melhor entendido no estudo folclore ou na ciência da religião.
A literatura, na filosofia e até mesmo nas ciências naturais a mitologia é mais uma ferramenta que permite que determinadas ideias se desenvolvam em seus próprios termos. No caso de uma epistemologia naturalista como a psicanálise de Freud, vemos que ele se apropria muito da mitologia para desenhar suas teses, como por exemplo o Mito de Édipo. No entanto, não podemos dizer que o sentido ortodoxo do Mito de Édipo seja o freudiano.
No caso da literatura, vemos como ela se apropria de heróis e deuses e os transforma em personagens. No caso do Anel de Nibelungo, o que vemos não é a vocalização da religião pagã germânica original. O Anel de Nibelungo é tão somente a expressão do próprio espírito de Richard Wagner.
A obra de Wagner nasce de diversas lendas germânicas contadadas na tradição oral e, especialmente, é baseada numa outra obra literária chamada Canção dos Nibelungos, que é um poema épico, provavelmente escrito por um cristão (o bispo de Passau) na Idade Média por volta de 1200 – o mesmo poema que influenciou, inclusive, O Senhor dos Anéis de J.R.R. Tolkien.
Wagner escreveu o libreto e a música por cerca de vinte e seis anos, de 1848 a 1874.
Os dramas musicais que compõem o chamado Ciclo do Anel são, em ordem cronológica: O Ouro do Reno, A Valquíria, Siegfried e O Crepúsculo dos Deuses.
A obra foi modelada na matemática dos dramas do teatro grego: três peças trágicas e uma satírica.
A música do ciclo é forte, e cresce em complexidade com o desenrolar da história. Wagner escreveu para uma orquestra de grandes proporções, incluindo novos instrumentos de sua própria criação como a trompa wagneriana.
Apesar das óperas serem apresentadas como obras individuais, a intenção de Wagner era apresentá-las em série, o que daria algo entre 15 e 18 horas de execução, depdendendo do tempo dos invervalos.
A Canção dos Nibelungos
A Canção dos Nibelungos é uma implementação medieval alemã de um grupo de lendas cuja origem remonta à heróica época das migrações dos povos bárbaros, em que várias tribos germânicas invadiram o Império Romano e colonizaram vastas áreas da Europa ocidental.
A Canção dos Nibelungos está baseada em motivos heróicos germânicos pré-cristãos que, além de compreender as lendas dos Nibelungos (que é um povo formado por anões), se mistura a antigas tradições orais com eventos e personagens históricos dos séculos V e VI. Lendas sobre os mesmos temas existem em várias sagas da língua nórdica antiga, como a Saga dos Volsungos e a Edda em prosa.
É interessante apresentar esse contexto pois temos que ter em mente que O Anel do Nibelungo de Wagner é uma obra derivada de uma matriz que também é derivada de outros retalhos de histórias, muitas delas que estavam apenas pairando na tradição oral.
A autoria
A autoria da Canção dos Nibelungos é desconhecida.
No entanto, há uma citação num poema anexo chamado “Lamentação dos Nibelungos” que indica que um tal “mestre Conrado” foi encarregado de transcrever a história para “o peregrino de Passau”, que recolheu as histórias por volta do ano de 971.
Este peregrino era um cristão que evangelizou um vasto território ao longo do Danúbio a leste do Ducado da Baviera. Este mesmo homem misterioso também foi citado como fonte na “Canção de Gudrun”, outro texto da mitologia nórdica.
Longe da caricatura tenebrosa que fazem por ai, o peregrino de Passau era provavelmente um homem desarmado, de sandálias e crucifixo na mão. Engraçado notar que o Cristianismo, antes de se tornar soberano na Europa, cumpria um certo papel jornalístico.
O cristão estava sempre esteve a espreita de tudo – registrando, tomando notas e traduzindo, pois necessitava se comunicar com os vilarejos que ele desejava evangelizar.