O Nāsadīya Sūkta, também conhecido como o Hino da Criação, é o 129º hino do 10º mandala do Rigveda (10:129) e, como o próprio nome já diz, esse hino é um hino cosmogônico, ou seja, trata da origem do universo.
O hino começa com uma descrição do estado primordial do universo, onde “não havia distinção entre existência e não-existência”.
Sua estrutura parece ser fruto de um sucessivo e até exaustivo processo de fragmentação dos conceitos em busca de uma partícula fundamental. A origem, portanto, seria um estado de indeterminação, de ausência de dualidade e de potencial infinito que converge naturalmente para uma ideia de unidade primordial.
É bem difícil classificar o hinduísmo na separação vulgar de monoteísmo e politeísmo ou, o primo mais distante e esquecido desta equação que é o henoteísmo (onde se cultua um deus sem negar a existência de outros, o que muitos entendem como monolatria politeísta). O próprio cristianismo tem uma unidade complexa de um único Deus manifestado nas três pessoas da Trindade, fazendo com que Chesterton construísse o belíssimo paradoxo na ideia de “um Deus único, mas não solitário”.
Talvez, a sagacidade da religião indiana seja propositalmente enganosa naquilo que anuncia (não em um sentido negativo), já que o Hino da Criação, no final das contas, não apresenta uma cosmogonia, ou mesmo um mito da criação semelhante aos encontrados em outros textos religiosos. A única coisa que se afirma é que o universo foi criado por um “quem”, num “quando” e talvez motivado por um “porquê”.
Esse hino não é conhecido por não oferecer uma narrativa direta do que de fato aconteceu; pelo contrário, ele tem caráter dedutivo. Ele pondera quando, por que e por meio de quem o universo surgiu em um tom contemplativo, mas não fornece respostas definitivas.
Em vez disso, o hino conclui que os próprios deuses também podem não saber, pois vieram depois da criação.
Sim, o Nāsadīya Sūkta é um raro caso de teogonia agnóstica.