Todos sabem que a centralidade do poder no Egito decorreu do Nilo. O Nilo foi a principal fonte de prosperidade da região, proporcionando uma terra fértil e, além disso, era facilmente navegável, facilitando a administração. O Egito estabeleceu-se nas proximidades deste rio sagrado e tornou-se visivelmente superior a todas as aldeias neolíticas ao redor.
O que foi mais admirável no Egito é que ele era um símbolo de autocracia, diferenciando-se tanto de Roma quanto de Cartago, que se desenvolviam através de dinamismos distintos. Enquanto Roma crescia por meio de conquistas e Cartago através do comércio, o Egito prosperava sendo simplesmente Egito, mantendo-se imóvel.
Sua prosperidade cresceu durante quinze séculos e só estagnou porque não havia mais como enriquecer. Após a quinta dinastia (por volta de 2500 a.C.), o Egito permaneceu em uma autossuficiência que, embora não crescesse mais, não entrou em decadência.
Segundo o egiptólogo Henri Frankfort (autor de ‘Ancient Egyptian Religion: An Interpretation’ – uma das obras citadas por Eliade em “Histórias das Crenças e Ideias Religiosas – Parte I: Da Idade Média aos Mistérios de Elêusis”), é surpreendente notar a completa ausência de revoltas populares ou tensões sociais no Egito (com exceção dos hebreus).
Em todas as religiões, existe a noção de um “centro imóvel” ao redor do qual toda a existência orbita. Isso é, inclusive, o significado tradicional do “trono” dos reis, como bem explica Evola. Um rei governa quando está sentado (imóvel) em seu trono, não enquanto caminha. Ser peripatético é uma atividade dos filósofos gregos ou dos oradores romanos.
A religiosidade do Egito era “monarquica” pois convergia para um “centro imóvel”, que não era questionado.
Não é surpreendente que o Egito tenha se tornado monoteísta antes mesmo de qualquer influência hebraica.
Tudo isso provém do Rio Nilo, que no Egito não possui afluentes (ele só se divide na região do Sudão). Portanto, aquilo que é único deve ser considerado melhor do que aquilo que se ramifica; aquilo que centraliza é mais organizado (e, por conseguinte, melhor) do que aquilo que se dispersa e se espalha.
O Nilo foi um pedagogo teológico do Egito.