Hako Yamazaki: Melancolia, Falência e Sonhos

Hako Yamazaki, nascida em 1957 na cidade de Hita, é uma cantora e compositora folk japonesa.

Seu pai era agricultor, e sua mãe administrava um pequeno restaurante. Sua jornada musical teve início durante o ensino médio em 1973, quando ingressou na Escola Secundária Yokohama Gakuen, voltada para meninas e focada em artes e ciências criativas. Hako começou a estudar violão e canto, destacando-se pelo talento e vencendo concursos locais.

Descoberta em 1975 pela New Sound, uma agência musical local, aos 18 anos ela assinou contrato com o selo folk Elec Records, uma gravadora independente fundada em 1969. Antes mesmo de gravar seu primeiro disco, Hako já havia escrito mais de 50 músicas.

Em sua estreia como artista, descobriu que sofria de pancreatite crônica, o que a levou a evitar sobrecarregar sua saúde com apresentações extensas pelo Japão, prejudicando sua exposição. Apesar do alcance de popularidade médio, seus discos eram marcados por tristeza e paixão, abordando problemas femininos e dramas humanos com imagens folclóricas.

Suas músicas, cantadas em dialeto Kyushu, a língua tradicional das províncias de Fukuoka, Oita e Miyazaki, a diferenciavam das cantoras de sua época. Com um pequeno grupo de seguidores fiéis, sua projeção estava principalmente restrita a apresentações modestas.

Pelo tom paradoxalmente suave e sombrio de suas músicas, Hako foi convidada a criar a música tema do filme de terror independente “Jigoku” (Inferno), de 1979, dirigido por Tatsumi Kamishiro. Compondo duas faixas, “Kokoro Dake Aishete” e “Kyodai Shinju”, esta última ganhou projeção pela letra polêmica, descrevendo a história chocante de uma mãe que comete adultério e seus filhos (um casal) que comete atos de incesto e a queda de todos no inferno.

A música foi rapidamente banida das rádios locais, contribuindo para um certo ostracismo na carreira de Hako. Em 1981, ela compôs músicas para o filme “Seishun no Mon” (O Portão da Juventude), dirigido por Kinji Fukasaku e Koreyoshi Kurahara, um filme político sobre um trabalhador das minas de carvão de Fukuoka.

Apesar de não se envolver diretamente em protestos políticos e concentrar-se mais em seu universo introspectivo, a cena folk do Japão estava associada aos movimentos de esquerda e estudantis. Na década de 80, esses movimentos perderam força entre os jovens devido às mudanças sociais e ao “milagre econômico japonês”.

A urbanização crescente encontrou resistência nas gerações mais velhas, apegadas às tradições religiosas e à nostálgica classe artística folk, na qual Hako estava inserida. Apesar de tentar se adaptar ao novo cenário, ela não conseguiu criar algo como o City Pop, o que a levou a abandonar temporariamente a música e se dedicar ao teatro, destacando-se como atriz em dramas de TV.

Após o declínio de sua companhia de teatro, Hako se viu obrigada a trabalhar lavando louças para um restaurante chinês. Enquanto isso, suas músicas gradualmente se tornavam conhecidas. Em um momento pitoresco enquanto lavava louças, ouviu sua própria voz na rádio, sem saber que poderia estar ganhando royalties, uma palavra que lhe era desconhecida.

Era uma mulher do campo, introspectiva e avessa ao mundo urbano. Somente após os anos 2000, ao se casar com o guitarrista Hiromi Yasuda, Hako começou a ganhar dinheiro e a se dedicar novamente à carreira musical, embora sua projeção ainda fosse modesta.

Em síntese, a jornada de Hako Yamazaki é uma mensagem de esperança. Um testemunho que mostra que adaptabilidade, decepções e falências coexistem com sonhos e que estes, muitas vezes, não se concretizam no tempo imediato. Sua música foi espalhada como sementes e floresceram. Pode parecer piegas, mas acredite.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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