A segunda bucólica de Virgílio aborda a temática homossexual ao retratar o amor do velho e curvado pastor Coridão pelo jovem e belo Alexis, seu escravo.
O drama se desenrola nas inúmeras tentativas de cortejo de Coridão para com Alexis, que o ignora e até o despreza em todas as ocasiões, até o fim do poema.
Embora o tema da homossexualidade salte aos olhos hoje em dia, essa bucólica poderia ter incitado outras reflexões na época em que foi escrita – inclusive, poderia ter um caráter muito mais subversivo do que se imagina.
Considerando o contexto, o velho Coridão não precisaria de todo esse cortejo para usar o corpo de Alexis como bem entendesse.
Segundo a lei romana, Alexis seria sua propriedade e seu objeto de uso pessoal.
As leis que penalizavam crimes sexuais em Roma, como a Lex Scantinia, não abrangiam os escravos, apenas os cidadãos livres.
O status quo romano concedia a Coridão, o arquétipo da elite romana, o direito de fazer o que bem entendesse com suas posses.
O elemento subversivo do poema de Virgílio é mostrar a frustração de Coridão diante daquilo que sempre foi impenetrável para a elite romana: a alma. Algo que se tornaria mais evidente com o advento do Cristianismo.
Roma dominava os territórios e assimilava as culturas locais em um esforço populista e imperioso, mas não conseguia atingir aquilo que considerava mais importante: os corações dos seus dominados. Isso gerava uma fonte de frustração, mas também de respeito.
O poema não é sobre Coridão, mas sobre Alexis, que o ignora e se torna uma fonte de respeito para seu próprio mestre. Coridão o eleva ao nível de um ser humano de igual dignidade e vontade própria. Como tal, ele não deseja simplesmente submeter Alexis aos seus caprichos carnais, mas convencê-lo a estar com ele – algo que não consegue.