Écloga II – Virgilio, Homoafetividade e Sociedade Romana

A segunda bucólica de Virgílio aborda a temática homossexual ao retratar o amor do velho e curvado pastor Coridão pelo jovem e belo Alexis, seu escravo.

O drama se desenrola nas inúmeras tentativas de cortejo de Coridão para com Alexis, que o ignora e até o despreza em todas as ocasiões, até o fim do poema.

Embora o tema da homossexualidade salte aos olhos hoje em dia, essa bucólica poderia ter incitado outras reflexões na época em que foi escrita – inclusive, poderia ter um caráter muito mais subversivo do que se imagina.

Considerando o contexto, o velho Coridão não precisaria de todo esse cortejo para usar o corpo de Alexis como bem entendesse.

Segundo a lei romana, Alexis seria sua propriedade e seu objeto de uso pessoal.

As leis que penalizavam crimes sexuais em Roma, como a Lex Scantinia, não abrangiam os escravos, apenas os cidadãos livres.

O status quo romano concedia a Coridão, o arquétipo da elite romana, o direito de fazer o que bem entendesse com suas posses.

O elemento subversivo do poema de Virgílio é mostrar a frustração de Coridão diante daquilo que sempre foi impenetrável para a elite romana: a alma. Algo que se tornaria mais evidente com o advento do Cristianismo.

Roma dominava os territórios e assimilava as culturas locais em um esforço populista e imperioso, mas não conseguia atingir aquilo que considerava mais importante: os corações dos seus dominados. Isso gerava uma fonte de frustração, mas também de respeito.

O poema não é sobre Coridão, mas sobre Alexis, que o ignora e se torna uma fonte de respeito para seu próprio mestre. Coridão o eleva ao nível de um ser humano de igual dignidade e vontade própria. Como tal, ele não deseja simplesmente submeter Alexis aos seus caprichos carnais, mas convencê-lo a estar com ele – algo que não consegue.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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