“Espaços liminares” referem-se a locais vazios ou abandonados que transmitem uma sensação de desolação, frequentemente combinada com uma atmosfera surreal e assustadora. Esses espaços são, em sua essência, lugares de transição.
De maneira geral, o termo “espaço liminal” descreve lugares ou estados de mudança, que podem ser físicos (como uma soleira de porta) ou psicológicos (como o período da adolescência). As imagens desses espaços capturam a sensação de estar “no meio”, retratando locais transicionais — como escadas, rodovias, corredores ou hotéis — de forma inquietante e desprovida de pessoas. A estética desses lugares pode evocar sentimentos de surrealidade, nostalgia, tristeza ou estranheza, provocando tanto conforto quanto inquietação.
Uma pesquisa publicada no Journal of Environmental Psychology sugere que os espaços liminares podem provocar sensações de estranheza e desconforto, pois se situam em um “vale misterioso” (uncanny valley) da arquitetura e do espaço físico. De acordo com um artigo no Pulse: The Journal of Science and Culture, essa sensação de estranheza está relacionada a lugares familiares que, por estarem desprovidos de seu contexto habitual, parecem deslocados.
Pete Heft, no Pulse: The Journal of Science and Culture, também explora esse conceito, baseando-se nas ideias de Mark Fisher. Heft argumenta que a sensação de estranheza se intensifica quando um indivíduo encontra uma situação em um contexto inesperado. Por exemplo, uma escola, normalmente associada a um ambiente movimentado, torna-se desconcertante quando retratada de forma vazia e desolada. Fisher descreve essa “falha de presença” como uma característica central da experiência estética da estranheza.
Um fenômeno similar é estudado para explicar nosso medo das famosas figuras sem rosto, comuns em histórias folclóricas de todo o mundo, como a lenda do Noppera-bō. Quando vemos esse “fantasma sem rosto”, sentimos desconforto, pois, onde deveriam estar os olhos, a boca e o nariz, não há nada.
No entanto, os lugares de transição sempre foram uma constante em nossa memória religiosa e acho que isso explica melhor nossa sensação de estranheza. A liminaridade assusta porque está intimamente ligada à ideia de morte. Mircea Eliade afirma que as primeiras manifestações religiosas foram formadas a partir de ritos funerários.
Ritos funerários são, em todas as culturas, ritos de passagem.
Um exemplo clássico de liminariedade, nesse sentido espiritual e sombrio, pode ser visto no segmento 4 do filme Sonhos, de Akira Kurosawa. Nesse trecho, um viajante misterioso atravessa um túnel enquanto é seguido por um yūrei (fantasma) de um soldado morto. O túnel no filme tem um significado cósmico e simbólico, representando a afunilação dos fluxos entre dois universos: o dos vivos e o dos mortos.
A ideia da morte é, por excelência, a ideia liminar, pois o ser humano, de forma misteriosa, sempre entendeu a vida como uma antessala de outra. A morte seria o limiar absoluto, a tênue borda entre o fim de uma vida e o início de outra. Por isso, em todas as culturas, o limiar é entendido como um túnel, um corredor ou uma correnteza.
Assim, os espaços liminares geram apreensão.