A lenda urbana de Peko-Chan

A Fujiya Food Service Co., Ltd. é uma rede nacional de confeitarias e restaurantes no Japão. Sua primeira loja foi fundada em 1910, em Yokohama.

O mascote da Fujiya é a Peko-chan, uma menina de tranças que lambe os lábios.

Peko-chan é um ícone de marketing muito conhecido no Japão. Bonecos em tamanho natural da mascote são comumente vistos por todo o país.

Peko-chan nasceu como a personificação da nostalgia, representando a própria marca Milky e, com o passar do tempo, tornou-se parte integrante da paisagem japonesa.

Muitos nem a percebem, mas ela pode ser encontrada literalmente em todos os lugares.

Sua presença constante no cotidiano japonês se tornou o palco de lendas urbanas que se misturam e se entrelaçam com histórias do folclore mais tradicional.

A aparência amigável de Peko-chan começou, com o tempo, a se tornar sinistra. Enquanto as lojas fechavam e as ruas ficavam desertas, Peko-chan permanecia lá, com os olhos arregalados, observando tudo.

A cada estação que você descia, lá estava ela: de Shinjuku a Nishiguchi, de Wakamatsu a Kawada, de Ushigome a Yanagicho. Parecia que você estava sendo perseguido.

Assim como as histórias tradicionais de fantasmas e demônios, incrivelmente universais, as lendas urbanas compartilham características semelhantes, e, curiosamente, o terror geralmente prevalece. O terror é e sempre foi o tipo de história preferida pelo ser humano, desde as reuniões ao redor do fogo até os dias atuais.

A marca Milky nasceu de uma crise alimentar pós-guerra e da necessidade de alimentos prontamente disponíveis durante tempos de dificuldades econômicas.

Em meio à crise alimentar, doces eram sustento e, ao mesmo tempo, considerados extravagâncias.

Enquanto os bonecos da Peko-chan preenchiam os espaços dos metrôs, vielas e até templos, uma incômoda e crescente imaginação se desenvolvia, dando origem a uma narrativa completa.

Dizem que Peko-chan é baseada na história de uma menina de seis anos, cuja própria mãe cortou parte de seu braço para alimentar seu filho faminto durante uma fome.

Insaciável e faminta, a menina acabou se transformando em um monstro e devorou a própria mãe.

Casos de canibalismo em tempos de crise não são novidade no Japão. Os piores relatos vieram de soldados americanos em um caso tenebroso (e confirmado) conhecido como o “Incidente de Chichijima”.

A história já provou que os japoneses podem oscilar entre a extrema cordialidade e a extrema violência.

À medida que uma história se acopla a outra, os vácuos são preenchidos com fios narrativos cada vez mais crípticos.

Atribui-se a isso a origem do estranho slogan da personagem: “Milky tastes like mama” (“Milky tem gosto de mamãe”).

O nome de Peko-chan faz referência à onomatopeia japonesa “peko peko” – o som que um corpo faminto faz.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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