O profeta Jeremias, conhecido como o “profeta chorão” devido à sua profunda angústia e compaixão pelo povo de Judá, viveu durante um dos períodos mais turbulentos da história de Israel.

Jeremias é um dos profetas bíblicos sobre quem temos mais informações pessoais. Sua vida e mensagem são registradas no Livro de Jeremias, um dos maiores livros proféticos da Bíblia, e no Livro das Lamentações, que tradicionalmente lhe é atribuído.

A alcunha de “chorão” é interessante, pois uma das características mais marcantes de sua mensagem é o grande número de confissões e alusões aos seus sentimentos pessoais. Normalmente, suas orações são carregadas de lamento: “Por que é a minha dor perpétua, e minha ferida incurável, e recusa-se a ser curada? Serias Tu para mim como um mentiroso, e como águas que falham?” (Jeremias 15:18).

Confesso que não ousaria dizer algo assim a Deus, mas Jeremias disse. Ele foi ousado, mas é salutar lembrar que nem todos têm a mesma intimidade com o Senhor. Nem sempre é prudente agir assim.

Jeremias nasceu por volta de 650 a.C. em Anatote, uma cidade próxima a Jerusalém, e exerceu seu ministério profético durante os reinados dos últimos reis de Judá, incluindo Josias, Jeoaquim e Zedequias. Seu ministério ocorreu em um momento crítico, quando o reino de Judá enfrentava a ameaça do Império Babilônico (o “povo vindo do Norte”), liderado por Nabucodonosor II. Ele testemunhou a queda de Jerusalém e a destruição do Templo em 586 a.C., eventos que marcaram o fim do reino de Judá e o início do exílio babilônico.

Chamado por Deus ainda jovem (Jeremias 1:4-10), Jeremias relutou inicialmente, alegando sua inexperiência. No entanto, Deus o encorajou, dizendo que o havia escolhido antes mesmo de seu nascimento e que o capacitaria para a tarefa. Sua missão era alertar o povo de Judá sobre o julgamento iminente de Deus devido à idolatria, injustiça social e rebeldia contra os mandamentos divinos. Ele também foi chamado para pregar arrependimento, embora soubesse que o povo não o ouviria. Essa é uma das nuances mais interessantes de sua história: a angústia de não querer ser profeta e a certeza de que não seria ouvido.

A mensagem de Jeremias era dura, tanto para ele quanto para o povo, mas necessária. Ele denunciou a corrupção dos líderes religiosos e políticos, a idolatria generalizada e a falsa sensação de segurança que o povo tinha por causa do Templo de Jerusalém (Jeremias 7:4). Ele profetizou que, se o povo não se arrependesse, Jerusalém seria destruída e o povo seria levado para o exílio.

Seus avisos, no entanto, lhe renderam apenas perseguições. Ele foi rejeitado por sua própria família, preso, espancado e até mesmo jogado em uma cisterna para morrer (Jeremias 38:6). Muitos o consideravam um traidor por pregar a submissão à Babilônia como parte do plano de Deus. Apesar disso, Jeremias permaneceu fiel à sua missão, mesmo quando isso significou solidão e dor.

No entanto, Deus não apenas concedeu a Jeremias a intimidade de compartilhar suas angústias, mas também o privilégio de anunciar a redenção: ele previu a restauração futura de Judá e a vinda de uma nova aliança (Jeremias 31:31-34), que seria escrita nos corações do povo, em vez de em tábuas de pedra. Essa profecia é vista como um prenúncio da aliança estabelecida por Jesus Cristo no Novo Testamento.

Gosto de imaginar o “profeta chorão” chegando ao céu, ainda com seu ar sério, e Deus lhe dando tapinhas nos ombros, revelando os privilégios e o impacto eterno de sua mensagem.

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