Gilles de Rais é um dos personagens mais emblemáticos da história da França.
Ele foi líder do exército francês e um companheiro de armas de Santa Joana d’Arc, lutando ao seu lado contra os ingleses até o fim do cerco de Orleans.
Poucas pessoas tiveram a oportunidade de marcar a história de forma tão gloriosa quanto ele. Imagine o privilégio que deve ser lutar ao lado de uma santa, de vê-la descansando entre pinheiros-silvestres e bétulas.
No entanto, ele não é conhecido por isso, mas por coisas muito mais inglórias.
Entre 1434 e 1435, depois da guerra, ele se aposentou da vida militar e esgotou sua riqueza encenando um espetáculo teatral extravagante de sua própria composição.
A peça Le Mistère du Siège d’Orléans, de sua autoria, o levou à falência. Eram seiscentos figurinos construídos, usados uma vez, descartados e reconstruídos para apresentações subsequentes. Rais também providenciava em seus espetáculos suprimentos ilimitados de comida e bebida aos espectadores.
Com as dívidas crescendo e ele gradativamente perdendo suas propriedades, há quem diga que ele ficou louco.
Sua fama de herói da França ficou esquecida e ele era conhecido, talvez de forma injusta, apenas como gastador excêntrico e artista falido.
Foi então que ele, sem o amparo de uma boa reputação, resolveu envolver-se com o ocultismo. Gilles conheceu um misterioso bretão itinerante que o apresentou ao mundo da magia e então iniciou seus primeiros experimentos no salão inferior de seu castelo em Tiffauges, tentando convocar um demônio chamado Barron. Sua intenção era formar um contrato com o demônio para obter riquezas e continuar financiando sua peça falida.
Como nenhum demônio se manifestou após três tentativas, o marechal ficou frustrado com a falta de resultados. Gilles dizia que Barron estava com raiva e exigia a oferta de partes de uma criança.
O primeiro caso documentado de sequestro e assassinato de crianças diz respeito a um garoto de 12 anos chamado Jeudon.
Segundo os relatos, o garoto foi mimado e vestido com roupas melhores do que ele jamais conhecera. A noite começou com uma refeição grande e muita bebida, batizada com substâncias estimulantes.
O menino foi levado para uma sala superior, onde apenas Gilles e seu círculo imediato eram admitidos.
Lá ele foi confrontado pela verdadeira natureza de sua situação. O choque assim produzido no menino foi uma fonte inicial de prazer para Gilles.
Étienne Corrillaut, assistente de Rais, conhecida como Poitou, foi cúmplice em muitos dos crimes e testemunhou que seu mestre despiu a criança e o pendurou com cordas em um gancho para impedir que ele gritasse, depois se masturbou na barriga ou nas coxas da criança.
Rais depois cortou a criança e guardou os pedaços dela em um vaso de vidro, que seria usado em uma evocação futura.
No entanto, não havia sucesso em nenhuma das evocações, e os experimentos ocultos malsucedidos o deixaram amargo, enquanto sua riqueza se esgotava ainda mais.
Depois de 1432, Rais foi oficialmente acusado de se envolver em uma série de assassinatos de crianças, com vítimas que chegavam a centenas. O número de assassinatos é geralmente colocado entre 80 e 200; alguns conjeturaram mais de 600.
Inicialmente, os assassinatos eram tentativas frustradas de agradar o demônio Barron. No entanto, as mortes já não tinham outro propósito senão a satisfação do próprio Gilles, que havia encontrado nesses atos grotescos uma fonte de prazer.
Segundo os relatos, se a vítima fosse um menino, ele normalmente tocava seus órgãos genitais (particularmente os testículos) e nádegas. Depois disso, as vítimas eram mortas por decapitação, corte de garganta, desmembramento ou quebra de pescoço. Uma espada curta, grossa e de dois gumes chamada braquemard era mantida à mão para os assassinatos. Poitou testemunhou ainda que Rais às vezes abusava das vítimas (meninos ou meninas) antes de feri-las.
Os assassinatos terminaram em 1440, quando uma violenta disputa com um clérigo levou a uma investigação eclesiástica que trouxe à luz os crimes.
No julgamento, os pais de crianças desaparecidas na região e os próprios funcionários de Rais testemunharam contra ele, que foi condenado à morte e enforcado em Nantes em 26 de outubro de 1440.
Em sua própria confissão, Gilles testemunhou que quando as crianças mencionadas estavam mortas, ele as beijava e aquelas que tinham os membros e cabeças mais bonitas ele erguia para admirá-las. Elas também tinham seus corpos cruelmente abertos e Rais se deliciava ao ver seus órgãos internos e, muitas vezes, quando as crianças estavam morrendo, ele sentava-se de bruços e sentia prazer em vê-las morrer.