Inteligência Artificial, Literatura e Humanidade

A inteligência artificial é hoje um tema que se ramifica em diversos temas diferentes.

Um dos temas mais intrigrantes desse assunto é a “necromancia digital”, onde uma pessoa tenta conjurar algum parente falecido colocando todas as informações que possui sobre ele em uma máquina capaz de encadear esses dados e renderizá-los em um template.

Esse template é criado por meio de técnicas avançadas de processamento de linguagem natural e aprendizado de máquina. Esse processo envolve a análise de grandes volumes de texto, como mensagens, posts em redes sociais, e-mails, blogs, ou outros escritos, identificando padrões de linguagem, escolha de palavras, tom emocional e expressões específicas que caracterizam a personalidade da pessoa.

Além disso, o uso de modelos de linguagem avançados, como o GPT, treinados em grandes conjuntos de dados, permite a compreensão e geração de texto de maneira natural. Esses modelos podem ser ajustados para se tornarem mais personalizados com base nos dados específicos da pessoa em questão. A análise de mídia, como registros de áudio ou vídeo, também contribui para capturar características vocais, padrões de fala e expressões faciais, melhorando a representação da personalidade.

O histórico de comportamento online, incluindo interações em redes sociais, pesquisas na web e compras, é utilizado para entender preferências, interesses e comportamentos, contribuindo para uma representação mais precisa da personalidade. A IA pode interagir com usuários de maneira semelhante à pessoa em questão, aprendendo com o feedback dessas interações para refinar continuamente a representação da personalidade.

Algoritmos de aprendizado de máquina, como redes neurais, desempenham um papel crucial, sendo treinados para reproduzir padrões comportamentais e linguísticos observados nos dados da pessoa criando um fantasma digital.

Esse fantasma interage com as pessoas próximas de maneira tão convincente que é capaz de emocionar até mesmo os parentes mais íntimos.

No entanto, sabemos que todos os dados computados pelas inteligências artificiais são apenas os que foram externalizados e se tornaram dados no mundo sensível.

Aquilo que expressamos no mundo é apenas uma fração muito imperfeita do nosso universo interior e muitas vezes pode ser o oposto exato do que somos.

Um indivíduo pode passar a vida inteira sendo uma pessoa no meio público e o oposto na sua vida interna, incluindo a pessoa que você acha que conhece.

Nem você, muito menos a tecnologia da informação consegue contemplar aquilo que não é informado.

A ciência até rejeita o anedótico como método.

Ter contato com a literatura, especialmente do século XVIII, faz você perceber que todo processo de expressão (escrita, fala) é pontuado por uma inadequação angustiante entre o seu universo interior e os símbolos disponíveis para sua expressão.

Uma máquina pode simular agonia, mas a agonia específica de Gregor, personagem de Kafka em Metamorfose, só poderia encontrar sua expressão completa no absurdo de uma mutação simbólica de um homem em um inseto.

Em resumo: pra quem está acostumado com literatura de gente grande, inteligência artificial é apenas um brinquedo novo.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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