Roger Penrose explica a física quântica em seu livro “A Mente Nova do Imperador”, propondo ao leitor a suposição de dois níveis diferentes possíveis para a descrição de sistemas: o nível clássico e o nível quântico propriamente dito.
O nível quântico é o nível das moléculas, átomos, partículas subatômicas, etc. Ele normalmente é pensado como o nível dos fenômenos de “pequena escala”, mas Penrose deixa claro que essa “pequenez” não se refere ao tamanho físico — diferente do que a maioria das pessoas, como eu, por exemplo, sempre achava.
Os efeitos quânticos, como bem explica Penrose, podem ocorrer ao longo de distâncias que atravessam metros, até mesmo anos-luz.
Seria mais próximo da verdade dizer que algo está “no nível quântico” se ele envolve somente pequenas diferenças de energia.
O nível clássico é o nível macroscópico, com o qual estamos acostumados diretamente. É um nível no qual nossa intuição ordinária sobre como o “mundo funciona” é verdadeira e onde podemos usar as ideias ordinárias da probabilidade, onde podemos lidar melhor com as certezas.
A nível quântico, lidamos mais com incertezas do que com certezas.
O nível quântico é tão complexo que há um conceito chamado “superposição”, que descreve a possibilidade de partículas quânticas existirem em múltiplos estados simultaneamente (lembrem-se do gato de Schrödinger). Por exemplo, um elétron pode estar em vários locais ao mesmo tempo até que uma medição seja feita.
Há também o princípio da incerteza de Heisenberg, que diz que é impossível conhecer simultaneamente a posição e o momento de uma partícula com precisão infinita.
Há também o entrelançamento quântico, que é um princípio que diz que o estado de uma partícula instantaneamente afeta o estado de outra, independente da distância que as separa.
Muitos físicos têm a visão de que a teoria quântica meramente fornece um meio de calcular as probabilidades e não descrever com exatidão objetiva o mundo físico.
Aliás, muitos físicos dizem que essa exatidão objetiva seja impossível de descrever, o que Roger Penrose diz ser um pessimismo injustificável — o que eu concordo.
No entanto, o que é impressionante nesse fato é que a física quântica, talvez o último dos grandes saltos científicos da humanidade, nos revelou que a nossa realidade é, talvez, tão crítica do que aquela outra realidade que filósofos antigos e religiosos descreviam, a realidade do além-mundo.
Saímos da física clássica para um novo paradigma; no entanto, ao invés de entendermos mais nossa realidade, descobrimos entender menos.
Imagine passar séculos imersos numa falsa certeza de precisão e, no avanço da ciência, ir se deparando com uma coletânea quase interminável de princípios complexos.
A física quântica inaugura no imaginário científico algo similar à perplexidade kantiana da própria existência, sem, no entanto, determinar algum princípio ou ato que ancore a pessoa em alguma pista que justifique a sua própria existência (como no “cogito ergo sum”).
G.K. Chesterton (poeta, filósofo, ensaista, comediante e profeta) uma vez disse que haverá um dia em que “chegará o dia em que teremos que provar que a grama é verde“.
O espectro da luz visível é a parte do espectro eletromagnético que nossos olhos conseguem perceber e abrange uma faixa de comprimentos de onda de aproximadamente 380 a 750 nanômetros. Dentro desse espectro, a luz verde está localizada entre cerca de 495 e 570 nm.
Talvez os físicos materialistas, de tanto olhar pra “grama”, começaram a não mais ver o “verde”, mas apenas o comprimento de onda da luz visível variando nos indicadores numéricos prosaicos cientificamente estabelecidos; um denominador preciso, laico e inclusivo, “colorblind-friendly” — afinal, daltônicos não enxergam o mesmo verde que enxergamos.
Nesse momento, talvez seja salutar que os cientistas, especialmente os físicos teóricos, antes que comecem a teorizar sobre “multiversos” e comecem a achar que “vivemos numa Matrix” (entre outras bobagens pseudo-filosóficas), seria salutar que eles arejem suas cabeças no completo abandono do mistério e na ética do país das fadas que Chesterton oferecia.
Precisamos provar que a grama é verde, e é verde pois está enfeitiçada — ou porque Deus quis.