O termo “nada” normalmente representa a ausência não apenas de algo, mas de tudo, encapsulando a ideia de uma ausência absoluta e de não-existência. Nas tradições das escrituras sagradas, Deus cria o mundo do nada —ex nihilo — transformando a inexistência em existência. O nada, portanto, é um estado da realidade que precede a própria realidade e qualquer noção de estado. Na verdade, as categorias de “antes” e “depois” não se aplicam, pois não há um “antes” do nada.
No existencialismo, o nada se torna o fundamento da condição humana, revelando a angústia diante da morte, a liberdade absoluta e a distância em relação ao ser. Para filósofos como Parmênides e Descartes, o nada é algo que não pode ser concebido ou expresso. Aristóteles e Newton, por sua vez, diferenciavam o vazio do nada, afirmando que o vazio pressupõe a existência de espaço, um receptáculo onde os objetos materiais se acomodam.
Kant, em sua análise, subdividiu o conceito de nada em quatro categorias. O primeiro, ens rationis, refere-se ao “ser do raciocínio”, algo que não existe de forma independente, mas que é produzido pela mente. Por exemplo, números e conceitos, como o próprio “nada”, se enquadram nesse grupo. O segundo, nihil privativum, define o nada como a “privação de ser”. Não se trata de um objeto ou entidade, mas da ausência de algo. Quando falamos da falta de luz em um lugar escuro, estamos nos referindo a um nihil privativum, que se caracteriza pela privação do que poderia existir, mas não está presente. O terceiro conceito, ens imaginarium, significa “ser da imaginação”. Assim como o ens rationis, enfatiza que essas entidades são criadas pela imaginação e incluem imagens, ideias e fantasias, como personagens de histórias fictícias. Por fim, o nihil negativum refere-se ao “nada negativo”, a negação da existência; não é apenas a ausência de algo, mas a negação total do ser.
Para Hegel, o nada é o contraponto do ser. Já Heidegger, em sua obra “Que é Metafísica?”, questiona por que existe o ser e não o nada, ou seja, por que o ente é e não o nada.
Influenciado pelo misticismo, Heidegger sugere que o nada não deve ser pensado apenas como a negação do ser, pois isso implicaria que ele seria definido pelo que constitui seu oposto. Segundo ele, “nada” e “ser” são interdependentes e, em última instância, quase a mesma coisa. Embora distintos, um não pode ser concebido sem o outro. O ser se revela através do nada, manifestando-se como estranheza ou como o outro. Heidegger também sugere que o nada pode ter uma natureza própria, uma vez que provoca um sentimento de pavor, uma vibração oculta que ressoa em nós e nos influencia profundamente.
Sartre, em “O Ser e o Nada”, classifica dois tipos de ser: o entre-en-soi (entre-em-si), que se refere à existência bruta das coisas, como uma árvore — um ser que existe por si mesmo e possui uma essência definida — e o entre-pou-soi (para-si), que se refere à consciência. Assim, tudo que não se encaixa nessas categorias é, por definição, nada. Essa reflexão sobre o nada nos leva a questionar não apenas a natureza da existência, mas também a condição humana em seu estado mais essencial.
Na física, fazemos uma distinção clara entre vácuo, vazio e nada.
O vácuo é um espaço que contém muito pouca matéria, frequentemente quantificado em termos de pressão. É um conceito relevante em diversas áreas da física, incluindo a mecânica quântica, onde os efeitos do vácuo podem influenciar o comportamento das partículas.
O vazio, por outro lado, refere-se a um estado onde há ausência de objetos ou matéria, mas onde ainda existem campos físicos, como os eletromagnéticos e gravitacionais, e radiação. Mesmo na total ausência de matéria, o vazio é uma entidade que mantém a capacidade potencial de ser preenchido, pois possui uma estrutura que permite a interação de forças e energias.
O nada representa a completa ausência de espaço e é um conceito que ressoa com definições filosóficas sobre a não-existência. Trata-se de uma ideia que abrange a inexistência de qualquer coisa ou forma, incluindo a anulação das leis físicas — como a conservação de energia, o aumento da entropia e a passagem do tempo. Nesse sentido, o nada é uma noção de não-realidade absoluta.
O espaço, em contraste, é o conjunto de lugares que oferece possibilidades de localização e interação. A inexistência do espaço, o “lugar nenhum”, ou o nada propriamente dito, implicaria a aniquilação de todas as possibilidades de existir ou interagir.
Desde o século XX, o conceito de nada tem sido compreendido como uma “ausência inacessível”. A física moderna consegue apenas esboçar uma aproximação do “nada”. O limite de nossa compreensão científica se dá no “momento de Planck”, um intervalo de tempo extremamente curto — talvez impossivelmente curto — que ocorre logo após a origem do universo, conforme o modelo cosmológico mais aceito, o Big Bang. Nesse ponto, as descrições tradicionais do espaço-tempo tornam-se inválidas.
A especulação sobre o que existe nesse momento inicial é tão desafiadora que a própria ciência muitas vezes se vê confrontada com sua impotência. Não se pode falar em um “antes do Big Bang”, pois a noção de “antes” perde sentido; a ideia de um retorno ao nada evoca o terror de um misticismo arcaico, sugerindo a noção de um Deus criador, de um universo eterno ou uma combinação de ambas as ideias.