The Power and the Glory, sexto disco de estúdio do Gentle Giant, lançado em 1974, é possivelmente um dos álbuns mais conhecidos e, ao mesmo tempo, mais difíceis da banda.
A abordagem técnica virtuosa e experimental, que muitos comparam aos primeiros discos do Genesis, torna o álbum bastante desafiador para quem não aprecia o Rock Progressivo. De fato, percebo que este disco é considerado “difícil” até mesmo em fóruns de fãs do gênero (como a ProgArcives).
As músicas são, de fato, pouco convidativas ao deleite imediato devido à proposta fortemente orientada por ritmos fragmentados, que são estranhamente sincopados e complementados por inusitadas harmonias vocais melódicas.
A chave para apreciar este disco está justamente em seu aspecto dissonante. O álbum é uma fusão entre art rock, música renascentista, math rock e jazz. Se você conseguir superar a barreira da dissonância, perceberá que os arranjos instrumentais são excepcionais, muito criativos e, na verdade, há uma beleza subjacente em todo o disco. Sim, uma beleza nas frações rítmicas que se combina com a abordagem renascentista original da banda. Uma beleza ao mesmo tempo barroca e matemática.
O fato de esse disco ser, talvez, o mais conhecido do Gentle Giant, acredito eu, se deve à capa e ao tema que ela sugere.
Na capa do disco, temos a imagem de um Rei de Espadas, retirada do baralho Prinz-Karte-402, uma série de cartas criadas entre 1926 e 1933 pelo artista austríaco Hans Printz. Essas cartas foram produzidas pela Dondorf, uma empresa alemã de baralhos de luxo fundada em 1833.
O monarca da capa, juntamente com o sugestivo título Poder e Glória, assim como o deslocamento do contexto original dessas imagens, também antecipa o conceito do álbum.
A escolha dessa imagem, para mim, reforça a temática que permeia as faixas do disco: o poder e a autoridade, dentro de um contexto que remete a uma espécie de jogo.
Ao contrário do que muitos acreditam, o título do álbum e seus temas líricos não foram inspirados no romance homônimo de Graham Greene, embora o vocalista e principal compositor, Derek Shulman, conhecesse a obra.
Em vez disso, o álbum aborda questões como corrupção e poder, com foco no impacto das ações daqueles no topo sobre os que estão na base da sociedade.
No entanto, ao ver os compositores comentando sobre a obra, percebo que eles não estavam muito preocupados em aprofundar esse tema. O conceito do disco, apesar de uma certa orientação anarquista, parece propositalmente superficial, sendo usado apenas como uma moldura para as ideias puramente musicais do grupo.
A superficialidade não é um julgamento meu, mas sim de Derek Shulman, principal compositor, que revelou que as inspirações para o álbum vieram, em parte, do escândalo Watergate, um dos episódios mais emblemáticos de corrupção e espionagem interna na política dos Estados Unidos nos anos 1970 — sem, no entanto, a menor pretensão de elaborar uma análise complexa sobre o assunto e suas possíveis conclusões.
O que temos, basicamente, é o seguinte:
“Vivemos em uma sociedade” + sessão instrumental com órgão Hammond, violino elétrico, bateria, baixo, guitarra, saxofone e clavinete + “o poder corrompe, bicho” + sessão instrumental com guizo, saxofone, Minimoog e marimba.
Faixas favoritas: Aspirations, Playing the Game, Cogs in Cogs e The Face.