Guinea Pig: Devil’s Experiment é um filme de terror de exploração japonês de 1985, escrito e dirigido por Satoru Ogura, sendo o primeiro filme da série Guinea Pig.
O filme retrata um grupo de três homens que abusam de uma mulher de várias maneiras. Sim, o filme é basicamente isso.
Com um estilo próximo ao found footage, o filme se apresenta como uma “filmagem real de tortura” — supostamente destinada a um experimento sobre a tolerância à dor e à humilhação.
Não preciso dizer que as cenas de violência apresentadas no filme não são autênticas (ou seja, é um falso snuff movie) e que o filme utiliza extensivamente efeitos práticos.
A produção é uma colaboração entre o diretor Satoru Ogura e o mangaká Hideshi Hino. A intenção era criar uma série de filmes altamente grotescos, com Ogura cuidando das filmagens e Hino trabalhando no roteiro. Pensando ser difícil encontrar atores para essa série, Ogura publicou anúncios solicitando voluntários. Para sua surpresa, ele recebeu uma infinidade de respostas.
Devil’s Experiment foi filmado em 1985 e lançado publicamente em 1986.
Após o lançamento, o filme impactou o mercado das locadoras japonesas. As lojas familiares, que inicialmente se opuseram a disponibilizar o título, acabaram cedendo devido ao impressionante número de solicitações.
A linha que separa o deplorável do ousado é difícil de determinar neste filme. Ele é sádico na mais exata definição do termo. Aqui, a violência brutal e gratuita se associa a uma certa dose não assumida e subterrânea de erotismo.
No entanto, pouco importa o filme.
Esse tipo de obra causa impacto, e percebi isso no momento em que assisti.
As cenas de tortura me incomodavam. A proposta me era indigesta. Cheguei a questionar os limites da minha tolerância artística. Questionei, inclusive, se deveria ter alguma tolerância artística. Também me perguntei sobre os meus valores ao não reprimir com veemência aquilo que via. Minha vontade era protestar contra aquela aberração sem sentido e recomendar o ostracismo para aquela obra.
O nojo e a indignação cresciam em proporção à minha necessidade de controle. “Alguém tinha que censurar aquilo”, pensava eu.
Nesse momento, me achei patético, pois percebi que era apenas um filme. Todos os atores haviam consentido. Provavelmente, entre uma tomada e outra, eles estavam rindo e se divertindo — e ririam ainda mais se pudessem ver meu olhar de reprovação.
Quem eu queria defender? O que eu estava defendendo? O filme não tinha uma tese. Não defendia ideologia alguma que eu pudesse usar como base para uma crítica.
Foi aqui que percebi que caí na armadilha de Sade, da qual jurei nunca mais cair.
Contextualizando: aprendi a respeitar Sade depois de ler Camille Paglia.
Para ela, Sade pode ser mais bem compreendido como um conservador burkeano avant la lettre: um satírico, que responde “ponto por ponto” às afirmações de Rousseau de que a sociedade inibe e corrompe a “bondade inata” da humanidade.
Paglia observa que Sade escreveu 120 Dias de Sodoma no rescaldo da Revolução Francesa, quando os jacobinos rousseaunianos instauraram o sangrento Reino do Terror e as previsões de Rousseau foram brutalmente refutadas.
“Simplesmente siga a natureza”, declara Rousseau. Sade, rindo amargamente, concorda.
Briguem o quanto quiserem: Sade reestabelece, através da pornografia violenta, a noção de pecado original.
Não que o filme tivesse, de fato, a intenção de gerar esse nível de reflexão — mas conseguiu me fazer lembrar dessa exortação de Paglia. Isso já valeu a pena.