O segundo filme da série Guinea Pig, Flor de Carne e Sangue, foi dirigido pelo mangaka Hideshi Hino, também em 1985  – assim como o primeiro filme.

O filme é baseado no próprio mangá de horror escrito por Hino e é estrelado por Hiroshi Tamura e Kirara Yūgao. O enredo diz respeito a um homem vestido de samurai que droga e sequestra uma mulher e a leva para sua casa, onde a desmembra. Segundo o assassino, uma mulher bonita, de pele alva, que é esquartejada e derrama sangue, seria um tipo sofisticado de obra de arte – o suprassumo da beleza.

Ele tenta modular o estripamento com poesia – e até mesmo parece que o filme se esforça mostrar alguma beleza nisso.

Depois do ato, o assassino guarda as partes que sobraram e usa como uma espécie de decoração sombria. O filme termina com uma espécie de mantra infernal, enquanto mostra as partes da vítima em seu mostruário macabro.

Flor de Carne e Sangue é bastante explícito e mostra todos os detalhes do desmembramento – incrivelmente realista, tão realista que os produtores enfrentaram vários problemas legais, acusações e pedidos de censura.

Esse filme foi retirado das locadoras em todo Japão depois que foi divulgado uma história que ele teria influenciado Tsutomu Miyazaki, um serial killer que sequestrou e assassinou quatro meninas e molestou seus cadáveres. Depois que ele foi preso, foi descoberto que Miyazaki tinha uma extensa coleção de fitas de vídeo, incluindo alguns filmes da série Guinea Pig.

Seria o filme tão vívido, competente e convincente que ele involuntariamente forjou um vínculo parassocial com seus fãs mais radicais e perturbados? Aqueles que veem suas cenas macabras como um manual de instruções?

Miyazaki, de acordo com a polícia, teria reproduzido cenas desse filme ao realizar seus delitos.

No entanto, as investigações mostraram que o filme descoberto em posse do assassino seria o quarto filme da série Guinea Pig, que não tinha nada a ver com os acontecimentos em seu processo, o que deu a Hideshi Hino uma boa defesa.

Mesmo se ele estivesse assistido, não justificaria a censura. Não é surpresa que as obras de arte mais radicais acabam sendo o alvo conveniente nesses eventos cuja origem e neutralização são outras.

Esse procedimento de censura, além de tudo, é contraproducente em seus objetivos, como sabemos. Toda história que a polícia criou se tornou um acréscimo na publicidade, aumentou o interesse no filme, projetando ainda mais seu sucesso.

Outro evento interessante envolvendo o filme está curiosamente relacionado ao ator Charlie Cheen. Sim, aquele de Two and a Half Men.

No começo dos anos 1990, o analista de cinema americano Chris Gore (nome sugestivo, não acha?) encontrou o ator Charlie Sheen e entregou a ele uma cópia de Guinea Pig 2.

Após assistir ao filme, Sheen teria se convencido de que era um filme snuff retratando o assassinato e desmembramento de uma mulher real e relatou isso às autoridades. O FBI iniciou uma investigação sobre os envolvidos na produção e distribuição de Guinea Pig 2 — incluindo Charles Balun, um dos primeiros distribuidores que afirmou que o filme não apresentava cenas de um homicídio genuíno, e o próprio Hino.

O FBI confiscou a cópia do filme de Sheen, mas depois que eles assistiram a um documentário de making-of que demonstrou os efeitos especiais usados ​​para simular a violência retratada no filme, a investigação foi encerrada.

Guine Pig 2 é um pseudo sunf ancorado num exercício estilístico de excesso com um subtexto poético e doentio sobre beleza, que acentua ainda mais seu caráter repulsivo.

É uma carta de amor entre a maldade humana e a poesia num exercício contínuo e entorpecente de abjeção.

Para alguns, arte pura. Para outros, apenas mal gosto. Para mim, um clássico – pois concordo com ambos.

Assim como o primeiro, não é um filme para todos. Fique longe.

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