Sarah Vaughan é um álbum lançado em 1955, resultado da colaboração entre a renomada cantora Sarah Vaughan e o talentoso trompetista Clifford Brown. Esse disco em particular se destaca como o favorito de Vaughan entre todas as suas obras até 1980.
O álbum é um clássico do “Jazz vocal feminino”. Quando foi lançado, recebeu críticas extremamente positivas da grande maioria dos críticos, que ficaram encantados com os talentos vocais de Sarah Vaughan. A revista Billboard, uma das mais importantes publicações especializadas em música do mundo, enfatizou os fraseados individuais e os maneirismos distintos da cantora, classificando o álbum como “indispensável”.
A reputação do disco cresceu desde o seu lançamento. Em Bebop: The Best Musicians and Recordings, o comentarista de jazz Scott Yanow resume de forma sucinta o álbum, afirmando que “tudo funciona” e o torna uma “aquisição essencial” para os amantes do gênero.
A revista Ink Blot, ao descrevê-lo como um dos álbuns mais “jazzísticos” de Vaughan, também o considera um dos melhores de sua carreira.
Em sua crítica, o All Music afirma que “Vaughan está indiscutivelmente em sua melhor forma vocal aqui” e elogia o trompetista Clifford Brown por “exibir seu incrível virtuosismo no bop”.
No livro Jazz: A Critic’s Guide to the 100 Most Important Recordings, Ben Ratliff, crítico de jazz do New York Times, posiciona o álbum entre os melhores de Vaughan, destacando que a sessão de gravação parece uma daquelas ocasiões abençoadas em que “até músicos de nível médio podem soar como deuses”.
O Penguin Guide to Jazz selecionou este álbum como parte de sua “Core Collection” sugerida, afirmando que “é muito difícil encontrar qualquer falha neste que deveria ser reconhecido como um dos grandes discos vocais de jazz”, conferindo-lhe o status de “obra-prima”.
Sarah Vaughan, em sua interpretação neste disco, não se entrega a explosões vocais; ela é controlada e estóica, mas isso não significa que seja apática. Pelo contrário, o álbum é emotivo a cada segundo, porém é uma emoção sóbria e internalizada, sem gestos bruscos, como se estivesse em um estado de ressaca.
Quando há melancolia (como nas faixas “April in Paris” e “September Song” – as minhas duas favoritas deste disco), ela não se rende à tristeza. Quando há momentos cômicos (como em “He’s My Guy”, “Jim”, “You’re Not The Kind” e “It’s Crazy”), no máximo ela é irônica, com um sorriso discreto.
Sarah Vaughan foi uma das primeiras cantoras a incorporar o fraseado do bebop, com suas técnicas de sons onomatopeicos, como “babbas-babbas” e “dubba-dubbas”. Essa característica está presente na excelente faixa “Lullaby of Birdland”, que abre o disco. No entanto, esses elementos são sóbrios e controlados, obedecendo à estrutura melódica da canção, demonstrando uma verdadeira aula de etiqueta.
Em resumo, o disco revela que Sarah Vaughan é uma mulher refinada, com uma polidez vitoriana.
A postura de Sarah Vaughan é importantíssima para quebrar alguns esteriótipos racistas de que a comunidade negra era essencialmente “barraqueira” e “barulhenta”.
Esteriótipos que são ironicamente reforçados por uma ala progressista da crítica cultural que romantiza a desestabilidade como sinal de “intensidade”.
Sarah Vaughan é melhor que todos eles.