Definitivamente, O Apóstolo de Gareth Evans não funcionou para mim.
Na minha opinião, a maioria das produções da Netflix não possui alma ou personalidade, embora muitas delas sejam tecnicamente bem feitas (como é o caso desse filme, o que pode ter enganado muitas pessoas achando que era um bom filme – o que não é).
Esse filme tentou explorar muitas ideias diferentes e, na minha opinião, não conseguiu desenvolver nenhuma delas adequadamente.
Ele tenta ser ao mesmo tempo um folk horror (como The Wicker Man, inclusive, possui uma trama semelhante) e um torture porn (como as sequências de Jogos Mortais).
Esses são dois subgêneros opostos.
O horror folclórico se baseia mais na imersão. Ele precisa desenvolver uma atmosfera antes de revelar o elemento de estranheza.
Além disso, ele precisa ser atraente. As comunidades de The Wicker Man e Midsommar (dois filmes que, na minha opinião, trabalham muito bem esse subgênero) funcionam porque são sedutoras e convencem como comunidades autênticas.
O “torture porn”, que é uma derivação perversa do splatter, é o oposto disso.
Ele é bruto, direto e seu horror é baseado totalmente na agonia.
Seu objetivo é a aflição pelo simples ato de provocar aflição.
Não é impossível misturar esses subgêneros. Filmes como Witchfinder General (1973) combinaram muito bem o horror folclórico com o horror de tortura.
Aqui, o diretor não foi habilidoso o suficiente para resolver a contradição desses estilos.
Seu horror folclórico é apenas a cortina do teatro, onde o foco principal acaba sendo um filme de investigação com cenas de tortura. Até mesmo a entidade sobrenatural que perambula pelo cenário possui apenas uma importância nominal, pois o filme a trata como qualquer coadjuvante.
Do ponto de vista do torture porn, o filme se sai melhor, mas não oferece nada que eu já não tenha visto com mais sadismo e cinismo em outras obras.
Em suma, O Apóstolo é um filme que se colocou na pior posição possível, no “meio” – o que o torna, para mim, duplamente esquecível.
Ele é esquecível tanto como filme de horror folclórico quanto como torture porn.
