Witchfinder General (traduzido para o português como “O Caçador de Bruxas“) é um filme de britânico de 1968 dirigido por Michael Reeves e estrelado por Vincent Price, Ian Ogilvy, Hilary Dwyer, Robert Russell e Rupert Davies.

O roteiro de Reeves e Tom Baker foi baseado no romance homônimo de Ronald Bassett.

O filme é um relato fortemente ficcionalizado das façanhas de Matthew Hopkins (interpretado por Vincent Price), um advogado que falsamente alegou ter sido nomeado “Witchfinder General” (caçador de bruxas geral) pelo Parlamento durante a Guerra Civil Inglesa para erradicar a feitiçaria e bruxaria no país.

A trama segue o soldado Richard Marshall (interpretado por Ian Ogilvy), que persegue implacavelmente Hopkins e seu assistente John Stearne (interpretado por Robert Russell) depois que eles atacam sua noiva Sara (interpretada por Hilary Dwyer) e executam seu tio, o padre John Lowes (interpretado por Rupert Davies).

Witchfinder General acabou se tornando um filme cultuado tanto pelos seus méritos quanto pela trágica morte do diretor Michael Reeves em 1969 por overdose de álcool e substâncias sedativas, apenas nove meses depois do lançamento.

Faroeste gótico medieval

Witchfinder General nos apresenta a história de um homem inescrupuloso manipulando a irracionalidade e as superstições de uma população simples para conseguir realizar suas ambições sexuais e de poder político – enquanto é perseguido por um soldado com sede de justiça e desejo de vingança.

Embora o filme seja normalmente classificado como um filme de horror, até mesmo componente do segmento de “horror folclórico”, podemos entender melhor este filme como um “faroeste inglês gótico” misturado com “drama histórico”.

Há elementos de sadismo e violência, mas nada que objetivamente especifique e encerre o filme como horror.

Talvez a associação que fazem desse filme com o gênero se atribua mais a sua influência.

Witchfinder General exerceu uma inegável influência no cinema de horror folclórico.

A estética rural

A estética de Witchfinder General reflete interessantes contrapontos de beleza e violência, algo muito explorado nos filmes de horror folclórico até hoje (basta ver Midsommar de Ari Aster).

A estétca do horror folclórico trabalha com o contraste barroco entre a beleza rural e a brutalidade criando a incômoda ideia recorrente do nosso imaginário de violação simbólica do Éden.

Enredo

Em 1645, durante a Guerra Civil Inglesa, Matthew Hopkins, um caçador de bruxas oportunista, aproveita o colapso da ordem social para impor um reinado de terror em East Anglia (uma área no leste da Inglaterra composta pelos condados de Norfolk, Suffolk e Cambridgeshire).

Hopkins e seu assistente, John Stearne, visitam várias aldeias para torturar suspeitos de bruxaria (especialmente mulheres) e fazê-los confessar.

Eles cobram dos magistrados locais pelo trabalho que realizam.

Paralelo a isso, acompanhamos a história de Richard Marshall, um jovem soldado roundhead (opositor ao rei Carlos I).

Depois de sobreviver a uma emboscada e matar seu primeiro soldado inimigo (salvando a vida do seu capitão), ele recebe uma permissão para cavalgar até Brandeston, no condado de Suffolk, para visitar sua amada Sara, sobrinha do padre da vila, John Lowes.

Ao chegar em Brandeston, o padre Lowes revela a Marshall sua vontade de que ele se case com a sua sobrinha e a leve para longe dali, pois ambos se tornaram párias dentro da sua própria comunidade por conta de uma crescente intolerância contra os católicos (acusados de papistas).

Marshall entao jura protege-la e voltar o quanto antes de suas obrigações militares para cumprir o desejo de Lowes.

No final de sua licença do exército, Marshall cavalga de volta para se juntar a seu regimento e se depara com Hopkins e Stearne no meio caminho.

Hopkins se apresenta como um advogado e pergunta a Marshall onde fica Bradenston e ele, sem conhecer a figura nefasta que estava diante dele, indica-lhe o caminho.

Chegando em Brandeston, Hopkins e Stearne começam imediatamente a prender os suspeitos de bruxaria.

O padre Lowes é acusado em sua casa, torturado e posteriormente morto.

Sara é violentada neste processo.

Quando Marshall retorna a Brandeston, fica horrorizado com o que aconteceu com Sara, jurando matar Hopkins e Stearne.

A partir dai sua vida é dedicada a procurar e matar Hopkins e Stearne.

Matthew Hopkins

Matthew Hopkins nasceu no condado de Suffolk, em ano desconhecido. O mais provável é que tenha nascido em 1620.

Seu pai, James Hopkins, era um clérigo puritano.

Matthew Hopkins trabalhava como advogado em Manningtree, uma vila próxima a Colchester, onde começou sua carreira de caçador de bruxas.

Matthew se dizia enviado do parlamento inglês em suas caçadas. Para conseguir a confissão de suas vítimas, Matthew e seu sócio John Stearne usavam métodos que convenciam o povo da época.

Mathew e John conseguiam, de alguma forma, enfiar longas agulhas nas costas de uma pessoa sem que ela sentisse dor ou sangrasse. Segundo ele, isso seria a prova de que a pessoa possui a “marca do diabo” no corpo.

Então, depois de provada a associação da pessoa com o diabo, ela era condenada segundo a lei local e muitas vezes condenada a morte.

Ainda se discute como Matthew conseguia enfiar agulhas nas pessoas e fazer com que elas não sangrem.

O uso de agulhas retráteis é uma hipótese bastante aceita, que já fora utilizada em antigas caçadas a bruxas.

Calcula-se que Matthew tenha sido o responsável pela morte de aproximadamente 200 mulheres que considerava serem bruxas.

Matthew Hopkins exigia que seus serviços fossem pagos pelas comunidades onde as descobertas de bruxas ocorriam.

Witchfinder General, de Ronald Bassett, foi um romance vagamente baseado na história de Hopkins e Stearne, publicado em 1966.

Tony Tenser, o fundador e executivo-chefe da Tigon British Film Productions, leu o livro de Bassett antes mesmo dele ser publicado e solicitou ao autor a autorização para transformar seu romance em filme, pois via na obra um grande potencial cinematográfico.

Sadismo

Witchfinder General está entre os filmes mais violentos da história e suas cenas até hoje impressionam.

Isso por que o filme tinha um potêncial de ser ainda mais brutal.

Acreditem ou não, a versão final deste filme ainda é o resultado de sucessivas tentativas de suavização.

Como era exigido por lei para as produções cinematográficas britânicas da época, o primeiro rascunho completo do roteiro do filme foi apresentado ao British Board of Film Censors (BBFC) para determinar se algum possível problema de censura poderia ser antecipado.

No mesmo dia, um relatório preliminar foi emitido por um examinador do BBFC referindo-se ao roteiro como “bestial”.

O roteiro foi devolvido a Tenser alguns dias depois, com um relatório mais detalhado, que descreveu o filme como “um estudo de sadismo no qual cada detalhe de crueldade e sofrimento é tratado com amor”.

Depois que um segundo rascunho foi escrito e enviado ao BBFC apenas onze dias após o primeiro, a reação foi quase a mesma. Ele foi devolvido a Tenser com uma longa lista de requisitos para reduzir o máximo o potencial ofensivo do filme.

Essas idas e vindas do roteiro pareciam não surtir efeito.

Por sorte, um dos avaliadores, o censor de cinema John Trevelyan, era um primo distante de Michael Reeves e aceitou (um pouco a contragosto) as boas intenções do diretor quando ele explicou por que sentiu que era necessário incluir uma violência tão intensa no filme.

Trevelyan, no entanto, argumentou: “o filme deu a impressão de que estava explorando a violência e, em particular, o sadismo por razões comerciais” e se recusou terminantemente a participar de qualquer outra edição de avaliação.

Momentos de beleza cristã

Embora o filme seja tenso e repleto de sadismo, há algumas cenas muito bonitas e genuinamente cristãs.

A morte do padre Lowes é uma destas cena.

Depois de passar por uma interminável sessão de tortura, seu último ato antes da morte é encarar Hopkins e pedir a Deus que perdoe os seus pecados.

Outra cena de inacreditável beleza é quando Marshall, depois de retornar a Brandeston e tomar conhecimento de que sua esposa foi violada, em vez de desprezá-la (como ela esperava), ele pega sua mão, se ajoelha diante do que parece ser um altar em ruínas, pede perdão pelos seus pecados e vocaliza seus votos matrimoniais.

Embora não seja tecnicamente um casamento religioso válido (pois não há a presença de sacerdote ou testemunhas), essa atitude se torna a sinalização do seu amor por Sara e a sua total disposição de se tornar com ela “uma só carne” – ou seja, participar de suas dores e de suas alegrias.

O ódio e a locura de Marshall

Poucas vezes eu vi no cinema um ódio sendo construído de forma tão convincente.

O ódio de Marshall contra Hopkins não tem apenas um componente de indignação e desejo de justiça pervertido em sede de vingança. Há também um componente de culpa muito forte. Um ódio que ele sente não apenas contra Hopkins, mas contra si mesmo.

Quando Marshall parte do vilarejo de sua amada para cumprir seus débitos militares e encontra Hopkins no caminho, antes de conhecer sua índole, é ele quem indica onde ao vilão o caminho de Brandeston, o vilarejo onde mora sua amada – que se tornaria a próxima vítima de caçador de bruxas.

A sua ingenuidade se torna uma espécie de cúmplice involuntária do sadismo inominável de Hopkins.

Se ele não tivesse indicado o caminho do vilarejo, o padre Lowes não teria sido assassinado e sua amada não teria sido violentada.

A cena final, onde Hopkins é violentamente morto por Marshall, que lhe desfere inúmeras machadadas nas costas (uma cena incrivelmente forte até para os dias de hoje), é a expressão máxima do ódio entalado diante de todas as injustiças que ele sofreu e testemunhou ao longo do filme, potencializado pela culpa.

Existe um componente de catárse misturada com um horror nessa cena, que encerra o filme em um dos “finais felizes” mais desesperados que eu já vi.

Um “final feliz” embalado pelos gritos desconsolados de Sara.

 

 

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