Love in a Fallen City é um filme dirigido por Ann Hui, lançado em 1984. Trata-se de uma adaptação do romance homônimo escrito por Eileen Chang.
A história se passa em Xangai e Hong Kong, na década de 1940.
Bai Liu-Su (interpretada por Cora Miao) é uma mulher divorciada e introvertida que enfrenta grande sofrimento após romper com o marido. Sua família, tradicional e numerosa, considera o divórcio uma vergonha, o que torna sua permanência em casa insuportável.
Fan Liu-yuan (vivido por Chow Yun-Fat), um charmoso empresário malaio radicado em Hong Kong e sempre cercado por mulheres, visita Xangai e se interessa por Bai após conhecê-la por acaso, por meio de amigos em comum. Ele enxerga nela o que muitos não veem e faz o possível para fazê-la acreditar novamente no amor.
Com a iminente invasão japonesa à China, Bai decide arriscar tudo e visita Hong Kong, buscando se libertar da situação humilhante vivida em sua casa.
A relação entre Bai e Fan é inicialmente marcada por resistência da parte dela, mas, aos poucos, ela se rende ao afeto que ele oferece. No entanto, quando Hong Kong é subitamente atacada pelos japoneses, os dois se veem como refugiados — e é nesse momento de vulnerabilidade que descobrem que se amam de fato.
Poderia ter sido um ótimo filme — mas, infelizmente, não é.
Love in a Fallen City foi, para mim, um dos filmes de Ann Hui de que menos gostei. A obra tenta mesclar dois gêneros: romance e guerra — justamente dois estilos que Ann Hui costuma trabalhar muito bem. Vale lembrar que ela dirigiu, em 1982, Boat People, que considero um dos melhores filmes de guerra já feitos. Também tem belos filmes românticos em sua carreira, como Dezoito Primaveras (1997), Rapsódias de Julho (2002) e Love After Love (2020).
No entanto, neste filme, o romance é desenvolvido sem química e está entrelaçado a um conflito bélico surpreendentemente mal dirigido, sem senso de urgência. A união desses elementos, especialmente no ato final, resulta num conjunto de cenas involuntariamente cômicas e inverossímeis tentando ser dramáticas — como aquela em que o casal se deita numa cama coberta por estilhaços e entulhos.
Apesar de ser, para mim, uma obra abaixo do nível habitual de Ann Hui, o filme apresenta ideias interessantes. As cenas da ópera chinesa no início do longa são, talvez, seu ponto alto — não apenas por sua beleza estética, mas porque ali já se antecipa o desenvolvimento do romance principal. Podemos notar como os gestos dos atores no palco, e o que eles encenam, funcionam como uma síntese simbólica da trama: um amante se aproximando da dama, que foge não por medo, mas com o claro desejo de ser seguida — teatralizando tanto o pudor quanto a dinâmica da sedução. No filme, Bai reproduz exatamente essa dança simbólica diante de Fan.
Essa leitura, por si só, já vale algumas notas de consideração.