Love After Love é um drama romântico chinês de 2020, dirigido por Ann Hui e estrelado por Ma Sichun, Faye Yu, Eddie Peng, Chang Chun-ning e Fan Wei.
O filme teve sua estreia mundial no 77º Festival Internacional de Cinema de Veneza, em 8 de setembro de 2020, e foi lançado nos cinemas chineses em 22 de outubro de 2021.
O filme marcou a terceira vez que Hui dirigiu uma adaptação de Eileen Chang (após Love in a Fallen City, de 1984, e Eighteen Springs, de 1997).
A história se passa pouco antes da Segunda Guerra Mundial. Ge Weilong (Ma Sichun) é uma jovem humilde que viaja de Xangai para Hong Kong em busca de educação, mas acaba trabalhando para sua tia, seduzindo homens ricos e poderosos.
A degradação da inocência de Ge Weilong e a influência do meio nesse processo são o mote principal do filme, e a história é conduzida de forma a não julgar os passos da personagem principal. No começo, vemos uma garota meiga e tímida que descobre um universo novo de excessos e extravagâncias, tão sedutor quanto corruptor. Ela mantém sua pureza o máximo possível, mas sua presença ali se distancia tanto daquele universo que fica quase impossível não absorvê-lo.
O interessante é que, em sua fase inocente, ela não era caricaturada como ingênua, mas sim como inexperiente. Ela era, de certa forma, sábia dentro daquele meio — uma sabedoria quase inerente ao estado de temperança. No final do filme, sua sabedoria é substituída por astúcia de sobrevivência, dissimulação e, como é próprio do reino da mentira, tristeza. No entanto, reforço: o processo dessa degradação é compreensível, e o filme não incentiva o espectador a julgar precipitadamente a personagem, mas sim a compreendê-la e lamentar junto com ela. Sua história resume o tema da degradação do amor romântico idealizado em prol da conveniência.
Todos os personagens têm biografias bastante complexas, e fica difícil até mesmo odiar figuras que poderiam ser odiáveis, como George Qiao (Eddie Peng), um jovem playboy boêmio, sem nenhum senso de lealdade ou responsabilidade, que só quer se divertir esbanjando o dinheiro do pai — além de ser o principal elemento da queda da protagonista. Seus excessos são explicados pelo fato de o pai odiá-lo e por ele saber que não herdará nada — que sua vida está com os dias contados e que, muito provavelmente, seu futuro será de penúria, pois não sabe trabalhar. Toda sua “diversão” torna-se, então, um desespero para aproveitar ao máximo o presente e uma tentativa de não pensar no futuro sombrio.
A tia Liang (Faye Yu) também é um personagem incrível. Ela parece representar toda a melancolia e dissimulação que Ge Weilong aprenderá ao longo do filme. Herdeira de uma fortuna que apenas administra, é uma mulher de meia-idade, ainda bonita e sedutora, que conquistou seu lugar de destaque usando esses atributos e tenta mantê-los a todo custo, enquanto encara a inevitável degradação do tempo. Sua riqueza também corre riscos e depende do financiamento de um círculo interno de pessoas ricas da cidade. Liang vive em função de manter as aparências. “Tudo é feito à maneira britânica”, insiste Madame Liang, o que sugere não apenas que ela conhece as expectativas da alta sociedade de Hong Kong antes da guerra, mas também que tudo ali é uma encenação — uma fachada estrangeira imposta, que não surge naturalmente entre os moradores locais abastados.
Como uma dama de luxo, sua postura é estoica e elegante, mas também esconde camadas de frustração, às vezes descarregadas em suas empregadas e em Ge Weilong por serem mais jovens.
A superfície de Love After Love oferece uma história belamente dourada e quase excessivamente formal sobre as tristezas de uma jovem que descobre um mundo onde praticamente toda interação humana é comparada a um sistema de troca econômica. A narrativa funciona como um melodrama clássico, com suas maquinações astutas, expectativas frustradas e romances complexos, mesmo que o tom de Hui seja contido.