Dezoito Primaveras é um drama sino-hongkonguês dirigido por Ann Hui em 1997, baseado no romance de mesmo nome da escritora sino-americana Eileen Chang.

Trata-se do segundo romance que Ann Hui adapta de Eileen Chang. O primeiro foi Amor em uma Cidade Caída, de 1984, que ainda não vi.

O filme retrata o romance malfadado entre dois amantes chineses em Xangai e Nanquim durante as décadas de 1930 e 1940. Um romance não consumado pelo destino que os obrigou a ficar separados por mais de uma década — exatamente, dezoito primaveras, como anuncia o título.

Os principais personagens desta história são Gu Manzhen e Shen Shijun.

Manzhen é uma moça de boa educação e maneiras discretas. Trabalha como assistente de escritório numa fábrica em Xangai e vivia à sombra de uma família que sobrevivia conspurcada pelos maldizeres do julgamento público; a irmã mais velha, Manlu, entregara-se ao destino ingrato das mulheres que sustentam um lar à custa da própria felicidade: trabalhava num bordel e, com o preço de sua infelicidade, mantinha os que amava.

Shijun é um jovem introspectivo, que vinha de uma família rica de Nanquim e trazia o desejo de forjar seu próprio destino, longe dos negócios paternos e das facilidades herdadas.

Manzhen e Shijun se apaixonam durante o filme, e uma das características mais belas dessa história é como essa paixão vai se encorpando vagarosamente; Não é aquela paixão fulminante de beijos, mas aquela à moda antiga, de suspiros e mãos se encostando, onde a aproximação se dá em uma lentidão diligente e respeitosa.

É um filme extremamente romântico onde não vemos, sequer, um beijo.

Não sei vocês, mas acho que não existe nada mais bonito nas histórias românticas do que a paixão casta entre uma moça gentil e um homem tímido.

Mas se o amor é bonito, o mundo não o é.

A má fama de Manlu tornava Manzhen indigna, aos olhos da família de Shijun, de partilhar seu nome e sua fortuna. Arranjaram-lhe, pois, um casamento conveniente com uma prima, Shi Cuizhi.

Manzhen e Shijun discutiram, magoados, separaram-se, cada um levando consigo a amarga sensação de um fim shakespeariano.

O destino, que já os apartara, não se contentou em deixá-los sofrer a uma distância respeitável. Manlu, que não conseguira conceber um filho para seu marido, o depravado Zhu Hongcai, viu em Manzhen a solução para seu problema. Com a frieza dos que se habituam a negociar com a sorte, fez com que a irmã fosse trancada na mansão e entregou-a, como se fosse moeda de troca, ao desejo de Zhu — que já a achava atraente.

Manzhen engravidou e, como se já não bastasse a ignomínia, foi mantida prisioneira, sem poder enviar sequer uma carta ao homem que amava.

Shijun, ignorante de tudo, foi à mansão buscá-la, mas Manlu o mandou embora com palavras mentirosas, dizendo que Manzhen não o desejava ver nunca mais.

Manzhen, ao dar à luz, fugiu do hospital e encontrou refúgio como professora em outra cidade. Na sua solidão, ainda teve ânimo para escrever a Shijun, mas as cartas nunca chegaram ao destinatário: Cuizhi e a sogra, zelosas da ordem que haviam imposto à família, queimaram-nas todas.

O tempo, como velho cúmplice dos desencontros, correu seu curso.

Manlu foi abatida por uma doença mortal e procurou Manzhen para pedir perdão e entregar o filho que tivera com Zhu. A irmã aceitou-o em uma atitude que, se não fosse chinesa, qualificaria como cristã. Quanto a Zhu, arrependido, via nela a única âncora contra a solidão. Manzhen, que o desprezava, ficou. Não por ele, mas pela criança.

Passaram-se dezoito anos. Certo dia, em um restaurante de Xangai, Manzhen e Shijun reencontraram-se. Um abraço, um olhar, e neles toda a vida que poderiam ter tido juntos. Mas já não havia esperanças; eram dois náufragos que já avistavam a terra firme, tarde demais.

O romance não consumado é um tema que dói ao coração e parece doer no coração de todos os povos, em todas as épocas, em qualquer contexto. E a universalidade desse tema faz desse filme, mesmo chinês, muito familiar.

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