A Dublê (Ah Kam) é um filme de ação honconguês de 1996, dirigido por Ann Hui e estrelado por Michelle Yeoh, atriz malaia-chinesa que ficaria bastante conhecida por O Tigre e o Dragão (2000) e, mais recentemente, por Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022).

A sinopse do filme gira em torno da vida de Ah Kam (Michelle Yeoh), uma jovem que se muda para Hong Kong em busca de oportunidades e acaba se tornando uma dublê no competitivo e perigoso mundo do cinema de ação e das artes marciais (Wuxia).

O filme explora os desafios físicos e emocionais que ela enfrenta em um ambiente dominado por homens, destacando sua resiliência e paixão pelo trabalho. Ao longo da história, Ah Kam desenvolve relacionamentos complexos com seus colegas e superiores.

O filme parece refletir a própria trajetória da atriz, que, por muito tempo, atuou como dublê e realizou suas próprias cenas de ação nos filmes em que participava — neste, inclusive, quase como um comentário metalinguístico.

Inclusive, quase todos os desafios de cena neste filme foram reais, e preocupantemente reais. O posfácio do filme detalha o grave ferimento que Yeoh sofreu após subestimar uma cena em que saltava de um viaduto para um caminhão em movimento, o que a deixou gravemente ferida. Durante as filmagens da segunda tomada, ela caiu entre dois colchões. Foi levada para um hospital próximo, onde foi colocada em um gesso e tratada de várias costelas quebradas.

Enquanto se recuperava, Yeoh considerou se aposentar dos filmes de ação. No entanto, ninguém menos que Quentin Tarantino, em uma visita a Hong Kong, a dissuadiu dessa decisão. No ano seguinte, ela já estava estrelando no filme 007 – O Amanhã Nunca Morre, produção que a projetou de fato em Hollywood.

Trata-se de um filme dedicado a ela e aos outros dublês que inspiraram a obra.

É curioso notar que esse filme, mesmo sendo bastante competente, com uma história original, um rosto conhecido e tantas curiosidades interessantes, seja tão pouco comentado. Quase não vejo críticas sobre ele.

Esta crítica que estou fazendo é uma das poucas existentes, inclusive.

Para mim, esse filme teria potencial para se tornar cult e, sinceramente, isso ainda pode acontecer. O fenômeno da “viralização” parece conjugar forças ocultas que não respeitam regras lógicas, mas uma coordenação aparentemente aleatória de eventos.

City Pop, que havia desaparecido no Japão dos anos 1980, voltou com tudo em meados dos anos 2000 devido a uma associação estética com movimentos virtuais retrô (como o Vaporwave), revertendo até em retomadas de carreiras que já haviam se encerrado.

O filme The Rocky Horror Picture Show (Jim Sharman) viralizou décadas depois de seu lançamento, quando espontaneamente se tornou um “evento” que transformava salas de cinema em palcos de dança, fantasia e apresentações drag.

Pensando bem, talvez eu esteja exagerando. A Dublê não é uma obra tão impactante. É legal, mas não tão marcante quanto os exemplos mencionados. De qualquer forma, acho que o filme que quase matou Michelle Yeoh deveria ser mais lembrado.

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