A Tragédia de Belladonna é um filme de animação japonesa do gênero drama erótico, realizado e escrito por Eiichi Yamamoto, baseado na obra La Sorcière do autor francês Jules Michelet.
É o terceiro e último filme da trilogia Animerama, voltada para adultos da Mushi Production, seguindo Mil e Uma Noites (1969) e Cleopatra (1970).
Embora seu lançamento inicial tenha sido um fracasso comercial e tenha levado o estúdio à falência, o filme se tornou um cult ao longo dos anos.
O filme é notável por suas imagens eróticas, religiosas, violentas e psicodélicas, abordando temas como misoginia, opressão feudal, depravação moral, rebelião e caça às bruxas.
A história segue Jeanne e seu marido Jean, que vivem em uma vila rural na França medieval. Na noite de núpcias, Jeanne é brutalmente estuprada em grupo em um ritual de defloramento pelo barão local e seus cortesãos. Ela retorna aterrorizada para Jean, que tenta acalmá-la, dizendo que podem recomeçar a partir daquele momento. No entanto, pouco depois, Jean estrangula Jeanne até a inconsciência e, envergonhado, foge de casa.
Naquela noite, Jeanne começa a ter visões de um espírito com uma cabeça fálica que lhe promete poder. O espírito diz que a ouviu pedir ajuda e que pode crescer tão grande e poderoso quanto ela desejar.
Jeanne faz um pacto com o espírito, e a fortuna do casal aumenta, mesmo quando a fome atinge a vila.
Quando o barão aumenta os impostos para financiar sua guerra, Jean, exausto de uma vida de trabalho braçal, é elevado ao papel de cobrador de impostos. No entanto, o barão corta a mão de Jean como punição por não conseguir extrair dinheiro suficiente da vila, deixando-o miserável e bêbado.
O espírito visita Jeanne novamente, agora maior em tamanho, e a estupra em troca de mais riquezas. Embora ela submeta seu corpo, afirma que sua alma ainda pertence a Jean e a Deus. Pouco depois, Jeanne faz um grande empréstimo de um usurário e se estabelece no mesmo negócio, eventualmente se tornando a verdadeira autoridade na vila.
O barão retorna vitorioso de sua guerra e, com inveja do respeito e admiração que Jeanne recebe, a acusa de bruxaria e incita os moradores contra ela.
Fugindo da multidão, Jeanne tenta voltar para casa, mas Jean se recusa a abrir a porta e ela é atacada.
Naquela noite, quando os soldados vêm prendê-la, ela foge para a floresta próxima. No deserto, ela finalmente faz um pacto com o espírito, que se revela ser o Diabo.
Ela recebe poderes mágicos e retorna para descobrir que a vila foi infectada com a peste bubônica. Jeanne usa seus poderes para criar uma cura para a doença, e a vila se aglomera em busca de ajuda.
Tendo conquistado o favor dos moradores, Jeanne preside ritos orgiásticos entre eles.
Um pajem que se apaixona pela esposa do barão implora a Jeanne para ajudá-lo a seduzi-la. Ela lhe dá uma poção do amor, que faz com que a esposa do barão aceite seus avanços, mas o barão encontra a esposa com o pajem e mata ambos.
Perturbado pelo poder de Jeanne, o barão envia Jean para convidá-la para uma reunião. O casal se reconcilia, e Jeanne aceita o convite.
Em troca de compartilhar sua cura para a peste, o barão se oferece para fazer de Jeanne a segunda nobre mais alta da terra, mas ela se recusa, dizendo que deseja dominar o mundo inteiro.
Irritado com sua recusa, o barão ordena que Jeanne seja queimada na fogueira. Jean é morto pelos soldados do barão ao tentar retaliar, o que enfurece os moradores.
Enquanto Jeanne é queimada, os rostos das mulheres da vila se transformam nos dela, cumprindo o aviso de um padre de que, se uma bruxa for queimada com seu orgulho intacto, sua alma sobreviverá e influenciará todos ao seu redor.
Séculos depois, a influência do espírito de Jeanne inicia a Revolução Francesa.
É difícil opinar sobre este filme, não apenas por questões ligadas à minha fé religiosa, mas também pelo conhecimento do lado obscuro da Revolução Francesa que a animação tenta retratar como um evento de vingança redentora.
Sabemos (ou deveríamos saber) que a Revolução Francesa não foi nada menos que a origem dos totalitarismos e genocídios modernos.
O filme é uma bela composição psicodélica dos anos 60, baseada em mentiras e estereótipos revolucionários e iluministas sobre o Antigo Regime.
Embora o Antigo Regime tivesse defeitos e necessitasse de reformas, todas as contradições em relação ao clero e à nobreza da época e os crimes que eventualmente foram cometidos não justificam o banho de sangue que a Revolução trouxe.
Não estou falando de um ponto de vista sentimental, mas analisando friamente, o espírito bárbaro da Revolução Francesa era, em sua gênese, o espírito da destruição pela destruição — basicamente, a definição de satânico.
Esse evento, que deveria ser lembrado com luto e tristeza (e não celebrado), vitimou muito mais inocentes do que culpados. A sede de sangue foi tão insaciável que os próprios revolucionários acabaram sendo consumidos por ela.
Não sei se uma reforma que garantisse a punição de crimes ou injustiças das classes dominantes poderia ter ocorrido sem o holocausto revolucionário, mas a Revolução Francesa não apenas não resolveu o problema, mas intensificou-o, mantendo as classes dominantes em um estágio subalterno e criando novas classes ainda mais agressivas e impunes.
Toda caricatura revolucionária do Antigo Regime foi cumprida no novo regime, e a cada nova ideia revolucionária surgiram novos crimes, novas vítimas e novas e piores elites, formadas sobre uma pilha de cadáveres da velha elite e do próprio povo oprimido. A modernidade, nesse sentido, tornou-se autofágica e viciada em autodestruição.
Estamos falando, afinal, de um filme baseado em uma obra de um revolucionário francês.
La Sorcière, obra que deu origem ao filme, retrata a vida das bruxas e os julgamentos realizados por bruxaria, e argumenta que a bruxaria medieval foi um ato justo de rebelião das classes mais baixas contra o feudalismo e a Igreja Católica Romana.
Embora seu livro seja considerado bastante impreciso, ele é notável por ser uma das primeiras histórias simpáticas de bruxaria.
Por outro lado, talvez o paradoxo diabólico da Revolução Francesa que o filme apresenta seja real. Talvez subestimamos a consciência da França sobre o que foi a Revolução Francesa, e talvez o país tenha abraçado com lascívia a certeza da destruição.
Talvez minha opinião seja, incrivelmente, a mesma do filme.
A vingança redentora que identifiquei no filme pode não ser nada mais, nada menos que o paradoxo diabólico da revolução — que justifica sua existência pela pilha de pecados cometidos pela nobreza. O filme sugere, com todas as letras, que a Revolução Francesa tem uma origem diabólica. Se o filme tem um tom condenatório a respeito disso é discutível, pois ele é construído para que toda entrega faustiana de Jeanne seja não apenas justificável, mas desejável. Esse é exatamente o papel do diabo: nos seduzir — mas todas as informações que poderiam ser escondidas em uma eventual propaganda revolucionária estão expostas. O diabo no filme mantém sua figura perversa clássica — talvez devêssemos investigar nossas próprias almas para entender por que nos simpatizamos com ele.
Em suma, apesar de seu conteúdo dúbio e controverso, a trilha sonora (fortemente influenciada pelo rock psicodélico) é boa, e tanto os desenhos quanto as animações, que certamente influenciaram The Wall do Pink Floyd de 1982, valem a pena.
Vive la France!