Atena é, sem dúvida, uma das deusas mais fascinantes e conhecidas do panteão grego. Para Mircea Eliade, é a deusa mais importante depois de Hera.
Assim como Artemis, Atena possui características bastante masculinas, embora seja mais feminina que a outra. Ela é uma deusa belicosa, protetora dos palácios fortificados, mas também dos ofícios domésticos femininos, como fiar e tecer.
Sobretudo, Atena é a deusa politécnica, padroeira de todos os ofícios, tanto masculinos quanto femininos. Ela é instrutora de todos os operários. É com ela que o ferreiro aprende a fabricar a relha do arado. Ela também é a domadora dos cavalos, inventora do freio equino e ensina o uso dos carros. Quando o assunto é navegação, domínio governado diretamente por Posídon, Atena intervém nas múltiplas operações técnicas envolvidas na construção de um navio e auxilia o piloto a “levar a bom termo” sua embarcação.
Atena, como bem aponta Camile Paglia, é representada de formas tanto masculinas quanto femininas. Na Ilíada, Atena aparece quatro vezes como um homem e seis vezes em sua forma própria. Na Odisseia, ela surge oito vezes como um homem, duas vezes como uma jovem humana e seis vezes como ela mesma.
A androginia de Atena é entendida por Paglia como símbolo de uma mente engenhosa e adaptável, capaz de inventar, planejar e conspirar.
Atena é a única dos deuses olímpicos que aparentemente não teve mãe.
O Hino Homérico faz uma breve alusão ao fato de que Zeus, seu pai, a gerou de sua própria cabeça, mas é Hesíodo quem narra todo o mito: Zeus engoliu Métis, a deusa da inteligência, quando ela estava grávida, e Atena veio ao mundo saindo do crânio de seu pai.
Camille Paglia sugere que ela chegou ao mundo completamente formada, podendo ter nascido de Métis, se formado dentro de Zeus e nascido novamente de seu pai, cruzando duas fronteiras sexuais bem distintas.
Podemos entender esse nascimento complexo como a consagração simbólica do nascimento da inteligência, que se tornaria a sacralização da engenhosidade, da inventividade, dos ofícios, da técnica e, sobretudo, da inteligibilidade do mundo — normalmente associada ao gênero masculino.
Apesar de ajudar tanto homens quanto mulheres, Atena não escondia sua maior admiração pelo gênero masculino.
Atena admirava heróis como Héracles e Tideu (lá ele), pois representavam a perfeição do gênero masculino em si. Em As Eumênides, de Ésquilo, Atena, em suas próprias palavras, diz: “Em todas as coisas, meu coração inclina-se para o varonil; a exceção é o casamento.”
Assim como Artemis, Atena era virgem, mas, ao contrário desta, não evitava a presença dos homens. Pelo contrário, tornou-se amiga de Ulisses. Ela o admira e o protege em função de suas virtudes, personalidade e sabedoria.