Uma homenagem a Masahisa Fukase e aos artistas amaldiçoados

O fotógrafo Masahisa Fukase registrava diariamente sua esposa da janela de seu apartamento na série “From Window” (1973).

O que parecia ser uma prática bela transformou-se em um pesadelo com o passar do tempo.

Após dez anos de casamento, sua esposa, Yoko, decidiu deixá-lo, afirmando que durante todo esse tempo, “ele só olhava para mim através das lentes de uma câmera” e que as fotos que ele tirava dela eram apenas “representações dele mesmo”.

O interessante é notar que nas fotos é visível a transformação na expressão de Yoko, que passou de algo divertido e espontâneo para uma feição claramente aborrecida.

Masahisa não percebia isso, pois entre seu olhar e o rosto dela havia a maldita lente que estranhamente o cegava – a mesma maldita lente que transformava Masahisa no artista incrível que era.

Essa situação o levou a uma profunda depressão, da qual ele encontrou consolo fotografando corvos. Ele não conseguia não fotografar.

Sua obsessão por fotografar corvos durou dez anos, e seu livro “Ravens” é considerado um dos mais importantes na história da fotografia.

Para Masahisa, os corvos tornaram-se mais do que uma simples obsessão; eles estabeleceram uma conexão pertinente com uma das obras mais importantes de sua vida: “Genji Monogatari”.

No “Genji Monogatari”, o corvo aparece em várias passagens como um símbolo que evoca sentimentos de solidão, tristeza e a transitoriedade da vida. Um exemplo notável é no capítulo “A Grande Tristeza” (ou “A Tristeza de Genji”), onde o canto do corvo reflete o estado emocional de melancolia dos personagens.

Em suma, a relação entre a arte e o artista nem sempre é harmônica; pode ser conflitante e predatória, consumindo e amaldiçoando o sujeito. E, confesso, ver isso acontecer me provoca uma PUTA satisfação sádica, como a de gladiadores se desfazendo violentamente em um Coliseu apenas para a minha tirânica distração.

Graças a Deus eu não tenho talento nenhum e você que são artistas, muito obrigado por existirem e, por vezes, se consumirem para minha satisfação, acredito que exista algum lugar especial para vocês no Paraíso.

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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