Tiamat ou Tiamate é uma deusa das mitologias suméria e babilônica, associada ao oceano (tendo sua contraparte masculina em Apsu, associado à água doce). Na maioria das vezes, Tiamate é descrita como uma serpente marinha ou um dragão, mas nenhum texto foi encontrado que contenha uma associação clara com essas criaturas.
No Enuma Elis (mito de criação babilônico), sua descrição física inclui uma cauda (rabo), coxas, órgãos sexuais, abdômen, tórax, pescoço, cabeça, olhos, narinas, boca e lábios. Internamente, há menção de coração, artérias e sangue.
No entanto, há uma etimologia semita que pode ajudar a explicar por que Tiamate é descrita como uma serpente. No mito fragmentado “Astarte e o Tributo do Mar”, em inglês “Astarte and the Tribute of the Sea”, há uma menção de “Ta-yam-t”, que parece ser uma referência a uma serpente (*Ta – *Tan) marítima (*Yam). Se essa etimologia estiver correta, isso explicaria a conexão entre Tiamate e Lotã (Lo-tan, Leviatã).
Sugere-se que existem duas partes no mito de Tiamat. Na primeira, ela é uma deusa criadora, através de um casamento sagrado entre diferentes águas, criando pacificamente o cosmos através de gerações sucessivas. Na segunda, Tiamat é considerada a personificação monstruosa do caos primordial. Algumas fontes a identificam com imagens de uma serpente marinha ou dragão.
Apesar de o Enuma Elis descrever que Tiamate deu à luz dragões e serpentes, são incluídos entre eles uma grande lista de monstros como homens escorpiões e as sereias. No entanto, nenhum texto diz que eles se parecem com a mãe ou se limitam a criaturas aquáticas.
Tiamat é entendida em algumas tradições como símbolo do caos da criação primordial. Ela também é referida como uma mulher e descrita como “aquela que brilha”.
Inicialmente, quando o mundo cultuava divindades femininas com suas várias faces, Tiamate era adorada como a mãe dos elementos. Tiamate foi responsável pela criação de tudo que existe. Os deuses eram seus filhos, netos e bisnetos.
Mitologia
O deus Ea (também conhecido como Enqui – Eä) acreditava que Apsu, com o caos que haviam gerado, planejava elevar-se e assassinar os deuses mais jovens. Então, Ea o eliminou. Isso provocou a ira de Quingu, filho de Tiamate e Apsu, que relatou o ocorrido a Tiamate. Esta, por sua vez, criou monstros para combater os deuses. Tiamate possuía as Tábuas do Destino e, na batalha crucial, as entregou a Quingu, seu filho e líder dos exércitos.
Os deuses ficaram desesperados, mas Marduque (filho de Anu – Eä) fez uma promessa de ser reverenciado como “Rei dos Deuses”. Armado com flechas do Vento, uma rede, um cajado e sua Lança Invencível, ele enfrentou Tiamate.
Marduque prevaleceu sobre o corpo machucado de Tiamate,
Esmagou sua cabeça com seu cruel cajado,
Cortou as veias por onde corria seu sangue,
E fez o vento do norte soprar por lugares secretos.
Ao cortar Tiamate ao meio, transformou seu tórax no vácuo entre o céu e a terra. Seus olhos lacrimejantes deram origem aos rios Eufrates e Tigre, enquanto sua cauda tornou-se a Via Láctea.
Com a permissão dos outros deuses, Marduque tomou as Tábuas do Destino de Quingu, estabelecendo-se como o líder do Templo Babilônico.
Quingu foi capturado e posteriormente morto, e seu sangue vermelho se misturou à terra vermelha criada a partir do corpo de Tiamate, formando assim o corpo da humanidade, destinada a agir como serva dos deuses mais jovens, os Iguigui.
O mito de Tiamat é uma das primeiras versões registradas da cosmogonia do Caos, a batalha entre um herói e um monstro ctônico ou aquático, serpente ou dragão. Os temas da cosmogonia do Caos em outras mitologias ligadas direta ou indiretamente ao mito de Tiamat incluem o mito hitita de Illuyanka e, na tradição grega, o assassinato de Python por Apolo como uma ação necessária para assumir o controle do Oráculo de Delfos.
Tiamat é também considerada a personificação monstruosa do caos primordial.
O poeta Robert Graves considera a morte de Tiamat por Marduk como evidência para sua hipótese de uma antiga mudança no poder de uma sociedade matriarcal para um patriarcado. A teoria sugere que Tiamat e outras figuras de monstros antigos eram representações de antigas divindades supremas de religiões pacíficas e centradas na mulher que se transformavam em monstros quando violentas. A sua derrota nas mãos de um herói masculino correspondeu à derrubada destas religiões e sociedades matrísticas por religiões dominadas pelos homens. Esta teoria é rejeitada por autores acadêmicos como Lotte Motz, Cynthia Eller e outros.