A figura de Isaías é bastante valorizada, tanto no judaísmo quanto no cristianismo.
No cristianismo, sua importância está no anúncio de “Emanuel” (“Deus conosco”), associado ao anúncio do nascimento de Cristo. Como cristão, confesso ser esse, inclusive, o ponto central da sua vida — ao qual todas as outras coisas orbitam.
No entanto, há outra coisa que caracteriza Isaías. Uma das características que mais o distingue dos outros profetas: sua mensagem se assenta bastante em questões políticas.
Sim, eu sei que tipo de confusão e reducionismo isso causa.
Sempre que falamos de política no contexto da religião, os mais à esquerda, como, por exemplo, a “Teologia da Libertação”, tendem a se fechar nesse assunto, enquanto os mais à direita, reconhecidos como “Tradicionalistas”, tratam o tema com excesso de escrúpulos — reconfigurando algumas passagens bem explícitas sobre justiça social no arcabouço de uma dimensão pretensamente cristológica.
Vamos com calma, ambas as partes.
Uma das coisas que mais caracterizam a abordagem profética de Isaías é que sua mensagem reconhece laços históricos, e os pecados da sociedade são também pecados que clamam aos céus por justiça.
“Que me importam vossos inúmeros sacrifícios?, diz Javé. Estou farto de holocaustos de carneiros e da gordura de bezerros cevados; no sangue dos touros, de cordeiros e de bodes não tenho prazer” (Isaías 1:11). A oração é inútil, pois “as vossas mãos estão cheias de sangue” (1:15). A única devoção verdadeira consiste em praticar a justiça e em fazer o bem: “Aprendei a fazer o bem! Buscai o direito, socorrei o oprimido, fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva” (1:17).
Todos os eventos históricos que se desenrolam, como o ataque assírio contra a Síria e a Palestina, são interpretados como ações de Javé na história, como forma de punição pela infidelidade religiosa agravada pela injustiça social. O rigor dos costumes e a fidelidade no culto não eram, simplesmente, suficientes — as ações concretas de amparo aos mais pobres, aos órfãos e às viúvas deveriam ser observadas como parte de uma obrigação religiosa.