Em todas as religiões havia uma noção relativa do tempo antes mesmo que a própria física confirmasse o fato.
Não estamos falando somente da diferença entre cronos e kairos. Mircea Eliade percebeu que o homem religioso diferencia o tempo entre sagrado e profano, tal como faz com o espaço.
O tempo sagrado para o homem religioso é, no mundo pagão, o tempo primordial e não-histórico, santificado pelos deuses e tornado visível (ou parcialmente visível) no presente, através de festas ou liturgias.
O tempo profano é o hiato entre dois tempos sagrados.
Fiz questão de enfatizar o “pagão” aqui pois, mais uma vez, o Cristianismo se manifesta como uma exceção.
As liturgias cristãs possuem a mesma ideia de tempo sagrado e tempo profano, mas não coloca o tempo sagrado como não-histórico, pelo contrário. O tempo histórico no Cristianismo é santificado na pregação, paixão, morte e ressurreição de Jesus, que está historicamente localizada num tempo especifico e num espaço determinado (Judeia, governo de Poncio Pilatos), ao mesmo tempo que se projeta no transcendente, tirando o “acontecido” na contingência do passado, eternizando-o.