A Esperança no Oriente Médio

No ‘Eclesiastes Babilônico’, encontra-se um texto célebre conhecido como ‘Diálogo sobre a miséria humana’, que parece ser um dos textos religiosos mais pessimistas já criados.

O autor do texto reclama com uma deusa sobre os sacrifícios que tem feito e as respostas que parecem não chegar. Sua angústia é tão profunda que ele chega a invejar os animais.

Ele questiona por que “o altivo leão se alimenta da melhor carne e nunca apresenta oferendas aos deuses”. Reclama que os deuses lhe deram “penúria em vez de riquezas” e que os “maus prevalecem sobre os justos”.

No entanto, é visível que os antigos deuses do Oriente Médio foram cultuados por milênios, sendo a região uma das mais ricas e bem preservadas em registros arqueológicos e objetos de culto.

Aqueles familiarizados com a leitura da Bíblia encontrarão muitas passagens semelhantes. Promessas que parecem não ser cumpridas, o triunfo dos maus sobre os bons, o desespero diante da aparente inutilidade das orações, lamentos por desgraças e injustiças.

O que é impressionante na fé dos homens e mulheres do Oriente Médio, entre babilônios, assírios, egípcios e hebreus, incluindo judeus, islâmicos, zoroastristas e cristãos, é que a fé deles parece prescindir de provas materiais (pelom menos imediatas). Há neles uma exigência sobre-humana de fidelidade e resiliência diante das piores desgraças e da aparente indiferença dos deuses.

O homem moderno pode, com certa razão, notar uma dose de fanatismo, mas eu vejo algo um pouco mais misterioso e até sobrenatural nessas pessoas.

Os textos sapienciais mesopotâmicos e hebreus consideram o sofrimento inevitável, até prometido, mas reforçam a necessidade de manter a esperança até a última gota de existência, mesmo sem motivo aparente.

Talvez seja por isso que o niilismo nunca encontrou terreno fértil nessas regiões, tornando-se abundante na Europa apenas quando esta se afastou da tutela do olhar cristão.

Para o homem do deserto, a derrota e até mesmo a morte são secundárias no amplo plano da eternidade. O sucesso nesta vida é opcional. O maior dos heróis do Oriente Médio, Gilgamesh, foi um herói fracassado. Por que você não seria?

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O podcast é apresentado por Gabriel Vince. Já foi estudante de filosofia, história, programação e jornalismo. Católico, latino e fã de Iron Maiden. Não dá pra ser mais aleatório que isso.

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