Para explicar o fenômeno da consciência, os evolucionistas tentam identificar alguma característica que a tenha favorecido na dinâmica da seleção natural. Roger Penrose, em seu livro A Mente Nova do Imperador, cita um exemplo que pode ser usado nesta situação, referente à relação entre presa e predador. Se um predador for consciente e capaz de “colocar-se no lugar da presa”, sua caça seria mais eficiente.
No entanto, essa projeção não seria nada mais do que a memorização de padrões observáveis. Quando um leão vê uma zebra e sabe exatamente quando e como atacar, ele não calcula “o estado de consciência da zebra” para prever seus movimentos; ele sabe por meio de tentativas e erros repetidos.
Toda essa ideia foi levantada por Penrose para tentar explicar “o que a consciência faz”.
Para Penrose, a consciência não é algo “relacional”. Você não entende um padrão de consciência apenas “observando a natureza”. A consciência, em geral, é algo que reverbera recursivamente no interior.
No universo da recursividade, não podemos entender a consciência como um programa dentro de outro programa.
Um programa de computador que contenha, por exemplo, uma subrotina que descreva outro programa de computador, não confere ao primeiro programa a consciência do segundo. Da mesma forma, uma câmera de vídeo não tem consciência das cenas que registra, nem uma câmera de vídeo apontada para um espelho possui autoconsciência.
Talvez a chave para entender a consciência seja “apofática”, ou seja, definirmos o que é consciência a partir do que não é consciência, ou do que é inconsciente.
Dentro dessa binariedade, há uma questão a ser considerada no campo das decisões: o fato de que uma decisão originalmente consciente pode ser aprendida e, posteriormente, realizada de forma inconsciente no futuro.
Daniel Kahneman, em seu excepcional livro Rápido e Devagar, demonstrou que a maior parte das decisões que tomamos ao longo de nossa vida é inconsciente – o que cria uma perigosa margem de interpretação, levando alguns mais emocionados a concluir que, em nenhum momento de nossas vidas, tomamos uma decisão (o que é uma completa bobagem).
Se estivermos buscando uma utilidade para a consciência, Penrose sugere que ela seja útil nos momentos em que nos deparamos com situações nas quais precisamos formar novos julgamentos e para as quais as regras não são previamente conhecidas – ou seja, quando uma decisão original se faz necessária.
Temos tanto a consciência quanto a inconsciência atuando, pois estamos constantemente diante de situações novas e recorrentes.
Basicamente, toda discussão sobre se a inteligência artificial pode ou não se tornar consciente se molda em torno de questões relacionadas à autonomia e à originalidade. Decisões inconscientes são otimizadas para situações conhecidas, não originais e replicáveis. Decisões conscientes, por sua vez, são atos de criação. Uma inteligência artificial é necessariamente inconsciente, pois é treinada e otimizada com dados disponíveis. Os cenários definidos por esses dados são contrassensuais no universo criativo. A inteligência artificial não pode ser consciente, pois é algorítmica, e a consciência, por definição, é anti-algorítmica.
Para Penrose, a consciência é a formação não-algorítmica de julgamentos.
Em conclusão, o fenômeno da consciência continua sendo um dos maiores mistérios da ciência e da filosofia. As teorias de Penrose sugerem que a consciência não pode ser reduzida a um simples processo algorítmico ou relacional, mas envolve uma complexa formação de julgamentos não-algorítmicos. Isso nos leva a refletir sobre a diferença fundamental entre o que é consciente e o que é inconsciente, bem como o papel crucial da consciência em situações de criação e julgamento original. No contexto da inteligência artificial, fica claro que, apesar de seu poder de otimização e replicação, uma IA nunca poderá atingir a verdadeira consciência, pois ela é, por natureza, algorítmica e incapaz de gerar os tipos de decisões criativas que a consciência humana permite.
Portanto, a consciência permanece uma característica única da experiência humana, essencial para a nossa capacidade de inovar, refletir e adaptar-se ao mundo ao nosso redor.