Alfred Hitchcock não é apenas um mestre que manipula os mecanismos do suspense, mas também um dos diretores corajosamente exploraram os traumas sexuais e suas disformias na mente humana.
 
Existem dois filmes onde ele faz isso muito bem: Psicose (de 1960) e Marnie (de 1964).
 
Psicose é um filme apresenta um personagem que é a externalização de tudo que podemos entender como imaturidade sexual masculina.
 
Norman Bates (Anthony Perkins) é a figura extrema do homem imaturo, que não teve um desenvolvimento afetivo saudável e referências masculinas fortes que o libertassem de sua natural feminilização.
 
Em vez de lutar para se libertar da tirania e do amor materno, Norman Bates mantém viva a ideia de que sua mãe ainda esteja viva e mandando nele.
 
O desejo de ser sempre o “filhinho da mamãe” faz ele carregar o cadáver da velha pelos cômodos do Bates Motel, conversar com a morta e fantasiar que a mesma ainda esteja tutelando e protegendo ele (especialmente das outras mulheres).
 
Seu desejo em manter a mãe por perto também se revela num impulso doentio de incorporá-la. Seu desejo mimético se revela em perversões de identidade sexual como o cross-dressing.
 
Marnie, por sua vez, consegue ser ainda mais sombrio, controverso e complexo que Psycho.
 
O filme é uma exploração afiada da violência sexual.
 
Temos a personagem Marnie Edgar (Tippi Hedren), que é uma cleptomaníaca atormentada por um trauma que envolve estupro, pedofilia, prostituição e assassinato.
 
Assim como Norman, sua maturidade foi prejudicada e sua relação com a sexualidade foi pervertida.
 
A associação de sexo e violência foram tão fortes nela que qualquer sugestão de carnalidade é interpretada como agressão e respondida com pânico.
 
Esse filme é muito mais difícil que Psycho (especialmente para as mulheres, acredito eu) pela sua atmosfera mais sufocante e pela indelicadeza típica do diretor, que nunca fez questão de ser sutil e politicamente correto.
 
Não é um filme para todos, mas recomendo fortemente.

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