Dois de janeiro faz 44 anos de Killers.
Para mim, este foi o disco que lançou os fundamentos da banda e definiu o que seria, de fato, o Iron Maiden nos anos seguintes.
Muitos atribuem o marco mais importante da banda à entrada de Bruce Dickinson, o que possibilitou o desenvolvimento definitivo da identidade do grupo, especialmente no que diz respeito às capacidades vocais.
Antes da entrada de Bruce Dickinson, Steve Harris já elevava o nível de exigência técnica da banda como um todo, e as mudanças vocais em Killers foram um fator chave. Muitos ignoram o quanto o Deep Purple influenciou este disco nesse aspecto específico.
Aliás, considero a transição dos vocais do Iron Maiden entre o álbum de estreia e Killers mais significativa e radical do que a mudança de Killers para The Number of the Beast. Em The Number of the Beast, temos Dickinson tentando reinventar a voz de Paul Di’anno à sua maneira. Ele só iria explorar plenamente sua própria capacidade vocal a partir de Piece of Mind. Até então, ele era, de certa forma, um Paul Di’anno com mais fôlego.
Agora, percebam a diferença de Paul Di’anno neste disco em comparação ao anterior. Aqui, ele utiliza muito mais drives e agudos, tornando-se uma espécie de espelho distorcido de Ian Gillan – o que torna Killers um disco especialmente interessante e único na carreira da banda. Segundo o próprio Di’anno, essa mudança o estressou bastante.
Di’anno, ao não conseguir sustentar os mesmos agudos que Gillan (ou Dickinson), apela para finalizações em falsetes raivosos (isso é evidente em Killers, Purgatory e, principalmente, em Drifter). O que, para muitos, pode soar estranho, para mim é maravilhoso – esse disco só alcança cinco estrelas, em minha opinião, por causa da personalidade única que Di’anno imprime nele, contornando suas dificuldades com a pura força do ódio.
Na parte instrumental, temos um Iron Maiden mais básico do que no disco anterior, mas ainda extremamente competente nas dinâmicas – especialmente naquelas que se desenvolveriam melhor na relação entre Adrian Smith e Dave Murray, além da excelente conexão entre Steve Harris e Clive Burr, evidenciada em faixas como Genghis Khan. O álbum apresenta muitos riffs rápidos e diretos, intercalados por ideias melódicas surpreendentemente delicadas (como em Murders in the Rue Morgue e Prodigal Son, possivelmente minha faixa favorita do disco, ao lado de Killers).
Em suma, Killers é uma mistura crua e maravilhosa de Judas Priest, Deep Purple, Genesis e Supertramp. Diferente do álbum de estreia e de tudo que veio depois.