Ai Kamano é uma cantora e compositora nascida em Nagano, Japão.

Você pode não conhecer Ai Kamano e talvez nem saiba onde fica Nagano. Isso é compreensível; eu também não conhecia até recentemente. Sempre que descubro um artista novo, acabo pesquisando um pouco de sua história, de onde vem e o que o inspira. Obviamente, artistas muitos obscuros e que não fazem muita questão de serem conhecidos, como Ai Kamano, normalmente não deixam muitos rastros de si mesmos — o que soa, para mim, salutar.

Nagano é uma região famosa pelas montanhas Yatsugatake. Essas montanhas são cercadas por lendas interessantes. Uma delas conta que o monte Yatsugatake já foi mais alto que o Monte Fuji, mas foi derrubada por Konohanasakuya-hime, a deusa do Monte Fuji, que o fez por ciúmes, deixando a impressionante coleção de picos que conhecemos hoje, a cadeia de montanhas atual que compõe o cenário de Nagano.

Ai Kamano vem desta região. Esse ambiente pastoril parece ser uma fonte constante de inspiração para Ai Kamano, que, pelo que li de seus comentadores, sempre explora a temática da natureza em seus trabalhos.

Seu álbum de estreia, Land, parece evidenciar isso logo na capa, onde Ai Kamano aparece de pé, quase como um anjo, em frente a uma floresta iluminada de maneira etérea.

Em seu segundo álbum, Humans, que iremos abordar com mais ênfase, a capa apresenta uma composição fotográfica intrigante, onde Ai Kamano, mais perto, está com galhos emaranhados presos à lateral de sua cabeça, amarrados com o que parecem ser arames. Essa imagem, para mim, reflete perfeitamente a sonoridade do disco — algo que busca um equilíbrio entre a natureza, a condição humana e elementos sintéticos.

Ai Kamano é uma artista com formação acadêmica, muito elogiada pela sua maneira de cantar e pela sua criatividade como compositora. Seu estilo vocal combina técnicas de ópera e canto lírico, e sua música transita de maneira eclética por gêneros diversos como Math Pop, Minimalismo, Rock Experimental, Rock Progressivo e Música Clássica Moderna. No entanto, sua música não se limita a esses estilos; ela vagueia por eles sem se prender a nenhum.

Em Humans, as faixas alternam sequências irregulares de cromatismo, mudanças de tempo, métricas não convencionais e colagens vocais líricas impressionantes. Sim, colagens. Ai Kamano também é produtora e utiliza recursos de pós-produção e edição de forma artística, desmontando e reconstruindo sua própria voz em conformidade com sua necessidade de expressão. A manipulação do som não é feita como uma fuga da técnica (que ela tem, e muito) ou da organicidade, mas sim como uma abordagem consciente e temática.

Ai Kamano flutua entre o folk (a natureza), o erudito (a humanidade) e a música sintética (o pós-humano) com uma beleza peculiar. Gostei de todas as faixas deste disco, mas, se eu tivesse que escolher uma favorita, certamente escolheria a terceira, “Rainer Maria”.

Enfim, fica a dica.

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